Enxaqueca, uma doença crônica que aumentou na pandemia

Enxaqueca, uma doença crônica que aumentou na pandemia

Após a pandemia, aumentou o número de pessoas diagnosticadas com enxaqueca. As causas são as incertezas, ansiedade, angústia, medo de morrer ou de alguém próximo falecer e uma irritação constante e crescente.

por Redação J.PUC-SP


A enxaqueca é uma doença de predisposição genética e causas neurológicas, cujo sintoma mais conhecido é a dor de cabeça. Alguns fatores como estresse, ansiedade, angústia e privação de sono e postura inadequada em frente ao computador (ocorrência frequente no trabalho home office) agravam o problema. Como se já não bastasse o medo da Covid-19 em si, preocupações de ordem financeira; mudança na forma de trabalhar sem saber, ao certo, se os resultados apresentados serão satisfatórios; o adoecimento e morte de parentes e o distanciamento social prolongado geraram um aumento na frequência e intensidade das crises de enxaqueca, que chegam a durar três dias.

“Esta doença faz parte das chamadas cefaleias primárias, grupo que também abrange a cefaleia do tipo tensão”, comenta o professor-doutor Sandro Blasi Espósito, coordenador do Laboratório de Simulação da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP. “Esta última é a mais frequente na população, sendo desencadeada, sobretudo, por cansaço e fatores emocionais. Em geral, ela não impacta nas atividades rotineiras. Já a enxaqueca, por outro lado, tem intensidade moderada a forte”, compara.

Estatísticas
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia, trata-se de uma enfermidade mais comum do que se imagina, que atinge mais mulheres (20%) do que homens (10%) e se encontra na sexta posição entre as doenças mais incapacitantes – este último dado é da Organização Mundial de Saúde. Também é uma das principais causas de absenteísmo e queda de produtividade.

Fases da vida
A enxaqueca é uma doença crônica. “Cerca de 3% da população desenvolve dor de cabeça com frequência diária ou quase diária, ou seja, pelo menos 15 dias ao mês, num período superior a três meses”, ressalta o professor-doutor Sandro.

“Uma parte destes indivíduos está associada ao abuso de analgésicos”, alerta. “Quando falamos em ergotamínicos, triptanos ou opioides, o uso excessivo é considerado quando há consumo em dez ou mais dias por mês. Já no caso dos não-opioides (como paracetamol, dipirona ou anti-inflamatórios não-esteroides), são 15 ou mais dias por mês.”

Em crianças, a enxaqueca aparece de forma semelhante entre meninos e meninas. Porém, a partir da puberdade, as mulheres costumam ter crises mais intensas e frequentes do que os homens, por conta do gatilho hormonal acionado pelo ciclo menstrual. Já na terceira idade, a incidência volta a se igualar.

Diagnóstico e fatores
O diagnóstico da enxaqueca é clínico, ou seja, não existe um tipo de exame que possa identificá-la. Cerca de 30% dos portadores apresentam enxaqueca com aura. Trata-se de um sintoma visual que pode embaçar a visão e, até mesmo, fazer a pessoa visualizar luzes ou pontos de luz.

O estresse está entre os fatores que desencadeiam as crises de enxaqueca. Outros gatilhos importantes são a privação de sono; o jejum prolongado; a pouca ingestão de água; o sedentarismo e o consumo excessivo de cafeína, bebidas alcoólicas e alimentos gordurosos e muito condimentados.

Pandemia
Após a pandemia, aumentou o número de pessoas diagnosticadas com enxaqueca. As causas são as incertezas, ansiedade, angústia, medo de morrer ou de alguém próximo falecer e uma irritação constante e crescente.

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Outro problema decorrente da pandemia foi o aumento da automedicação, pois algumas pessoas, imaginando estarem se protegendo do novo coronavírus, começaram a ingerir anti-inflamatórios ou analgésicos sem indicação médica. Ao ingerir esses fármacos mais de duas vezes por semana, pode ocorrer a chamada “dor de cabeça de rebote”, cujo efeito costuma agravar os sintomas e tornar os incômodos mais frequentes e severos.

Tratamento
A enxaqueca pode ser controlada com o uso de remédios adequados, prescritos por médicos. De acordo com o Consenso Latino-Americano para as Diretrizes de Tratamento de Migrânea Crônica e o Consenso da Sociedade Brasileira de Cefaleia sobre o Tratamento da Migrânea Crônica, os tratamentos se dividem, basicamente, em duas vertentes:

– Tratamento agudo: tem o objetivo de reduzir a intensidade da dor no momento da crise e amenizar sintomas associados. O medicamento será definido por um neurologista caso a caso. Pode-se, inclusive, indicar tratamento hospitalar em pronto-socorro.

– Tratamento preventivo: visa diminuir ou evitar a recorrência das crises, podendo abranger fármacos orais (como neuromoduladores e betabloqueadores) e injetáveis (como a toxina botulínica, aplicada no trajeto dos nervos na cabeça e pescoço, impedindo o processo inflamatório e a liberação de neurotransmissores que levam os sinais de dor para o cérebro).

“Há, também, uma nova terapia, denominada anticorpos monoclonais anti-CGRP (Calcitonin Gene-Related Peptide). Ela consiste, em suma, no bloqueio dos peptídeos envolvidos nas crises de dor de cabeça em pacientes com enxaqueca”, elucida o professor-doutor Sandro. “Desde o final de 2020, três anticorpos desenvolvidos já estão aprovados e disponíveis para uso no Brasil. São eles o erenumabe, o galcanezumabe e o fremanezumabe, da TEVA. Eles são aplicados mensalmente, por meio de injeção subcutânea.”

Os especialistas orientam que muitos dos gatilhos das crises de enxaqueca estão relacionados aos hábitos de vida. Manter uma rotina de alimentação balanceada, sono adequado e atividades físicas equilibradas favorece o bem-estar de quem sofre com a doença.

(*) J.PUC-SP -Jornal da PUC-SP, matéria publicada no dia 16/8/2021.

Foto de Kindel Media/Pexels


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