Envelhecer com Futuro

Envelhecer com Futuro

Para efetivamente envelhecer com futuro precisamos constituir uma sociedade para todas as idades.


Gisela Castro (*)

A presente obra, Envelhecer com Futuro, reúne os resultados das pesquisas selecionadas pelo Edital Acadêmico 2023 do projeto Envelhecer com Futuro, uma parceria bem-sucedida entre o Itaú Viver Mais e o Portal do Envelhecimento e Longeviver. A discussão aqui proposta não poderia ser mais atual e urgente. Afinal, estamos em plena Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), promovida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como parte das iniciativas da Agenda 2030 da ONU, principal estratégia para a constituição da Sociedade para Todas as Idades, daquela em que todos possam participar plenamente.

Para construir a Sociedade para Todas as Idades precisamos, sem dúvida, em primeiro lugar colocar em xeque o senso comum jovem-cêntrico que transforma a juventude em um imperativo social e estigmatiza o envelhecimento como ameaça ao bem-viver. “Mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos em relação ao envelhecimento”(1) é justamente o primeiro pilar da Década do Envelhecimento Saudável.

Conforme a OMS(2), o idadismo (ou etarismo, do inglês ageism) se desdobra em três dimensões: estereótipos (como pensamos), preconceitos (como sentimos) e discriminação (como agimos) em relação às pessoas com base na sua idade. O idadismo se manifesta em três níveis: institucional, interpessoal e/ou contra si próprio, de forma explícita ou inconsciente.

Idadismo começa na infância e é reforçado ao longo da vida. É algo que se intercruza com outros estereótipos, preconceitos e discriminações tais como o capacitismo, o racismo, o sexismo e a LGBTQfobia, dentre outros, com efeitos nefastos sobre a saúde, o bem-estar e os direitos humanos.

Dentre as recomendações da OMS para combater o idadismo e mudar a situação de opressão em relação ao envelhecer e ao longeviver, destacamos a necessidade de fomentar o debate com base na produção de conhecimento que permita melhor compreender como funciona o etarismo em nossas sociedades. Investir em estratégias de combate e prevenção com base em pesquisas científicas pode resultar não apenas no esclarecimento público como na elaboração de projetos, políticas e leis mais bem direcionados a esta temática, assim como em intervenções educacionais e de contato intergeracional para que possamos congregar os diferentes âmbitos da sociedade e dizer não ao idadismo e a todas as formas de discriminação e desrespeito às pessoas idosas, suas famílias e comunidades.

Em um contexto de acelerado envelhecimento populacional e de longevidade hoje muito mais espraiada nos diversos segmentos da população, a presente obra tem o mérito de promover a difusão de conhecimento cientificamente fundamentado sobre o envelhecimento e o longeviver.

Para que possamos envelhecer com futuro, como propõe o título deste belo projeto, é indispensável não fugir ao confronto com a finitude que nos constitui. É preciso, ainda, muita sabedoria e lucidez para não cercear a polissemia do envelhecimento ao limitar seu largo espectro de sentidos à negatividade das perdas, ocaso e fim.

Envelhecer com futuro é uma provocação que sinaliza ser este o momento de enxergarmos o envelhecimento como singular processo complexo, multifacetado e profundamente heterogêneo em seus múltiplos atravessamentos biográficos, biológicos, psicofísicos, neurogênicos, psicossociais, socioculturais e afins.

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Se envelhecer com futuro diz respeito ao devir incessante que caracteriza o viver e, por que não, também o longeviver, proponho que esta leitura funcione como fomento à constituição de um amplo movimento social para transformar o discurso em torno da idade, do envelhecimento e do longeviver, livrando-o das armadilhas do idadismo.

Desejando a todos uma proveitosa leitura, convido-os a tomar papel ativo na promoção da convivência respeitosa, solidária e afetuosa entre gerações para que possamos efetivamente envelhecer com futuro, constituindo, enfim, o horizonte que enseja a Sociedade para Todas as Idades.

Notas
(1) Para saber mais, vale consultar a página da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), braço da OMS responsável por liderar as iniciativa interinstitucionais da Década do Envelhecimento Saudável nas Américas.
(2) Relatório Mundial sobre o Idadismo disponível aqui.

(*) Gisela G. S. Castro – Titular do Programa de Mestrado e Doutorado em Comunicação e Consumo da ESPM-SP. Coordenadora do Comitê ESPM de Direitos Humanos. Coordenadora do ESPM LongevLab. E-mail: [email protected]

Serviço
Envelhecer com Futuro
(Selo) Edital Acadêmico de Pesquisa
Organizadoras: Anna Fontes e Beltrina Côrte
Editora: Portal Edições
Ano: 2024
Disponível online e gratuitamente: https://www.itauvivermais.com.br/publicacoes/


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