Doença de Alzheimer: como lidar com mudanças súbitas de comportamento e cognição?

Doença de Alzheimer: como lidar com mudanças súbitas de comportamento e cognição?

As mudanças de comportamento e cognição na Doença de Alzheimer representam um desafio.


Por Laydiane Alves Costa e Thais Bento Lima da Silva (*)

A Doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente em populações envelhecidas. Caracteriza-se por uma deterioração progressiva das funções cognitivas, incluindo memória, linguagem, e habilidades de resolução de problemas, além de afetar o comportamento dos indivíduos. Um dos aspectos mais desafiadores dessa doença são as mudanças súbitas de comportamento e cognição, que podem ocorrer em qualquer fase do processo de deterioração. Portanto, compreender essas alterações e saber como lidar com elas é fundamental para a qualidade de vida da pessoa idosa acometida pela doença e para o bem-estar dos cuidadores.

As mudanças súbitas de comportamento e cognição em pessoas com Alzheimer podem manifestar-se de diversas formas, como agressividade, agitação, confusão, alucinações e delírios. Estas alterações frequentemente surpreendem os cuidadores e familiares, já que podem ocorrer de forma inesperada e sem um gatilho aparente. Estudos recentes indicam que esses episódios podem estar relacionados a fatores como infecções, uso de medicamentos, estresse ambiental ou alterações no ciclo de sono (Kwon et al., 2021).

Essas mudanças comportamentais e cognitivas não só afetam a capacidade da pessoa de interagir com o ambiente, mas também aumentam significativamente o estresse dos cuidadores, que muitas vezes se sentem despreparados para lidar com essas situações. É crucial que os cuidadores sejam capacitados para identificar possíveis causas subjacentes e para adotar estratégias eficazes de manejo (Ju et al., 2022).

Intervenções

Portanto, lidar com mudanças súbitas de comportamento e cognição requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo tanto intervenções farmacológicas quanto não farmacológicas. A abordagem farmacológica pode incluir o ajuste de medicamentos existentes ou a introdução de novos medicamentos para controlar sintomas específicos, como antipsicóticos para tratar alucinações ou antidepressivos para controlar a depressão (Magierski et al., 2020). No entanto, deve-se ter cautela, pois esses medicamentos podem apresentar efeitos colaterais significativos, especialmente em populações idosas.

As intervenções não farmacológicas, por outro lado, são frequentemente referidas como primeira linha de ação. Essas intervenções incluem o manejo do ambiente da pessoa com a doença, a promoção de uma rotina diária estruturada e a utilização de técnicas de comunicação que reduzam a agitação e a confusão. Por exemplo, criar um ambiente calmo e familiar pode ajudar a minimizar a ansiedade e a agitação. Além disso, técnicas de validação, que envolvem reconhecer e aceitar os sentimentos da pessoa sem tentar corrigi-los, têm demonstrado eficácia em reduzir comportamentos agressivos (Li et al., 2022).

As mudanças súbitas de comportamento e cognição na Doença de Alzheimer representam um desafio significativo tanto para as pessoas acometidas pela doença  quanto para os cuidadores. Uma compreensão aprofundada dos fatores que contribuem para essas mudanças, aliada a estratégias eficazes de manejo, é importante para minimizar o impacto dessas alterações e para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.  É igualmente importante que os cuidadores recebam o apoio necessário para enfrentar esses desafios de maneira eficaz e compassiva.

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Referências

JU, Y.; TAM, K. Y. Mecanismos patológicos e estratégias terapêuticas para a doença de Alzheimer. Neural Regeneration Research, v. 17, n. 3, p. 543-549, mar. 2022. Disponível em: https://doi.org/10.4103/1673-5374.320970. Acesso em: 3 set. 2024.

KWON, C. Y.; LEE, B. Prevalência de sintomas comportamentais e psicológicos de demência em pacientes com demência residentes na comunidade: uma revisão sistemática. Frontiers in Psychiatry, v. 12, p. 741059, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fpsyt.2021.741059. Acesso em: 3 set. 2024.

LI, Y. Q.; YIN, Z. H.; ZHANG, X. Y.; CHEN, Z. H.; XIA, M. Z.; JI, L. X.; LIANG, F. R. Non-pharmacological interventions for behavioral and psychological symptoms of dementia: A systematic review and network meta-analysis protocol. Frontiers in Psychiatry, v. 13, p. 1039752, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fpsyt.2022.1039752. Acesso em: 3 set. 2024.

MAGIERSKI, R.; SOBOW, T.; SCHWERTNER, E.; RELIGA, D. Farmacoterapia de sintomas comportamentais e psicológicos de demência: estado da arte e progresso futuro. Frontiers in Pharmacology, v. 11, p. 1168, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fphar.2020.01168. Acesso em: 3 set. 2024.

(*) Laydiane Alves Costa Gerontóloga pela Universidade de São Paulo (USP), Especialista em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo (GETEC). Assessora científica do projeto de pesquisa de validação do Método SUPERA.
Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.

Foto de Mart Production/pexels.com/photo/woman.


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