Sentido da vida: alusões e questionamentos

Sentido da vida: alusões e questionamentos

Acredito que o sentido da vida pode ser um sopro, o sorriso das pessoas queridas.

Por Jéssica Branco Fernandes (*)


Acredito que o sentido da vida pode ser validado por um número infindável de pesquisas, textos, artigos, religiões, cultura, tempo, conclusões e recomeços. Para Darwin a modificação das espécies visa a preservação das mesmas, a sobrevivência, logo, a própria vida. Para Nietzsche, esse sentido tem relação com a vontade criadora ou vontade de potência.

A vontade criadora não é uma reação adaptativa às proposições do meio, é para além disso, uma vontade interna de criar mais vida, crescer, expandir sua força, superar-se. Desse modo, segundo Dias (2011) “a busca pela potência não é o objetivo da vida, é a vida em si”. No entanto, o que pode ser feito em momentos difíceis, de inquietude, tristeza e outros dissabores diários?

Naturalmente, existem múltiplas formas de se lidar com as inquietações humanas, dependendo da individualidade, cultura e outras questões a depender de cada um. Entre essas variadas ferramentas, gostaria de indicar um bom livro, chamado Tentativas de fazer algo da vida, de Hendrik Groen (2016), cujo trecho foi destacado abaixo:

(…) tomei uma sopa de ervilha lá embaixo. Estava ótima, mas tive que ouvir bem umas dez histórias não solicitadas sobre mães e avós que antigamente faziam sopas de ervilha muuuito mais gostosas. Antigamente, sempre antigamente. Vivam um pouco o presente, suas múmias!

O livro traz alguns questionamentos sobre o modo de encarar o dia a dia numa casa de repouso, onde mora o autor. Hendrik Groen começa a escrever um diário pautado no seu ponto de vista sobre o comportamento dos residentes, a gestão do local, os acontecimentos, socialização entre outros pontos com leveza, perspicácia e muito humor.

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E falando em humor, perdi por várias vezes o meu esquentando a cabeça sobre o famigerado sentido da vida, em particular a minha. Foram noites sem dormir, longas conversas, desabafo (obrigada pela paciência Mãe), escrita, livros de autoajuda, músicas, atividades ao ar livre, estudo de música, entre outros. Nunca cheguei a um consenso algum.

Finalmente, depois de muitos desencontros, acredito que o sentido da vida pode ser um sopro, um instante gravado pelos olhos ao contemplar a beleza da manhã, um momento surpreendido pela flor dançando com o vento, o sorriso das pessoas queridas, o riso de uma criança, o abraço dos seus avós, a risada depois de ler um trecho engraçado de um livro, o suspiro sonhador ao escutar a música favorita e a beleza de conseguir estar presente. Pode parecer só um momento, mas a grandiosidade desse momento pode ser eterna, a ponto de tocar uma alma, pelo menos, é o que eu acho.

Referências
Dias, R. Nietzsche, vida como obre de arte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
Groen, Hendrik. Tentativas de fazer algo da vida/ Hendrik Groen: tradução Mariângela Guimarães. – 1ª ed. – São Paulo: Planeta, 2016.

(*) Jéssica Branco Fernandes é Pós Graduanda em Envelhecimento Humano em Perspectiva Multidisciplinar, Bacharel em Gerontologia pela USP Leste. Texto escrito para o curso “Fragilidades – o envelhecimento sob a perspectiva da Gerontologia Social”, ministrado pelo Espaço Longeviver no segundo semestre de 2023. E-mail: [email protected]

Foto: Huy Phan/pexels


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