O envelhecimento das cadeiras e a masculinidade frágil

O envelhecimento das cadeiras e a masculinidade frágil

O peso do machismo e da masculinidade frágil pode ser o sofrimento de muitos homens idosos.


Recentemente todos nós tivemos a infeliz visão de uma das cenas relacionadas à nossa política atual. De um lado um homem idoso, do outro um jovem suposto “coach” e no meio uma cadeira (da qual não sabemos a idade)! Claro que quando esse texto é escrito já se discutiu muito e até desfechos a esse caso já ocorreram, mas o que poucos comentaram é o porquê.

Vamos lá, porque esse pode ser o sofrimento de muitos homens que estão com 67 anos ou mais: o peso do machismo e da masculinidade frágil! Isso porque nessa nossa sociedade que é machista, misógina, lgbtfóbica, capacitista, sorofóbica, racista e idadista (não necessariamente nessa ordem), envelhecer pode ser um processo carregado de muitos dilemas principalmente psicossociais.

Convido você, cara leitora e leitor a realizar esse exercício: o que meninos aprenderam que seria o ideal para um homem na nossa sociedade? Talvez a imagem de ser viril, provedor, forte, produtivo e corajoso possa vir à sua mente, algo que também apareceu na minha.

Algo que já é muito tóxico aos 15, 25 ou 35 anos, chega a desmoronar os alicerces da psique aos 60 ou 70, quando alguns sinais como uma fraqueza muscular, a redução da virilidade ou até mesmo a ereção não satisfatória começam a aparecer. E aquilo que na juventude fazia com que esse protótipo de “macho” se envolvesse em brigas, fosse violento, não demonstrasse fraquezas (ou até seus sentimentos), leva-o na velhice à perda desse “Eu”, o que desmorona em depressão, suicídio, sentimento de menos-valia e em alguns casos de “explosão” quando confrontado com a falta de si mesmo.

Não quero comparar o que mulheres sofrem com o machismo estrutural, que é extremamente mais perverso, mas nessa dinâmica, todos homens também são vítimas ao perpetuarem e não refletirem sobre o machismo que sustenta as suas estruturas.

E são vários os exemplos reais na vida dos idosos, como a expectativa de vida menor do que as mulheres ou também quando não querem cuidar da própria saúde ou assumirem que apresentam fraquezas, angústias e falhas e frustrações. Até mesmo se abalam quando o assunto com o médico possa ser a próstata e a castração mental que sentem ao imaginarem o famoso toque retal.

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Por isso, em mais um exercício que devemos fazer, se perguntados por alguém se “não somos homens para realizar um ato”, devemos, ao invés de arremessar cadeiras, ficar de pé nelas e em alto e bom som dizer: Não, não somos homens. O que é ser homem? Se a resposta for brigar ou reproduzir violências e misoginia, então eu não sou homem.

Assim, talvez um futuro melhor para homens e mulheres, jovens e idosos, cis e trans, LGBTs ou não, seja caminhar contra o machismo do qual ninguém está à salvo.

E você, o que deseja ser?

Foto de Jorge Acre/pexels.


congresso internacional
Milton Crenitte

Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

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Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

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