Estimulação cognitiva em Centro-Dia: a psicologia em destaque

Estimulação cognitiva em Centro-Dia: a psicologia em destaque

Estimular é, para a psicologia, muito além de atividades ou exercícios cognitivos com finalidade. É garantir autonomia e independência, criar atmosfera de cuidado.


Aprenda a estimular uns e acalmar os outros, até que todos cheguem em uma sintonia. Seja um apaziguador (Luiz Hermínio)


Trabalhar com pessoas idosas é um grande aprendizado, não há um atendimento em que nossa bagagem não seja completada com mais uma informação, ou experiência que engrandeça nossa atuação profissional, ou até mesmo nossa existência. E, uma grande oportunidade é, sem dúvida, o trabalho em grupo em instituição. Diferentes pessoas, histórias, doenças e níveis de declínio cognitivo se encontram no mesmo espaço, onde a psicologia tem destaque, buscando por estratégias que possam estimular, compensar, reabilitar as perdas graduais, resultado de inúmeras condições neurológicas.

Ao mesmo tempo em que é um grande aprendizado, também é um enorme desafio, visto que o trabalho requer constante estudo e pesquisa, a fim de oferecer o melhor para as pessoas que mais precisam e, sobretudo, criatividade para trazer atividades diferentes e que possam cumprir seu papel dentro de um grupo heterogêneo.

Desde que iniciei meu trabalho com grupos, especialmente, no Centro-Dia Angels 4U, recebo, diariamente, mensagens de profissionais diversos, que atuam com estimulação cognitiva, em busca de dicas e possibilidades de intervenção cognitiva. São psicólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais que atuam neste contexto e que desejam compartilhar conhecimento, experiências, angústias do “saber fazer”, e principalmente, da inexperiência do “não saber fazer”. E agora?

Vamos falar sobre a estimulação cognitiva, intervenção de caráter multi/transdisciplinar muito utilizada em grupos e que cresce em vários dispositivos de cuidado e atenção à pessoa idosa. Estimular significa despertar o ânimo, o interesse de; encorajar, incentivar. Até aqui, tudo bem. Porém, ao estimular precisamos pensar no que está para além disso. Estimular é mais…

É muito além de utilizar atividades ou exercícios cognitivos com certa finalidade. Estimular é também garantir autonomia e independência enquanto for possível. É criar uma atmosfera de atenção, de cuidado, de escuta, de compartilhar desafios de envelhecer, e também de conquistas até aqui. Mas, acima de tudo, promover acolhimento, inclusão, integração social, melhoria do bem-estar subjetivo…

É atuar com extremo afeto… É estar preparado para cuidar do choro, da agitação, da memória que falha e te confunde com uma mãe, um pai ou uma filha… é saber manejar quando existe distração, agressividade ou simplesmente quando não se quer participar ou não se consegue participar. É saber pensar rápido e adaptar uma atividade que, por ventura, não atingiu seu objetivo. E, para isso, não existe receita pronta! Precisamos conhecer minimamente a instituição, o funcionamento do grupo, o que cada um prefere, suas aversões, aquilo que não gostam de fazer, o gatilho para determinados comportamentos… É preciso ser próximo de todos, e de cada um separadamente… é preciso observar, conhecer para aprender.

O Centro-dia Angels 4U é um espaço destinado à permanência diurna do idoso com o objetivo de proporcionar acolhimento, integração social e diversas atividades realizadas por uma equipe multidisciplinar que atua na atenção às necessidades e demandas físicas, cognitivas, ocupacionais, de integração e também lazer. Espaço que visa promoção de saúde, prevenção, assistência e reabilitação de pessoas idosas que possuem limitações e dependência, principalmente em relação às atividades de vida diária.

Neste modelo de cuidado, a pessoa idosa ganha mais qualidade de vida e a família tem mais tempo para exercer outras atividades, promovendo dessa forma, equilíbrio no processo de cuidar. A Psicologia, nesse espaço, visa o acolhimento, a escuta ativa de angústias que possam surgir, integração sócio afetiva e familiar, manutenção da identidade e do sentimento de pertencimento, estimulação cognitiva etc.

