Passeio no cemitério?

Passeio no cemitério?

O cemitério não precisa ser só um lugar de dor e luto. Ele pode ser um lugar onde podemos saber um pouco mais da história da cidade

 Gabriele Koga (*)


Você já pensou em visitar um cemitério e aprender sobre história e geologia com os jazigos e túmulos de personagens renomados, como Armando de Salles Oliveira, fundador da USP, e Ramos de Azevedo, arquiteto responsável pela construção da capital paulista? Essa é uma das atividades desenvolvidas por um grupo de pesquisadores do Instituto de Geociências (IGc) da USP. O propósito é realizar a inclusão de atividades educativas e turísticas que promovam a sustentabilidade e fortalecer práticas de Geoconservação no Brasil. Eles fazem parte do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo (GeoHereditas), onde os membros planejam e produzem roteiros com enfoque nos patrimônios natural, geológico e construído.

É nesse contexto que o geoturismo cemiterial — já em expansão nos Estados Unidos e na Europa — ganha destaque dentre as propostas do GeoHereditas, composto por conhecimentos das áreas de Geociências, Biociências, Ciências Sociais e Turismo. O objetivo é evidenciar a arte tumular e a presença de rochas ornamentais, as quais compõem complexas construções mortuárias em diversos cemitérios brasileiros. Os roteiros promovidos pelo núcleo são divulgados ao público e também integram atividades relacionadas ao turismo geológico urbano em São Paulo.

“Os cemitérios possuem uma quantidade muito grande de rochas ornamentais e, às vezes, por exemplo, há tanto pedras nacionais quanto estrangeiras. Assim, você tem condições de fazer um relacionamento entre história, sociologia e geociências. Tem todo um contexto ali associado com a ideia desses tours”, conta Eliane Del Lama, professora do IGc que coordena as atividades do GeoHereditas, ao falar sobre seus interesses pela preservação do patrimônio histórico, geoconservação e petrografia.

Um dos principais destinos desse tipo de geoturismo é o Cemitério da Consolação (SP), fundado em 1858 e conhecido como um museu a céu aberto por ser uma das principais referências artísticas do Brasil no setor. O local inclui esculturas de artistas renomados — como Victor Brecheret, Nicola Rollo e Luigi Brizzolara —, além de túmulos de personalidades notáveis, como Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral, Ramos de Azevedo, Mário e Oswald de Andrade.

Para Eliane, a escolha do cemitério para o roteiro geoturístico se deu devido à variedade de pedras apresentadas — que mostram os períodos de uso mais intenso de determinados tipos em função do contexto econômico e cultural da capital paulista — e por ser o mais antigo da cidade. “A ideia da escolha é porque esse é um cemitério considerado histórico. Hoje, a gente tem o conceito de cemitério jardim: onde você tem só aquela plaquinha de pedra no chão. Então, é um motivo para a gente preservar um local que, desse jeito, não vai existir mais”, complementa.

A utilização das rochas é evidente nas funções estrutural e ornamental. Desde o revestimento dos túmulos – principalmente dos que apresentam capela incorporada – até as estatutárias, com vasos de flores e imagens que demonstram distintos aspectos emocionais. É comum encontrar vários litotipos em um mesmo jazigo. “No Cemitério da Consolação, você entra e há o portal feito do Granito Itaquera, a nossa pedra paulistana, pelo Ramos de Azevedo. Existe uma variedade grande. O mausoléu dos Matarazzo é o maior da América Latina e lá existem pedras como o Rosso Verona, uma pedra italiana, e pedras nacionais”, conta.

Geoturismo cemiterial: uma nova forma de aprender

Não perca nenhuma notícia!

Receba cada matéria diretamente no seu e-mail assinando a newsletter diária!

Eliane destaca a importância de desenvolver atividades voltadas ao geoturismo cemiterial. “O cemitério não precisa ser só um lugar de dor e luto. Ele pode ser um lugar onde podemos saber um pouco mais da história da cidade, né? O fato de você ir lá para ver os mausoléus tem a ver com o contexto social da época. Um museu a céu aberto te permite entender a história da cidade por meio do cemitério. Em termos de geociências, existe a possibilidade de visualizar pedras de diferentes nacionalidades e cores”, explica.

Serviço
O programa Memória & Vida, do Serviço Funerário do Município de São Paulo, propõe visitas guiadas à necrópole em dias e horários fixos para atender a toda população. As visitas acontecem às sextas-feiras, às 14 horas, em grupos previamente agendados pelo e-mail:  [email protected]. Com a publicação de um guia de visitação (Serviço Funerário de São Paulo, 2010), os interessados também podem explorar o local sem a necessidade de agendamento prévio da visita.  Mais informações podem ser obtidas no site da Prefeitura. Para acompanhar os roteiros e atividades do GeoHereditas acesse o site https://geohereditas.igc.usp.br/ ou as redes sociais Facebook e Instagram.

Leia a matéria na íntegra no Jornal da USP.

Foto destaque: O Sepultamento, de Victor Brecheret, obra localizada no Cemitério da Consolação. Reprodução/Flickr ARTExplorer


https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/produto/centro-dia/

Portal do Envelhecimento

Compartilhe:

Avatar do Autor

Portal do Envelhecimento

Portal do Envelhecimento escreveu 4232 posts

Veja todos os posts de Portal do Envelhecimento
Comentários

Os comentários dos leitores não refletem a opinião do Portal do Envelhecimento e Longeviver.

LinkedIn
Share
WhatsApp
Follow by Email
RSS