Pode sexo sem amor?

Pode sexo sem amor?

“Eu não gosto muito dele, mas o sexo é bom.”

Em diversas palestras em que participei para falar sobre sexualidade e envelhecimento, um dos momentos mais ricos é quando finalizamos a atividade e algumas pessoas me procuram para desabafar ou para comentar reflexões privadas e particulares que tiveram.

E eis que recentemente ouvi esta mensagem da boca de uma mulher de 74 anos, que me surpreendeu e trouxe um novo patamar para nossas discussões sobre a expressão da sexualidade.

Pode sexo sem amor?

E para responder a essa pergunta eu respondo: “Você quem irá me dizer!”

Digo isso porque a vivência dos afetos, dos prazeres e das potencialidades são nada mais do que questões extremamente particulares e individuais.  Ainda mais quando falamos de sexo e sexualidade.

Claro que é muito bom e louvável que a liberdade sexual chegue à mulher mais velha, com a informação de que o seu corpo é (e deveria ser) um local no qual ela detém os poderes de decisão. Onde, como, quando e com quem deveriam ser perguntas respondidas apenas por aquela que se questionar individualmente.

Porém, reforço que a liberdade não pode se transformar numa opressão ou em outra regra.  Há pessoas que vão ser muito satisfeitas com um sexo sem amor, mas isso não pode ser uma obrigação para todos. Alguns meios de comunicação querem trazer repercussões de pessoas idosas pulando de paraquedas, correndo maratonas ou em relacionamentos não-monogâmicos como se fossem exemplos a serem seguidos.

Entretanto, eu como uma pessoa com medo de altura e com dores nos pés, não gostaria de pular de um avião ou de completar uma maratona para ser considerado um modelo de longevidade. E essa mesma analogia se aplica ao sexo com ou sem amor. Trata-se de um exercício muito particular, embasado no repertório e nas vontades de cada um, reafirmando que cada pessoa idosa é única e uma potência em sua singularidade.

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Me lembro que para a senhora da palestra em questão eu respondi com muito respeito e empatia: “Obrigado por dividir comigo sua experiência. Fico feliz por você ouvir suas vontades e desejos, que deveriam ser os grandes motores de nossas ações”.

Por fim, afetado por essa interação lembrei da querida Rita Lee e ouvi no caminho de volta para casa:

“Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora”.

Serviço
Podcast EnvelheSER caxt: https://www.youtube.com/@envelhesercaxt

Fotos de cottonbro studio/pexels


Milton Crenitte

Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

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Milton Crenitte

Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

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