Depressão: a faca de dois gumes na sexualidade

Depressão: a faca de dois gumes na sexualidade

A depressão é um assunto muito sério e precisa ser cada vez mais abordada.


Marta sempre gostou de frequentar a missa de domingo, mas ultimamente nem isso tem feito. “Parece que perdi o interesse para todas as coisas”, foi o que me disse, além de estar um pouco mais irritada, com insônia e ter perdido o apetite e alguns quilos. Tem 82 anos, é casada e seus familiares estão preocupados com seu quadro.

Sua história ilustra algo extremamente comum em pessoas idosas, porém pouco reconhecido e tratado adequadamente, a depressão, cuja terapia envolve não só medicamentos, mas uma extensa possibilidade de outras estratégias, como psicoterapia, psicoeducação, psicanálise, suporte social, atividade física, entre outras.

E, aqui, quero ressaltar outro aspecto dessa condição também pouco comentado: a sua influência na nossa expressão sexual.

Digo isso porque a depressão é quase uma faca de dois gumes. Por um lado, ela pode reduzir a libido e a vontade da pessoa interagir sexualmente. Por outro, a maioria dos medicamentos utilizados para seu tratamento também pode impactar no desejo sexual e no orgasmo da pessoa.

Dessa forma, muitos profissionais da saúde podem até ficar em dúvida sobre o que fazer frente a uma pessoa deprimida e com alguma “disfunção sexual”. Para eles, eu respondo: não devemos escolher opções terapêuticas menos eficazes no início do tratamento com receio de efeitos colaterais na sexualidade.

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O que faço, na prática, é tratar adequadamente a condição, unindo estratégias farmacológicas e não farmacológicas, e após a remissão dos sintomas depressivos, reavalio o tratamento, caso resultados indesejados na sexualidade tenham aparecido.

Saúde mental é um assunto muito sério e precisa ser cada vez mais abordado, não só de maneira individual, mas também social. Isso porque sabemos que alguns grupos têm uma maior vulnerabilidade para a ocorrência de síndromes ansiosas e depressivas, como migrantes, pessoas com experiência de racismo, LGBTfobia ou de violência doméstica, além de situação socioeconômica ruim e baixo suporte social.

Por fim, talvez Marta nem tivesse demanda por ressignificar sua performance e expressão sexual, mas pode ser que em alguns meses, após seu tratamento, ela voltasse a se olhar sexualmente.

Serviço
Para saber mais sobre esta temática, clique aqui: www.miltoncrenitte.com.br

Foto: Reem Mansour/pexels


Milton Crenitte

Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

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Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

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