Desinformação na saúde vai muito além de campanhas antivacina

Desinformação na saúde vai muito além de campanhas antivacina

A desinformação na saúde ataca a medicina e a ciência e traz riscos para o bem-estar pessoal e social.


Por Mariana Mandelli, do EducaMídia 60+

Uma reportagem publicada em julho no país revelou uma série de vídeos onde atores e atrizes interpretam especialistas em saúde para vender produtos com promessas de tratamento e cura milagrosos. Segundo a denúncia do portal G1, as imagens não avisam a audiência de que se trata de uma interpretação e também omitem o fato de os medicamentos não terem autorização da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O Ministério Público de São Paulo está investigando o caso.

Mitos sobre a saúde humana sempre existiram. Quase todo mundo conhece ao menos uma crendice para aliviar os sintomas de resfriados e cólicas, ou alguma receita infalível de família para perder peso rapidamente, mesmo que seus efeitos sejam inócuos ou mesmo inexistentes.

Hoje, porém, o contexto de hiperinformação em que estamos inseridos amplificou exponencialmente o volume de mensagens sem nenhuma comprovação científica, com muito mais gente lucrando com elas. Ao passo em que o alcance é imensurável, o estrago também pode ser, pois não é exagero afirmar que o charlatanismo na área médica pode adoecer, agravar sintomas pré-existentes e, em última instância, até matar.

Somada à falta de controle sobre esse tipo de conteúdo que inunda as mídias sociais, há o baixo letramento científico de sociedades como a nossa. Tendemos a evitar e a ignorar aquilo que não compreendemos, apelando para soluções fáceis e falsamente didáticas — exatamente o que uma infinidade de vídeos e posts de anônimos e alguns influenciadores oferecem. Desconfiamos da ciência em prol de discursos simplórios e que entregam aquilo que esperamos: caminhos e resultados para problemas aparentemente insolúveis, como é o caso de uma doença incurável e grave.

A pandemia de COVID-19 foi um claro exemplo dessa equação maléfica que une a desinformação e a falta de conhecimento científico. Muita gente com a carteirinha de vacinação praticamente completa passou a ter dúvidas sobre o processo de imunização contra o coronavírus. A busca por respostas para essas perguntas muitas vezes encontrou argumentos mentirosos em postagens patrocinadas pelo movimento antivacina, que há anos divulga narrativas conspiratórias e negacionistas.

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Enquanto não há normas que coíbam e punam a publicação e a monetização de conteúdos que ameaçam a saúde individual e coletiva, é preciso estar alerta. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem algumas orientações básicas que demandam senso crítico e educação midiática para navegar com segurança nas redes. Entre elas, estão questionar as informações sobre enfermidades e tratamentos que encontramos na internet com perguntas como: Este conteúdo é confiável? Quem é o autor/a? Como me sinto em relação a esta informação?

A desinformação na saúde onera o sistema público, deslegitima políticas públicas, ataca a medicina e a ciência como um todo e traz sérios riscos para o bem-estar pessoal e social. Desconfiar de supostos remédios e vitaminas milagrosos vendidos em publicidades questionáveis é proteger a si mesmo. Se até o ditado popular afirma que quando as oportunidades são demasiadamente boas, até os santos desconfiam, por que nós também não podemos duvidar delas?

O EducaMídia 60+ é o programa criado pelo Instituto Palavra Aberta para que pessoas com mais de 60 anos de idade, um grupo tão significativo da população brasileira, desenvolvam as habilidades necessárias para participar plenamente da sociedade conectada.

Foto de ready made/pexels.


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