Morre Dona Cadu, 104 anos, uma das maiores guardiãs da cultura ancestral afro-indígena

Morre Dona Cadu, 104 anos, uma das maiores guardiãs da cultura ancestral afro-indígena

Dona Cadu era também sambadeira e rezadeira. Foi homenageada ao longo da vida.


Por Karla Souza (*)

O Brasil perde uma de suas maiores guardiãs da cultura ancestral afro-indígena. Na madrugada do dia 21 de maio, Ricardina Pereira da Silva, popularmente conhecida como Dona Cadu e precisamente intitulada como “Tesouro Humano” pelo Memorial Valorativo, faleceu aos 104 anos em Maragogipe, no Recôncavo Baiano.

Identificada também pela alegria, energia e sorriso no rosto, o legado dela é inestimável pelas múltiplas produções, entre elas o artesanato com a cerâmica – sendo a brasileira mais antiga na produção. A causa do falecimento não foi informada.

Nascida em 14 de abril de 1920, em São Félix (BA), Dona Cadu dedicou sua vida ao artesanato e à preservação das tradições da região. Sua sabedoria ancestral transcende gerações e fronteiras, influenciando não apenas sua comunidade local, mas também acadêmicos e artistas de diferentes lugares.

Desde os 10 anos de idade, o contato com o barro fazia parte da rotina dela. “Era menina ainda quando vi uma vizinha de meu pai fazendo cerâmica. Eu olhava e achava bonito. Ela me perguntou se eu queria aprender e eu aceitei na hora. Assim, do barro, há anos, tenho tirado o sustento da minha família e consegui educar meus filhos”, revelou a ceramista, de acordo com o Instituto Mandarina.

A sanfelixta também era reconhecida por seu talento como rezadeira, líder comunitária, além de sambadeira, mantendo viva a musicalidade e o ritmo do Recôncavo Baiana. Dona do Samba de Roda Filhos de Dona Cadu, sua voz ressoou pelos terreiros e ruas, celebrando a herança cultural de seu povo.

Não perca nenhuma notícia!

Receba cada matéria diretamente no seu e-mail assinando a newsletter diária!

Sua contribuição para a cultura baiana foi reconhecida formalmente com títulos de Doutora Honoris Causa pelas prestigiosas Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Universidade Federal da Bahia (UFBA). 

A UFRB decretou luto oficial de três dias em homenagem a Dona Cadu, reconhecendo sua contribuição excepcional para a cultura e a identidade brasileiras. “A sua trajetória é definida por um reconhecimento de singularidade por suas atividades de ceramista, de sambadeira e de rezadeira, sendo uma grande referência da cultura do Recôncavo da Bahia de ancestralidade africana e indígena”, declarou a instituição em nota.

(*) Karla Souza – Escreve para a Revista Afirmativa, organização de mídia negra fundada em 19 de março de 2014.

Imagem de destaque extraída do vídeo “Doutora Dona Cadu”


banner promovendo curso sobre envelhecimento na perspectiva da gerontologia social
Portal do Envelhecimento

Compartilhe:

Avatar do Autor

Portal do Envelhecimento

Portal do Envelhecimento escreveu 4308 posts

Veja todos os posts de Portal do Envelhecimento
Comentários

Os comentários dos leitores não refletem a opinião do Portal do Envelhecimento e Longeviver.

LinkedIn
Share
WhatsApp
Follow by Email
RSS