Os vagalumes que habitam em nós

Os vagalumes que habitam em nós

O espetáculo dos vagalumes nos lembra que estar vivo é emitir luz, do nascer ao morrer.


Nas últimas semanas estive de férias em uma praia do Nordeste, e por isso, o texto desse mês demorou um pouco para sair. Foi ótimo, já que pude descansar e retornar renovado! Mas esse fato não vem ao caso, e sim uma imagem com vagalumes que gostaria de compartilhar.

Vivendo numa cidade grande como São Paulo, fazia tempos em que não tinha o deslumbramento do espetáculo que são os vagalumes. Pequenas criaturas, que através de uma reação química, emitem luz. E quando os vi, poderia ficar horas e horas admirando-os, e mais do que isso, refletindo não só sobre nossa relação de “coisificação” com a natureza, mas também sobre a possibilidade de enxergar a luz emitida por esses animais fantásticos.

Digo isso porque consegui ver melhor sua luminosidade quanto maior fosse a escuridão do local, o que já foi aproveitado por escritores como o grande João Silvério Trevisan para dizer que quanto mais escuro for o local, maior é o brilho que eles fazem perceber.

Agora retomo essa indagação para comparar “escuridão” com os preconceitos, os tabus, as discriminações, o conservadorismo e qualquer forma de opressão construída ideologicamente e socialmente. E vários seriam esses exemplos, como discriminar uma pessoa por não seguir normas morais que ditam o que seria “certo” ou “errado”.

Não há por que aceitar que pessoas idosas não possam usufruir de seus corpos sexualmente apenas porque rugas e cabelos brancos estão mais presentes. Ou porque deveríamos acreditar que indivíduos LGBTQIAPN+ seriam cidadãos de categoria inferior somente por entenderem que a vida pode ser muito mais do que uma obrigatoriedade.

Não perca nenhuma notícia!

Receba cada matéria diretamente no seu e-mail assinando a newsletter diária!

É isso, o espetáculo dos vagalumes deve lembrar todos nós de que viver é algo maior do que apenas respirar, acordar, comer e dormir ao fim do dia. Estar vivo é emitir luz, desde cedo até o escurecimento e do nascer ao morrer. Quase como perceber algo que estava lá, mas não conseguíamos ver direito, nossa vida. Aquela controlada por correntes que não tem razão para existir, e que em determinados momentos conseguimos romper.

Dessa forma, convido todas, todos e todes leitores para nunca se esquecerem dos vagalumes que encontramos por aí e daqueles dentro de nós. E mais do que isso, onde houver escuridão, que nossa luz brilhe mais forte.

Imagens: prints extraídos do vídeo “Lights out? Fireflies face extinction threats of habitat loss, light pollution, pesticides” – Tufts University


banner anunciando curso de memórias ludicas.

Milton Crenitte

Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

Compartilhe:

Avatar do Autor

Milton Crenitte

Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

Milton Crenitte escreveu 20 posts

Veja todos os posts de Milton Crenitte
Comentários

Os comentários dos leitores não refletem a opinião do Portal do Envelhecimento e Longeviver.

LinkedIn
Share
WhatsApp
Follow by Email
RSS