A atuação da Psicologia é voltada para o que é possível fazer no momento. O ideal é avaliar brevemente cada pessoa, com testes de rastreio multidisciplinares, apenas para termos noção do nível de comprometimento cognitivo dos membros do grupo. Se puder, avalie com os instrumentos que conhece, se não puder, crie atividades em que possam avaliar minimamente algumas funções que vão nortear sua intervenção; pesquise por atividades, dinâmicas, em que todos possam participar, interagir e socializar; dê preferência para atividades relacionadas à vida dessas pessoas.

Parece difícil, mas é possível tornar uma atividade impressa em uma atividade super dinâmica para o grupo. Segue aqui uma atividade para impressão e plastificação:

Listei também algumas atividades que não necessitam de papel e lápis, o resto vai da criatividade e habilidade de cada profissional.

– Evocação de lista de supermercado ou feira (perguntar para grupo ou individual);

– Evocação do nome de animais, frutas (perguntar para grupo ou individual);

– Mostre uma imagem por alguns segundos, depois retire e pergunte detalhes;

– Conversas estruturadas sobre assuntos diversos como, envelhecimento, espiritualidade, saúde, meio ambiente, preferências e aversões;

– Explore datas comemorativas: Bingo de natal com prendas, jogo da memória junino, produção de máscaras de carnaval, dia do trabalho etc;

– Orientação temporal com uso do calendário e relógio;

– Passar a bola com música, quando pausar alguém continua;

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– Dinâmicas de grupo;

– Percepção auditiva com sons de animais;

– Percepção olfativa com cheiros diversos;

– Trava língua;

– Culinária, desengavete uma receita familiar;

– Passeios;

– Jogos cognitivos, como Dig-In; Stop; Tangran; Vira-letras; Uno; Mímica; dominó em dupla.

O importante é ter em mente que tudo, cada detalhe é um ganho para a pessoa estimulada. Portanto, seja afetuoso, paciente, ético, tenha o cuidado sutil de não frustrar a pessoa quando ela não conseguir responder uma pergunta ou errar, oferte ajuda para incentivá-la (o), “Vamos lá, vou te ajudar, olha aqui, que dia é hoje?”, e aponte no calendário.

Estimular é ir além das possibilidades terapêuticas… Mais do que estimular memórias, estamos aqui para criar novas recordações!

Simone Manzaro é a autora do livro “Alzheimer: identificar, cuidar, estimular”, para mais informações, acesse: https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/produto/alzheimer-identificar-cuidar-estimular/

Fotos: arquivo Centro-dia Angels 4U


https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/produto/centro-dia/

Simone de Cássia Freitas Manzaro

Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. Realiza atendimento psicológico de adultos e idosos e, de familiares e cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e similares. Atuação voltada para o contexto do envelhecimento frágil. Possui experiência em Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação para pessoas com Doença de Alzheimer e similares e, Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação preventiva para grupos acima dos 50 anos. Realiza consultoria em Psicogerontologia; orientação e treinamento de familiares e cuidadores formais sobre o contexto da doença bem como, os manejos psicológicos, emocionais e comportamentais necessários, auxiliando-os a criar estratégias e atividades para lidar com a pessoa doente no cuidado diário, supervisionando treinamento prático. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer - ABRAz-SP; membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: [email protected]

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Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. Realiza atendimento psicológico de adultos e idosos e, de familiares e cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e similares. Atuação voltada para o contexto do envelhecimento frágil. Possui experiência em Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação para pessoas com Doença de Alzheimer e similares e, Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação preventiva para grupos acima dos 50 anos. Realiza consultoria em Psicogerontologia; orientação e treinamento de familiares e cuidadores formais sobre o contexto da doença bem como, os manejos psicológicos, emocionais e comportamentais necessários, auxiliando-os a criar estratégias e atividades para lidar com a pessoa doente no cuidado diário, supervisionando treinamento prático. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer - ABRAz-SP; membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: [email protected]

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