O beijo da idade: conversas, prismas e verdades da velhice

Estávamos devendo havia muito tempo uma Geni especial sobre velhice. A questão não é só o “beijo gay” da novela da Globo entre as personagens de Fernanda Montenegro e Natália Timberg, ambas de 85 anos, na novela Babilônia, mas também o “beijo velho”. Se duas mulheres se beijando incomodam muita gente, duas mulheres velhas se beijando incomodam muito mais. Afinal, pessoas velhas não podem ter tesão, sexualidade, amor. Não podem ter corpo, beleza, voz própria.

Coletivo Geni * Texto e Fotos

 

o-beijo-da-idade-conversas-prismas-e-verdades-da-velhiceComo de costume, o “beijo gay” da novela da Globo virou assunto em tudo quanto é jornal, boteco e instância legislativa da república brasileira. No dia 26 de março, a Assembleia Legislativa do Tocantins aprovou uma moção de repúdio ao beijo entre as personagens de Fernanda Montenegro e Natália Timberg, ambas de 85 anos, na novela Babilônia. Não por acaso, o deputado que propôs a moção é um pastor evangélico (Eli Borges, do PROS). A trambiqueira e ociosa bancada evangélica do Congresso Nacional também se manifestou, com um chamado a que a tradicional família brasileira boicotasse o folhetim global.

Longe da gente defender as sapatões sem velcro das telenovelas, temos que admitir que a ralação das inimigas é no mínimo divertida, e a Rede Globo segue sendo um fenômeno complexo. No atual momento de recrudescimento das forças conservadoras, em que milhões vão às ruas pra exaltar o que há de mais tosco e perigoso no nacionalismo reacionário, é admirável ver uma das atrizes de maior destaque do Brasil dizendo, como lésbica, para a maior audiência do país: “A sociedade, de vez em quando, tenta mudar, tenta esconder pessoas como eu. Não consegue. Não vai conseguir nunca”. E, em outra passagem: “O nosso casamento é um ato político. Isso prova que nós não nos intimidamos com preconceito sobre sexo, sobre idade”.

Porque, desta vez, a questão não é só o “beijo gay”, mas também o “beijo velho”. Se duas mulheres se beijando incomodam muita gente, duas mulheres velhas se beijando incomodam muito mais. Afinal, pessoas velhas não podem ter tesão, sexualidade, amor. Não podem ter corpo, beleza, voz própria.

Fomos perguntar

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Estávamos devendo havia muito tempo uma Geni especial sobre velhice. No nosso debate de lançamento, em junho de 2013, o Flavio sugeriu que olhássemos para esse tema, e desde então ele não sai da nossa cabeça. Mas como transformá-lo em revista? Ninguém do nosso coletivo chegou, ainda, sequer aos 40 anos. Embora o envelhecimento seja uma realidade humana em praticamente todas as idades, nós ainda não somos socialmente reconhecidxs como velhxs, o que faz com que tenhamos mais perguntas do que respostas.

o-beijo-da-idade-conversas-prismas-e-verdades-da-velhiceEntão fomos perguntar. Esta edição foi feita especialmente de conversas. Paloma Franca Amorim fala com Simone de Beauvoir; Carolina de Assis entrevista diversas militantes feministas sobre suas experiências de envelhecimento; Guilherme R. Passamani passeia pelo Pantanal ouvindo as histórias da caceteira bicha Tom; e Mariana Kinjo foi tomar um café com Paula Costa, que se tornou mulher (para voltar a Simone de Beauvoir) depois de toda uma vida fantasiada de homem.

Além disso, nossa entrevistada do mês é Thais Azevedo, orientadora socioeducativa do Centro de Referência e Defesa da Diversidade, em São Paulo. Aos 65 anos, Thais está entre as pouquíssimas travestis que conseguiram sobreviver à alarmante transfobia do Brasil e chegaram à velhice. Sem papas na língua, e com toda a experiência que a vida lhe deu, ela ensina: “Acho que a gente precisa de verdades pra ser feliz. E as pessoas precisam aprender a, no mínimo, aceitar a verdade do outro”.

As verdades

E, afinal de contas, qual a verdade da velhice?

o-beijo-da-idade-conversas-prismas-e-verdades-da-velhiceA julgar pelas declarações contidas nesta edição, são várias verdades, e não uma só. Ao contrário do que querem os caretas, o envelhecimento, assim como a sexualidade, a identidade de gênero e o corpo, é um prisma que aponta para infinitas direções, que tem todas as cores (e algumas mais) e que, nas palavras de Thais Azevedo, “faz a beleza do mundo”. Esperamos que esta edição faça jus a essa beleza, e que sirva para muito mais conversas, com todas as idades.

Leia os artigos na íntegra Aqui 

* Geni é uma revista virtual independente sobre gênero, sexualidade e temas afins. Ela é pensada e editada por um coletivo de jornalistas, acadêmicxs, pesquisadorxs, artistas e militantes. Geni nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença. ISSN 2358-2618. Abril de 2015.

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