O aparecimento de Alzheimer em pessoas com Síndrome de Down

O aparecimento de Alzheimer em pessoas  com Síndrome de Down

Síndrome de Down acelera processo de envelhecimento e aumenta chances de Alzheimer. As duas doenças estão ligadas ao cromossomo 21.

Por Julia Estanislau (*)


A Síndrome de Down (SD) é um distúrbio genético causado pela trissomia do cromossomo 21. É caracterizada por um atraso no desenvolvimento motor e intelectual e por características físicas similares. A síndrome pode ocasionar problemas de saúde, como a disfunção da tireoide, diabetes, espasmos epiléticos, problemas cardíacos, problemas de audição e problemas de visão. 

A proteína precursora amiloide se localiza no cromossomo 21, que é o responsável pela produção da proteína beta-amiloide, que pode se acumular no cérebro formando placas. Pessoas com a síndrome têm um gene a mais desse cromossomo, o que significa que elas produzem ainda mais essa proteína.

O aparecimento de Alzheimer em pessoas com SD está associado à expressão do gene da proteína precursora amiloide, que forma as placas de beta-amiloide. Além disso, há a formação de emaranhados neurofibrilares, patologia cerebrovascular, patologia de substância branca, dano oxidativo, neuroinflamação e perda de neurônios. O tanto de proteína amiloide visto em pessoas com SD se assemelha àquelas que têm a forma hereditária e precoce do Alzheimer. Estudos apontam que o desenvolvimento da doença degenerativa acontece em cerca de 70% dos casos de Síndrome de Down e, diferentemente de pessoas sem a síndrome, a mortalidade chega a ser cinco vezes maior nessa população.

Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo que resulta na perda de memória e deterioração cognitiva, impactando diretamente em atividades cotidianas e alterações de personalidade. A doença é caracterizada pela perda progressiva de neurônios.

“A Doença de Alzheimer está associada a alterações em duas proteínas: uma que a gente chama de beta-amiloide e uma que a gente chama de proteína Tau. Existe uma alteração, um acúmulo anormal dessas proteínas, que levam à morte dos neurônios e à degeneração do sistema nervoso central”, explica Jerusa Smid, neurologista do Ambulatório de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. 

Mesmo que as duas condições sejam afetadas pela trissomia do gene 21, não é apenas esse fator que desencadeia o Alzheimer, e não quer dizer que seja algo certeiro. Fatores como o envelhecimento, estilo de vida e a predisposição para a doença também são responsáveis por isso.  A médica ainda pontua que as formas genéticas da doença são muito raras e que ainda não há uma explicação do porquê a doença aparece: “A gente não sabe porque uma pessoa vai ter Alzheimer e outra pessoa não, ou por que certas pessoas vão desenvolver essa alteração nas proteínas e outras não”.

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Envelhecimento precoce

Pessoas com SD envelhecem precocemente, o que leva à senescência dos órgãos e piora das características da síndrome. Com esse envelhecimento, é notado também manifestações da doença de Alzheimer. A perda de memória já foi notada em indivíduos com apenas 25 anos de idade. As maiores mudanças em pessoas com SD ao envelhecer são associadas a processos degenerativos. 

As mudanças começam a ocorrer já na terceira década de vida, quando a concentração dos níveis de plasma dos peptídeos amiloides aumentam. Na quarta década, isso piora e, na quinta década, ocorre a atrofia do hipocampo e mudanças na cognição.

“Esses pacientes têm uma cópia a mais desse gene e a gente entende que está aí a associação com a maior chance dos pacientes com Síndrome de Down desenvolverem doença de Alzheimer e ainda em uma idade mais precoce do que as formas esporádicas. A gente acredita porque existe uma cópia a mais desse gene, que é o gene precursor da proteína do amiloide”, diz a neurologista.

O Alzheimer, nesse grupo, pode sim ser ocasionado pelo aumento da produção de beta-amiloide. Porém, está muito conectado com o estilo de vida que uma pessoa leva. Como explica Jerusa, “se você pensar na doença e nas formas e métodos de prevenção, todas associadas a estilo de vida, então fazer atividade física aeróbica regular pelo menos 150 minutos por semana, ter uma dieta saudável, cuidar de doenças relacionadas a risco cardiovascular, como pressão alta, diabetes e colesterol, e manter o cérebro ativo. Isso é importante para prevenção: manter-se fisicamente saudável, então cuidar da sua saúde mental, tratar depressão, tratar ansiedade.”

(*) Julia Estanislau escreve para o Jornal da USP no Ar 
Foto destaque de Nathan Anderson/Unsplash


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