Nas ondas do rádio, o otimismo de Irineu Toledo!

Nas ondas do rádio, o otimismo de Irineu Toledo!

Irineu diz que sua missão de vida é lembrar as pessoas que elas estão vivas.


Certo dia, durante a direção de uma vivência psicodramática, utilizei uma narração na voz do comunicador Irineu Toledo. De título, “Alto lá! Quem é você?”, o áudio traz uma provocação sobre a real identidade de cada um, de quem somos em essência.

Terminado o encontro, me veio a lembrança das manhãs em que eu escutava seus programas na rádio. Sua voz sempre tocante e sua entonação motivadora fazia a diferença. Utilizando-me do tema do áudio, agora num encontro gentil e descontraído, devolvi a pergunta a ele…

Silmara: Alto lá! Quem é o Irineu Toledo na fase da velhice?
Irineu: Penso no “eu” do futuro como eu mesmo só que com mais idade, me apropriando do tempo que tenho que é só meu. Viver é diferente de estar vivo e isso vale para qualquer idade. Tem gente zumbi por aí, que já morreu e não sabe, não faz nada com a vida que tem. Meu lema e minha mensagem é “Como não morrer antes de morrer?”. Por isso digo que temos que nos apropriar do tempo de vida que temos. A sociedade voltada para o trabalho colocou a vida no tempo Chronos – a produtividade e a utilidade para a indústria e para os papéis sociais. Mas antes de tudo vivemos no kairós, o tempo da experiência e do encantamento. Somos um milagre, não somos máquinas! Somos humanos! E enquanto eu estiver respirando neste planeta, serei vivente, atuante, com todas as possibilidades da espécie humana.

Claro que tenho meus papéis na sociedade do trabalho – faz parte e são importantes. Aí é que entra a idade, os ciclos, quando a gente assume papéis e posições. Temos que saber escolher  jogar o jogo de cada idade. A idade pesa, limita, mas favorece muitas escolhas mais sofisticadas pra gente ser feliz a qualquer tempo.

O Irineu é um ser vivo que sonha, se renova todos os dias, não despreza o ar que respira e não pretende abandonar a curiosidade e a vontade de viver novas experiências.

Sua principal ferramenta de trabalho é a sua voz. Percebe alguma mudança nela em seu processo de envelhecimento?
Não houve grandes mudanças na minha voz com o passar do tempo. Como falo muito profissionalmente… e quem não fala? Não fumo, não grito, meu músculo vocal está em constante fitness. Apenas a diferença para uma voz jovem é que a voz madura não imprime ansiedade, pressa e a energia típica olímpica. Mas aos 65 anos tenho uma voz limpa e vigorosa que me permite atuar na mídia.

O seu papel de locutor já completou  46 anos e foi desenvolvido no radialismo, na publicidade e em eventos. Qual significado esse papel profissional traz para o seu “Eu”?
Eu me coloco como um comunicador, um facilitador em qualquer ambiente em que estou com minha oralidade. No rádio a gente fala como se estivesse em uma sala escura, sem ver as pessoas, sem saber idade, quem são, gênero ou profissão. Com o tempo eu desmontei o ouvinte desconhecido e descobri que não importava quem fosse. Assim nasceu uma comunicação inclusiva na minha expressão profissional, pois a gente conversa mesmo é com outros corações e almas. Tudo o mais são construções do sentido de cada um. Por isso digo que minha fala está a serviço da comunicação humana, seja no rádio, tv, propaganda, eventos ou em palestras. Sou um caboclo falador! O meio que vou usar tanto faz. Antes da voz, tenho a alma em busca do outro, das verdades que cada um carrega e tudo no mesmo fio de comunicação que tece a humanidade.

O seu trabalho no estúdio ocorre sozinho, sem ver o seu contrapapel, o ouvinte. Como foi essa relação ao longo do tempo?
Num primeiro momento foi difícil falar sozinho, mas com o tempo fui ampliando essa relação e passei a interagir com o estúdio como um espaço sagrado de conexão, primeiramente com aquelas pessoas que estavam presentes na atividade, depois por meio de cartas, telefonemas e e-mails, entendendo o alcance e impacto da minha voz ao microfone.

Levei tempo para descobrir que o microfone não me coloca como um homem com características definidas por etnia, religião, gênero ou imagem, não havendo preconceitos. Sua linguagem é validada por quem está ouvindo. É quem ouve que define quem eu sou. Para ter ouvintes, preciso antes de tudo ser ouvinte.

Nesses anos de profissão fui recebendo muitos feedbacks dos ouvintes, como: “…estava deprimido e te ouvir foi importante nesse momento”, “…abandonei a ideia de suicídio, “saí de uma depressão”, “…te ouço de uma  prisão, de um hospital”. Creio que um comunicador tem que ser uma voz mediadora de almas, de conflitos.

Passei também a ressignificar o que estava fazendo e pensando graças aos ouvintes. Eu costumava dizer na abertura do programa: “Você ouve, logo existe!”. Tinha a intenção de valorizar os ouvintes, mas num determinado dia uma ouvinte me provocou com uma história que me marcou. Disse ela: “O meu filho não pode ouvir. Sendo assim, ele não existe?”. Fico emocionado ainda quando trago essa lembrança pelo grande aprendizado de inclusão que isso deu para minha fala diária. No dia seguinte minha frase mudou para: “Feliz dia novo, emocione-se. Você sente, logo existe!”.

A voz transporta a responsabilidade com o outro que não pode ser ignorado em suas experiências e subjetividades.

