A população idosa é considerada o grupo de maior risco para o suicídio em todo o mundo.
Gabriela dos Santos e Thais Bento Lima da Silva (*)
O mês de setembro é dedicado a campanhas de conscientização sobre causas importantes para a saúde física (Conscientização sobre o Câncer Ginecológico), cognitiva (Conscientização sobre a Doença de Alzheimer e Outras Demências) e mental (Prevenção do Suicídio). Essas campanhas são direcionadas a pessoas de todas as idades, pois a prevenção de doenças e a promoção da saúde biopsicossocial devem acompanhar-nos ao longo de toda a vida.
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No entanto, ao considerarmos as pessoas idosas, as discussões frequentemente se concentram em condições de saúde como doenças crônicas e neurodegenerativas, como as demências, sem dar a devida atenção aos cuidados com a saúde mental. Quando a saúde mental é prejudicada, pode levar a riscos como o suicídio.
O processo de envelhecimento envolve perdas e ganhos, bem como eventos positivos e negativos ao longo da vida. Na velhice, embora possam ocorrer, por exemplo, realizações pessoais e profissionais consideradas ganhos, as perdas muitas vezes ganham maior destaque, tanto no nível individual quanto social. Limitações físicas, processos patológicos, mudanças na rede de suporte social e familiar, entre outros fatores, podem contribuir para o surgimento de depressão, o que aumenta as chances de pensamentos ou tentativas de suicídio.
Além disso, indicadores socioeconômicos influenciam as taxas de suicídio entre pessoas idosas. Um estudo identificou que as maiores taxas foram encontradas em municípios do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, com correlação entre índices de analfabetismo e desocupação (Silva et al., 2022).
Pesquisas revelam que a taxa de suicídio entre pessoas idosas é mais alta em comparação com outras faixas etárias, como destacado por Santos et al. (2020) e Silva et al. (2022). A população idosa é considerada o grupo de maior risco para o suicídio em todo o mundo. O Boletim Epidemiológico sobre o Panorama dos Suicídios e Lesões Autoprovocadas no Brasil, publicado pelo Ministério da Saúde, indica que uma das maiores taxas de suicídio corresponde a homens idosos acima de 70 anos.
Medidas de Prevenção e Políticas Públicas
A Organização Mundial da Saúde afirmou em relatório publicado há 10 anos que o suicídio é evitável. Contudo, é válido questionar quais medidas têm sido efetivamente adotadas para prevenir esse ato irreversível. É essencial que essas medidas sejam coletivas, abrangendo tanto políticas públicas quanto atitudes individuais para a promoção da saúde mental das pessoas idosas.
As políticas públicas podem incluir campanhas de conscientização nacional, acesso a profissionais de saúde mental, minimização dos fatores de risco associados, como isolamento social e ausência de tratamento adequado para doenças, e programas para redução das desigualdades socioeconômicas.
Atitudes individuais e suporte social
Atitudes individuais para pessoas de todas as faixas etárias devem se concentrar em acolher as pessoas idosas e combater estereótipos associados à velhice. Para as pessoas idosas, é importante manter a participação social, cuidar da saúde e adotar estratégias de bem-estar, dentro das suas possibilidades.
Como buscar ajuda
Se você conhece alguma pessoa idosa que esteja apresentando sinais de prejuízos à saúde mental e precisa de ajuda, procure informações no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ou na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima. Se você é uma pessoa idosa que precisa de ajuda, converse com um familiar ou um profissional da saúde de confiança, busque atendimento no CAPS, na UBS ou ligue para o telefone 188, do Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece atendimento 24 horas.
Referências
BrasiL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Boletim Epidemiológico. Panorama dos suicídios e lesões autoprovocadas no Brasil de 2010 a 2021, Brasília, v. 55, 2024.
Santos, M. C. L. dos et al.. Suicide in the elderly: an epidemiologic study. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 55, p. e03694, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2019026603694. Acesso em: 11 set. 2024.
Silva, I. G. et al.. Dinâmica temporal e espacial e fatores relacionados à mortalidade por suicídio entre idosos. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 71, n. 2, p. 108–116, abr. 2022. Dispoível em: https://doi.org/10.1590/0047-2085000000367. Acesso em: 11 set. 2024.
World Health Organization (WHO). Preventing suicide: a global imperative [Internet]. Geneva: WHO; 2014. Disponível em: https://iris.who.int/handle/10665/131056. Acesso em: 11 set. 2024.
(*) Gabriela dos Santos – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
Foto de Thought Catalog/pexels.