Idosos vítimas de estelionato: sugestões de como não cair em golpes

Idosos vítimas de estelionato: sugestões de como não cair em golpes

Vendedores de esperança. Essa é a verdadeira profissão de golpistas, que nunca entregam o produto que vendem, deixando-nos com – além do prejuízo financeiro – uma dolorosa percepção sobre nós mesmos.

Por Fábio Thomazetti (*)


Lembro-me de haver implorado: “Seo Pedro… Desliga esse telefone e fala comigo!”. Mas, no viva-voz, uma mulher dizia com uma dicção impecável: “Senhor Pedro, essa oportunidade é única. Precisamos que o senhor saia do ambiente da agência e faça os procedimentos no autoatendimento. E, para tua segurança, não diga nada a ninguém até que o dinheiro tenha caído em tua conta.”

Rapidamente consegui bloquear a conta do “Seo Pedro” e ele não pode fazer a segunda transferência, aquela que finalmente iria permitir que ele recebesse um vultuoso prêmio em dinheiro. Mas era tarde demais, ele já havia perdido uma boa parte de sua poupança pessoal, construída com o pouco que lhe sobrava de uma escassa aposentadoria.

Vendedores de esperança. Essa é a verdadeira profissão de políticos, líderes religiosos e golpistas. Os dois primeiros raramente nos entregam com honestidade o produto que vendem. O terceiro nunca, e nos deixa com – além do prejuízo financeiro – uma dolorosa percepção sobre nós mesmos.

Quem não estiver se sentindo como os “dejetos do cavalo do bandido” após ter sido ludibriado por algum estelionatário, por favor entre em contato comigo e me diga como é possível. Pois eu mesmo ainda me sinto assim uns bons dias depois de ter sido vítima de um golpe.

Sim! Querido leitor. Este moço bancário, esperto e letrado (ao menos para si mesmo). Este que já viu inúmeras vezes as mais variadas espécies de cilada, caiu como um patinho na lagoa no conto do vigário. E como é amargo o sabor de ter sido enganado!

Não se trata apenas de ter tido a bicicleta furtada ou sofrido um roubo praticado mediante violência ou grave ameaça, situações tão ou mais dolorosas, mas que atingem uma outra região de nosso âmago. O desprazer está em sentir-nos vulneráveis e suscetíveis, quando sabemos estar rodeados de toda a sorte de gente desonesta tentando nos tirar algo do bolso.

A quantidade de estelionatos praticados no Brasil é incalculável e é possível que todos nós tenhamos sido, em algum momento, vítimas desse crime. Portanto, nunca é demais listar algumas precauções que devemos adotar no nosso dia a dia, mas deixarei isso para o final do texto, antes disso dirijo-me a você que, como eu, ainda está engolindo este amargo cálice:

Querido leitor, ainda que você tenha acreditado na mais estapafúrdia promessa, ainda que você tenha se descuidado e entregue ao teu algoz suas informações e suas senhas, ainda que você tenha depositado tua confiança a um lobo que mais tarde viria a lhe devorar as galinhas, não te esqueças nem por um momento: VOCÊ É A VÍTIMA!

Você foi esmagado por uma muito bem elaborada empresa do crime. Ainda que o golpista tenha agido sozinho, o que é raro, ele é uma verdadeira organização, tem métodos, instrumentos, conhecimento etc. Enquanto você se esforçava para ganhar honestamente o teu dinheiro, enquanto você acordava pela manhã e dedicava todo o dia à sobrevivência de tua família, enquanto toda a tua energia era posta na construção de alicerces, lá estava ele estudando e se especializando na arte (que a arte me perdoe pelo mau uso de seu substantivo) do engano e da destruição.

Por isso peço-lhe afetuosamente que beba bastante água para que essa sensação de ter sido um tolo escape-lhe pela urina. Recupere-se, lembre-se que isso vai passar e amanhã você ainda estará sentindo o vento no rosto enquanto ele terá dado lugar a outro golpista e provavelmente estará dividindo um pequeno espaço na prisão com outros gatunos semelhantes a ele.

E, neste ponto você pode estar dizendo para si mesmo que não, que os criminosos não são presos. Mas eles são, sua vida está para sempre condenada a um ciclo de prisões, solturas, reincidências e novas prisões.

Não há paz nessa vida, nem mesmo para os mais altos escalões do crime. Portanto, vá passear com teu filho ou neto, vá cuidar do teu jardim, vá trabalhar! Viva! E não se esqueça de vez ou outra, fazer um brinde à vida e à liberdade. Você verá que o que lhe tiraram era apenas dinheiro.

Como não cair em golpes

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E aqui vai a minha lista de precauções que você deve tomar para nunca cair em um golpe:

1- Seja, em tudo o que fizer, cético e cuidadoso, mas não deixe que a vida seja um estado constante de hipervigilância;

2- Quando for a um banco, ignore a segunda parte do primeiro item e entre sim num estado de constante hipervigilância;

3- Desconfie do Boi Gordo, dos Títulos de Jazida de Ouro no Mato Grosso, do pedido de recadastramento de senha por celular, do boleto que quita tua dívida de R$ 500 mil por apenas R$ 699,90;

4- De vez em quando, faça um jogo na loteca, é um engano também, mas pode ser divertido;

5- Deixe que a cigana leia a tua mão, agradeça e dê a ela uma nota de cinco reais. Ela podia estar matando, podia estar roubando, mas está lá na praça dizendo que aquela linha na tua mão significa que você vai ser muito feliz. E isso tem grandes chances de já ser uma verdade;

6- Se lhe disserem que você ganhou R$ 100.000,00 e que para desbloquear o prêmio você precisa depositar R$ 1.000,00 numa conta, ofereça-lhe um desconto e aceite R$ 90.000,00 sem ter de fazer o depósito. Você é uma pessoa de muita sorte, não custa nada ser generoso!;

E este último conselho é pra mim mesmo, mas se você ainda estiver se sentindo um tolo, vai servir-lhe de consolo:

7- Se você é bancário e está por fora de como as coisas funcionam no mundo das pessoas famosas, saiba de uma coisa: Aquele jogador internacional de futebol, o Faustão, o Zé Ramalho, o Caetano, o Sílvio Santos, o Abílio Diniz etc. Essas pessoas NUNCA vão à boca do caixa pra sacar dinheiro, eles têm procuradores pra isso. Se você pegar um RG e estiver escrito Jesus Cristo nele, desconfie, já que o próprio mesmo deixou avisado que muitos viriam em Seu nome.

Um afetuoso abraço!

(*) Fábio Thomazetti – Graduado em Ciências Contábeis pela Estácio, Certificado CPA 20 pela ANBIMA. Empregado da Caixa Econômica Federal.

Foto Destaque: reprodução


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