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Pela idade do rádio, nós, ouvintes, tivemos muitos ídolos da voz. Nos conte: quem te inspirou?
Tenho muitos, mas um que considero inspiração é o Hélio Ribeiro. Eu tinha aproximadamente 10 anos quando ouvia seu programa na rádio Bandeirantes que se chamava “ O poder da mensagem”. Sou nutrido pela sabedoria atemporal e acredito que a conexão profunda começa pelo  caminho emocional, para validar o encontro com o ouvinte com a sabedoria universal de ideias de Jesus Cristo, Buda, Einstein e filósofos, líderes e escritores que nos alimentam de saberes. Assim, fui desenvolvendo minha narrativa, minha distribuição própria de conteúdo.

Você passou pelas mudanças da rádio AM para FM e agora à Web. O que significou para você acompanhar essas mudanças ao longo dos anos?
Vejo que só os meios mudaram. Eu posso estar numa praça ou na internet, mas o ser humano precisa encontrar o coração do outro pelo meio que estiver disponível, principalmente, o presencial. Do ponto de vista tecnológico, sou privilegiado por aspectos da tecnologia e meios que evoluíram e se multiplicaram nos últimos 50 anos, mas sou o mesmo Irineu falando para uma só pessoa ou com 100 emissoras de rádio em rede, como eu tinha quando estive na Rede Transamérica FM que alcançava até 2 milhões de ouvintes no período de 30 dias.

No Clube da Voz, associação que você foi um dos fundadores há mais de 30 anos, há um mix de gerações muito bem apurado. Como ocorre a intergeracionalidade nesse ambiente?
Legal porque é vivo! Defender ética, criar e discutir boas práticas, absorver todo mundo com talento: estilos e idades diversas. Isso faz toda a diferença, a diversidade é muito legal. Isso deu vitalidade e profissionalismo a essa atividade.

Você cita o poder da mensagem e da relação que ela tem com o seu trabalho, assim, os seus programas são voltados para o motivacional, considerando que esse olhar de alguma forma chega aos ouvintes. Para você, como o otimismo ajuda em sua vida?
Vejo como uma missão de vida ir para o microfone e lembrar as pessoas que elas estão vivas. Elas esquecem disso nesse mundo tão exigente e muitas vezes vão abandonando o interesse pela vida. Por isso, voltei para o rádio em 1996, ainda me mantendo na publicidade, pois a memória de comunicador de rádio é mais forte para o meu propósito do que a de publicitário, embora eu adore a atividade de locutor publicitário. Começo o programa com um toque de boas notícias, mas vou lembrando as pessoas que elas podem aprender, superar e ter disposição para mais um dia sem temer mudanças, desafios e tudo aquilo que a vida exige de cada um no dia a dia.

Esse é o meu propósito de vida. Enquanto tiver a fala e o cognitivo funcionando, terei uma fala positiva, uma palavra boa, independentemente de onde eu estiver. Sou um polinizador de ideias, aprendo algo e vou passando para a frente para que elas floresçam. Assim, o milagre da vida não será desprezado nunca. Sempre participarei do florescimento de muitos jardins. Sou um cara interessado em Filosofia, Espiritualidade, História, comportamento, e busco os conhecimentos para seguir adiante com uma comunicação que enriqueça.

E aproveitando que você cita o poder das mensagens, qual você deixa aqui sobre o envelhecer?
Daqui alguns anos seremos um número maior de pessoas na fase da “velhice”, acima de 60 anos. Então não se abandone, busque o seu espaço, porque 60 anos é uma envelhecência que vale a pena ser bem vivida e aproveitada. Você pode trabalhar, expandir a sua consciência, a espiritualidade, o relacionamento amoroso com gente mais nova ou mais velha, com quem quiser. Você pode ajudar o outro, estudar e empreender. Só não fique em casa esperando a vida passar ou que alguém lhe convide para uma festa. Esteja vivo até o dia da morte chegar, não abandone o jogo e pratique a interação. Ninguém vai viver a sua vida pra você e nem poderá viver a sua morte.

Busque se conectar com pessoas de todas as idades e pessoas diferentes. Isso mantém sua cabeça arejada e longe de doenças fictícias. Vá pra balada, mesmo que seja barulhenta! Vá dançar! Você será importante lá! Misture-se à moçada. Penso ser essa a revolução grisalha que teremos nos próximos anos. Fazer a vida ser divertida e não abandonar os espaços do mundo que também são seus!

Serviço
Canal Feliz Dia Novo! https://www.youtube.com/@IrineuToledoFelizDiaNovo
Vídeo Short: https://www.youtube.com/shorts/0fFsjBnGSVc
Clube da Voz – https://clubedavoz.com.br/
Instagram – https://www.instagram.com/irineutoledo/

Fotos: Arquivo pessoal

Atualizado às 11h30


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Silmara Simmelink

Psicodramatista formada pela Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama. Psicóloga graduada pela Universidade São Judas Tadeu. Especialista em Gerontologia pelo Albert Einstein e fez curso de extensão da PUC-SP de Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento. Pós graduada em psicanálise pela SBPI e Sociopsicologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de SP. Atua em clínica com abordagem psicodramática e desenvolve oficinas terapêuticas com grupos de idosos. É consultora em Desenvolvimento Humano e especialista em psicologia organizacional titulada pelo CRP/SP. E-mail: [email protected]

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Psicodramatista formada pela Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama. Psicóloga graduada pela Universidade São Judas Tadeu. Especialista em Gerontologia pelo Albert Einstein e fez curso de extensão da PUC-SP de Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento. Pós graduada em psicanálise pela SBPI e Sociopsicologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de SP. Atua em clínica com abordagem psicodramática e desenvolve oficinas terapêuticas com grupos de idosos. É consultora em Desenvolvimento Humano e especialista em psicologia organizacional titulada pelo CRP/SP. E-mail: [email protected]

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