“Tal Pai, Tal Filha” reflete sobre o Alzheimer precoce

Filme trata o Alzheimer com leveza e mostra como ele pode ocorrer de forma precoce e ninguém se dar conta.


Uma comédia leve, despretensiosa, com pequenos dramas que criam momentos de tensão logo superados. Lágrimas nem chegam a brotar, o riso se sobrepõe e o filme segue revezando encontros e desencontros. E o Alzheimer precoce, o que tem a ver com isso? No terço final do filme da Netflix, “Tal Pai, Tal Filha” com direção de Lauren Miller Rogen, ele mostrará a cara.

Para entender o contexto, Rachel (Kristen Bell) é largada no altar pelo noivo. Para completar o drama, seu pai (Harry), que a abandonou quando ela tinha apenas cinco anos, aparece sem ser convidado e presencia a cena.

Rachel é uma workaholic e é isto que leva o rapaz a desistir dela, pois mesmo na hora de casar, não consegue se desligar do escritório e carrega o celular dentro do buquê e o deixa cair no altar.

Como toda comédia, fatos improváveis acontecem, como o que leva Rachel a embarcar para a lua de mel ao lado do pai.

As imagens são belíssimas. Desde as iniciais, no Central Park, local do casório, até o Caribe, destino do cruzeiro (Jamaica).

Como todo cruzeiro, não faltam jogos e atrações nas quais Rachel e seu pai se envolvem e aos poucos se reaproximam, superam as diferenças, esclarecem e compreendem os mil motivos de seus desencontros e desentendimentos.

O filme caminha para seu terço final quando Rachel, sempre com um pé atrás em relação ao pai, recebe uma ligação do escritório que coloca Harry na berlinda. Rachel acha que desmascarou o pai e o acusa de estar atrás dela por causa do seu dinheiro. Aqui surge o Alzheimer precoce no qual vamos focar. Não é spoiler, pois se trata de um gancho lançado pela roteirista para amarrar a trama e, como todo gancho, ninguém dá a mínima.

Pois bem, quando parece pela milésima vez que Rachel e o pai não nasceram um para o outro, que vivem melhor cada qual no seu quadrado, o pai revela a verdade, porque foi parar em Nova York e porque apareceu no casório.

Conta então que seu sócio e amigo de longa data, Gabe, que carregava a empresa nas costas, homem correto, organizado, detalhista, trabalhador, de repente começa a cometer erros improváveis, erros que levam a empresa para o ralo. Gabe foi diagnosticado com Alzheimer precoce e Harry gasta todas as suas economias bancando uma equipe multidisciplinar nos cuidados com aquele que por décadas foi sua única família.

Sim, Harry está falido e foi a Nova York levando as cinzas do amigo para espalhá-las por lá e topou com o anúncio do casamento da filha e resolveu aproveitar para rever a filha de longe, sem nenhuma intenção de buscar uma reaproximação, mas…

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Sobre o Alzheimer precoce

Gabe foi diagnosticado aos 52 anos e, de acordo com Harry, morreu poucos anos depois. Podemos deduzir que o Alzheimer já estava presente antes dos 50 anos, o que é assustador. E, também, que quando ele é precoce, é devastador, aniquila a pessoa em poucos anos, tempo suficiente para Harry justificar sua presença em Nova York e no casório da filha. Tudo isto está no filme. Logo vem as desculpas e o riso. Harry mostra a urna com as cinzas, que acabou não jogando no Central Park, e que foi uma das motivações para ele embarcar, pois deduziu que jogá-las no mar do Caribe será melhor para a memória do seu amigo querido. E assim o faz com todo respeito.

Como identificar o Alzheimer precoce? É quase impossível porque não estamos preparados para identificá-lo tão cedo. Mas com certeza, se a pessoa estiver diante de um negócio, como Gabe, ela vai começar a dar claros sinais que não está bem, cometendo erros banais que resultarão em pequenos e grandes prejuízos que fatalmente quebrará a empresa se não for observado a tempo.

No dia a dia ela mudará seu comportamento, quem convive de perto tem mais chance de perceber as mudanças, mas relacionar com Alzheimer é que é o x da questão. O mais fácil é ser incompreendido. Não presta mais atenção ou presta atenção demais, sem retrucar como antes, sem argumentar, aceita calado, faz tudo o que mandam ou não faz, não compreende mais as horas, se distrai com bobagens, não diz para onde vai e quando volta não sabe dizer para onde foi, mas continua a encontrar palavras, poucas e curtas, que dá a entender que está interagindo, mas está cada vez mais distante, perdido, e nisso vão-se dias, semanas, meses e anos. O start pode acontecer entre 45 e 50 anos e só se tornar problema depois dos 50 e daí para a frente ninguém segura. Em quatro ou cinco anos a pessoa já esqueceu seu lugar no mundo. Lugar de pai, de irmão, de filho, de sócio…

A sorte de Rachel é que seu pai era o outro sócio, ela soube perceber isso e o filme termina bem. Vale a pena. O Alzheimer precoce, neste caso, é só um detalhe, um gancho, que com certeza Rachel não quer na sua vida.

https://www.youtube.com/watch?v=KlPd6-M3jKI

Mário Lucena

Jornalista, bacharel em Psicologia e editor da Portal Edições, editora do Portal do Envelhecimento. Conheça os livros editados por Mário Lucena.

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