Aging in Place depende não somente da sustentabilidade financeira dos moradores, mas também da social, onde a comunidade oferece suporte para o dia a dia dos vizinhos.
Quando as questões sobre moradia na velhice são abordadas, fala-se sobre alternativas existentes no Brasil e experiências interessantes em outros países, mas sempre fica evidente a importância de envelhecer no lugar – Aging in Place, considerando a manutenção de vínculos interpessoais e de elementos significativos da história pessoal de cada sujeito. Objetos podem ser transferidos para outros imóveis, mas o relacionamento que representa a familiaridade depende do nível de participação social no entorno próximo, desde o reconhecimento de vizinhos que cruzam esporadicamente e que podem ser mais próximos pelo simples cumprimento diário, até pessoas que trabalham no comércio mais frequentado. Também há outros atores sociais que se tornam presentes quando se destacam por outras atividades no bairro, nem sempre desejados.
Em A Vida de Togo (Uruguai, 2022), o protagonista é um guardador de carros que auxilia na organização do estacionamento de um supermercado e se torna uma figura em quem os vizinhos confiam, mesmo sendo morador na praça da quadra onde trabalha.
Em A Vida de Togo, traficantes estão tomando as ruas de Montevidéu e extorquindo os trabalhadores que cuidam dos carros da rua, para que trabalhem para eles. Porém, um deles, Togo, resistirá até as últimas consequências para proteger seu território e seus vizinhos da violência. Defendendo seu ganha-pão honesto, ele tentará mobilizar forças para que os guardadores de carro não sejam obrigados a participar do esquema de venda de drogas.
Ele trabalha com um amigo cadeirante, que se afasta em função de ameaças dos traficantes, e com uma adolescente rebelde, que resolve se estabelecer com ele, mesmo não tendo necessidade de trabalhar. Togo lava carros e até entrega chaves de uma vizinha que se muda e deixa o ex-marido, recebendo também a atenção de outras moradoras que percebem a presença de pessoas indesejáveis, num sinal de proteção que demonstra o vínculo de confiança estabelecido na quadra. Os colaboradores do supermercado provêm refeições e atenção, definindo seu papel como importante para aquele grupo de pessoas da vizinhança.
A novaiorquina Jane Jacobs, em Morte e Vida das Grandes Cidades, já preconizava na década de 1960 a decadência das vizinhanças solidárias, que permitiam mais atividades e interações sociais. Segundo ela, o controle social exercido pelos vizinhos ao perceberem a presença de estranhos acionava um alerta sobre eventuais perigos e, portanto, a segurança era estabelecida quanto mais houvesse pessoas na rua. Aging in Place depende não somente da sustentabilidade financeira dos moradores, mas também da social, onde a comunidade oferece suporte para o dia a dia dos vizinhos, em especial quando são pessoas idosas. Portanto, não é necessariamente permanecer no mesmo imóvel, mas manter os vínculos estabelecidos com a convivência e a confiança de pertencer àquele lugar. Enquanto houver autonomia, preserva-se a independência, mas sabendo que é possível contar com quem estiver por perto.
Arquiteta e professora na graduação e no mestrado da Gerontologia da USP, tem mestrado e doutorado pela FAU USP, com pós-doutorado pela Universidade de Lisboa. Pesquisa sobre alternativas de moradia na velhice e acredita que novos modelos surgirão pelas mãos de profissionais que estudam a fundo as questões da Gerontologia Ambiental. https://sermodular.com.br/. E-mal: [email protected]
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