Aging in place: envelhecendo em casa e na comunidade

Aging in place: envelhecendo em casa e na comunidade

Aging in place é a capacidade de viver em casa e comunidade com segurança, independência e conforto, independentemente da idade, renda ou nível de habilidade.


Você já parou para pensar qual seria o lugar ideal para envelhecer? Provavelmente não, mas tenho várias amigas e amigos que começam a pensar nessa questão, definindo antecipadamente o modo de morar quando tiverem mais idade e as fragilidades pesarem mais que as autonomias e independências. Grande parte da população prefere envelhecer no lugar onde vive, e onde estão suas principais referências, como amizades, serviços, supermercados, farmácias, igreja que frequenta, afinal, envelhecer onde se vive permite uma contínua participação social, além de ajudar na manutenção da independência e autonomia.

Em Portugal, apesar de a larguíssima maioria dos portugueses envelhecer nas suas casas, as medidas de promoção de envelhecimento em casa e na comunidade – ageing in place – continuam a ter uma fraca visibilidade pública quando comparadas com a atenção que se atribui a soluções institucionais, nomeadamente, ao papel das estruturas residenciais na proteção e promoção da vida dos mais velhos.

É com essa frase que o guia Ageing in Place — envelhecimento em casa e na comunidade -Modelos e estratégias centrados na autonomia, participação social e promoção do bem-estar das pessoas idosas, publicado pela Fundação Gulbenkian (Portugal) tem início, e do qual já foi tema de matéria no Portal do Envelhecimento. Podemos dizer que a realidade brasileira não é diferente da dos portugueses. Aqui também a grande maioria envelhece no lugar onde vive, mas, infelizmente, e na maioria das vezes, sem o suporte necessário para garantir um bem-estar nem qualidade de vida.

O guia traz alguns dados da Eurostat, de 2011, referentes aos então 28 países da União Europeia, assinalando que aproximadamente 9 em cada 10 pessoas com 65 ou mais anos residentes no Reino Unido, França, Alemanha, França e Finlândia, “viviam de forma independente nas suas próprias casas. Na Holanda, essa percentagem era ainda maior (95%). Por outro lado, nos países do sul e leste da Europa, como Chipre, Espanha, Portugal e Estônia, esse valor era mais baixo”.

A pesquisa da Eurostat encontrou também, na ocasião, outro tipo de soluções residenciais na Romênia, Polônia e Estados Bálticos: pessoas idosas vivendo junto de filhos e familiares, mas rara nos países nórdicos e no Reino Unido, além de pessoas residentes em instituições de longa permanência.

O artigo científico Sensor Technology to Support Aging in Place, de Marilyn J. Rantz e colaboradores confirma o desejo do lugar ideal para se envelhecer ao assinalar que “à medida que as pessoas envelhecem, elas querem permanecer o mais ativas e independentes possível pelo maior tempo possível. Querem envelhecer em casa, não em instituições como asilos”. O artigo cita uma pesquisa da AARP – Associação Americana dos Aposentados (entidade que congrega cerca de 40 milhões de sócios nos EUA, a maior do país, com escritórios nos 50 estados dos EUA, no Distrito de Columbia, em Puerto Rico e nas Ilhas Virgens dos Estados Unidos) de 2010, em que 88% das pessoas com mais de 65 anos desejam permanecer em suas residências o maior tempo possível.  

Voltando ao Brasil, tanto as parcas políticas públicas existentes sobre moradia quanto o investimento feito pelo mercado têm focado em modelos institucionais de modos de morar, realocando as pessoas à medida que a saúde e capacidade funcional delas diminuem. Como indica o Guia, o conceito aging in place (grafia utilizada principalmente nos Estados Unidos e adotada aqui no Brasil) ou ageing in place (grafia utilizada no Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia) assinala que:

Opondo-se a uma visão convencional de assistência à população idosa por via da resposta institucional, a valorização de respostas de ageing in place significa responder às necessidades de assistência a partir do contexto onde a pessoa vive, procurando respostas articuladas através de uma integração progressivamente mais alargada de serviços – de âmbito local, regional e nacional. Na prática, isto significa não retirar a pessoa do local onde ela vive para lhe proporcionar o que ela necessita, mas criar aí condições para que as suas necessidades sejam satisfeitas.

O que vem a ser aging in place?

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De acordo com Rantz e colaboradores, aging in place é a capacidade de viver em casa e comunidade com segurança, independência e conforto, independentemente da idade, renda ou nível de habilidade. O objetivo do aging in place é permitir, então, que as pessoas mais velhas vivam no ambiente de sua escolha com serviços de apoio até o final da vida, não forçando a realocação à medida que as necessidades de cuidados delas mudam. Ou seja, o aging in place coordena os serviços necessários para que a pessoa idosa fique em casa.

De acordo com a OMS – Organização Mundial de Saúde, 2015, aging in place significa viver em casa e na comunidade, com segurança e de forma independente, à medida que se envelhece. Ou seja, o conceito traduz o desejo de envelhecer num ambiente familiar que se adapte às modificações impostas pelo processo de envelhecimento. Segundo a OMS, a compreensão deste conceito implica a necessidade de adaptação do ambiente físico e social à vida quotidiana ao longo do tempo, até porque à medida que se envelhece, passamos mais tempo em casa e nas suas cercanias, fato que reforça a relação com o ambiente que nos rodeia. Para isso a OMS identificou cinco principais áreas de intervenção no processo de aging in place: pessoas, lugares, produtos, serviços personalizados, políticas de apoio social.

Referências
Marek K, Rantz MJ. Aging in place: a new model for long-term care. Enfermeiras Admin Q. 2000; 24 (3):1–11.

Perez, FR, Fernandez-Mayoralas, G, Rivera, FRP, Abuin, J.MR. Ageing in Place: Predictors of the Residential Satisfaction of Elderly. Social Indicators Research. Vol. 54, No. 2 (May, 2001), pp. 173-208: http://ageinplace.com/aging-in-place-basics/what-is-aging-in-place/

Fonseca, AM and Silva, MI. Boas práticas de Ageing in Place. Fundação Calouste Gulbenkian / Faculdade de Educação e Psicologia — Universidade Católica Portuguesa, 2018. https://gulbenkian.pt/publication/ageing-in-place-estudo/

Foto de Kampus Production/Pexels


Beltrina Côrte

Jornalista, Especialização e Mestrado em Planejamento e Administração do Desenvolvimento Regional, Doutorado e Pós.doc em Ciências da Comunicação pela USP. Estudiosa do Envelhecimento e Longevidade desde 2000. É docente da PUC-SP. Coordena o grupo de pesquisa Longevidade, Envelhecimento e Comunicação, e é pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE), ambos da PUC-SP. CEO do Portal do Envelhecimento, Portal Edições e Espaço Longeviver. Integrou o banco de avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – Basis/Inep/MEC até 2018. Integra a Rede Latinoamericana de Psicogerontologia (REDIP). E-mail: [email protected]

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Jornalista, Especialização e Mestrado em Planejamento e Administração do Desenvolvimento Regional, Doutorado e Pós.doc em Ciências da Comunicação pela USP. Estudiosa do Envelhecimento e Longevidade desde 2000. É docente da PUC-SP. Coordena o grupo de pesquisa Longevidade, Envelhecimento e Comunicação, e é pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE), ambos da PUC-SP. CEO do Portal do Envelhecimento, Portal Edições e Espaço Longeviver. Integrou o banco de avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – Basis/Inep/MEC até 2018. Integra a Rede Latinoamericana de Psicogerontologia (REDIP). E-mail: [email protected]

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