Crônica de um cuidador: o poder de um abraço

Dona Alva nos deixou um grande exemplo, que um simples abraço pode proporcionar um grande bem-estar e tem o poder de promover benefícios inexplicáveis

Hailto Santo (*)


Em um de meus atendimentos que realizei como acompanhante de uma cliente que tinha alguma necessidade de ajuda em casa, tive a oportunidade e o prazer de conhecer dona Alva. Uma senhora muito feliz e descontraída, porém desmotivada, devido a uma doença agressiva que tinha tirado um pouco de seu prazer de viver. Minha principal prestação de serviço era estar em sua casa em certo horário para administrar algumas medicações e prestar alguns cuidados de enfermagem. Parece que em certas doenças e angústias, algumas dores ficam insuportáveis, e quase incuráveis, e com a sensação que não irá cessar jamais.

O atendimento ocorreu em 2019, solicitado por um médico conhecido, para acompanhar uma cliente sua. Como eu morava perto do bairro da cliente, fui então convidado a fazer esse atendimento.

Ela tinha uma patologia rara e tinha ido ao hospital para realizar um procedimento cirúrgico, a fim de amenizar um pouco sua dor causada pela sua doença. Foi instalado um dispositivo (dreno) para retirar um pouco de líquido que lhe proporcionava muita dor, devido uma compressão abdominal. Dona Alva era uma senhora de 65 anos, muito ativa e muito animada, mas neste caso, como de outras doenças, parece que a pessoa perde a alegria e desejo de viver, sendo desmotivada pela dor, sofrimento e solidão.

Além dos meus serviços de acompanhante, e alguns procedimentos de enfermagem, dona Alva tinha uma equipe que lhe dava todo suporte; sua fiel secretária, sua filha e companheira de todas as horas, e outra acompanhante, a qual chamarei de a vendedora de sorrisos pela alegria que ela trazia àquele quarto quando ela chegava. Fazia tudo exalando bom humor, e sorriso por onde passava, era um verdadeiro time de AMOR que agregava muito em todo tratamento ali ofertado.

Em uma das noites de atendimento, dona Alva relatou que quando estava em sua cidade Natal, e junto à sua família, em dado momento – quando sua dor era tão intensa que não aliviava nem com medicações como a morfina, que só servia para amenizar um pouco a dor -, ela pediu à sua sobrinha para lhe acariciar. Sua fala era:

– Só me abraça, assim você vai amenizar minha dor.

Porém, sua sobrinha lhe dizia:

– Eu vou lhe abraçar e lhe beijar até a sua dor passar.

Às vezes a dor é tão intensa que não conseguimos expressá-la. Porém, há coisas que fazemos, que vão além dos medicamentos, que podem contribuir, principalmente nos casos de pessoas que estão em cuidados paliativos, ou se sentido sozinhos.

– Como pode uma menina dizer que tem certeza que seu abraço vai amenizar a minha dor?

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Me dizia dona Alva. Mas de fato ela sentia que sua dor se abrandava após o abraço de sua sobrinha. Como se fosse um milagre. Algumas vezes, além das medicações, e todos as técnicas nela utilizadas, nós aplicávamos também muitas doses de sorrisos, e abraços.

Dona Alva já descansou, mas nos deixou este grande exemplo que um simples ato de carinho como um abraço pode proporcionar um grande benefício. Um abraço, um sorriso, podem e tem o poder de promover benefícios inexplicáveis. Como é bom poder saber que em algum momento nós conseguimos tirar pessoas de alguns lugares e colocá-las em outros; retirar alguém da rua, da tristeza… e colocá-las no bairro do sorriso, logo ali na rua da alegria, no país da felicidade.

E como é bom saber que este lugar existe e nós podemos estar lá.

O sorriso tem poder de mudar vidas. O sábio Salomão escreveu  “O coração alegre aformoseia o rosto”, como segue:

Soneto de fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Falar é fácil, tocar na alma é que é difícil, como é bom quando abraçamos e tocamos com amor!

Um abraço a todos e todas, muita saúde e paz!.

(*) Hailto Santos – Enfermeiro Graduando 8. Período, atua como técnico de enfermagem em um hospital do Rio de Janeiro. Trabalha como cuidador de idosos e ministra palestra na área de saúde, em projeto sociais e igrejas. E-mail: [email protected].

Foto destaque de Andrea Piacquadio/Pexels


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