A presença de crianças em ILPIs dinamiza as perspectivas de pessoas idosas e a prática da intergeracionalidade pode se tornar algo natural e até uma política pública
Certa vez, na tutoria de estágio em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos na zona sul de São Paulo, o projeto desenvolvido pelos estudantes de Gerontologia envolveu a aplicação de um questionário a familiares que visitam os moradores, com o objetivo de compreender quais seriam as oportunidades de interação entre gerações. Houve manifestações positivas, mas algumas demonstravam desconhecimento sobre a ambiência da casa, sugerindo ser um lugar de tristeza e incompatível com a energia das crianças.
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Até para famílias que poderiam visitar juntamente com netos e bisnetos, as falas denunciavam a falta de empatia com os parentes idosos. Na reportagem da jornalista Mariza Tavares, o estímulo a visitas com crianças menores de três anos de idade no Japão demonstra que essa iniciativa pode ser interessante para todos que participam do projeto.
Elas são “bebês funcionários” de uma instituição de longa permanência em Kitakyushu, cidade localizada no Sul do Japão, e sempre arrancam sorrisos – às vezes lágrimas – quando visitam os idosos. E ainda recebem “pagamento”: leite ou um pacotinho de fraldas embrulhadas para presente onde, além do nome de cada uma, está escrito: “salário”.
A iniciativa conta ainda com reforço escolar para crianças maiores, sejam filhos de funcionários ou visitantes. A presença de crianças circulando pela casa dinamiza as perspectivas de alguns que permanecem em salas de estar ou de TV, muitas vezes sem qualquer atenção ao programa televisivo. Além de jovens e adultos que podem trazer conteúdos e atividades para interação, crianças podem provocar movimentos e brincadeiras para participação ou simples observação pelos moradores idosos.
Segundo o relato de pais que levavam sua filha havia seis meses, a convivência com idosos era importante porque os avós moram distantes e, portanto, esses encontros eram oportunidades para relacionamentos intergeracionais. As crianças brincam à vontade e são sempre aguardadas pelos moradores, sendo que o cadastro da instituição visitada já contava com quase 50 crianças. O incentivo aos pais com o “salário” entregue, mais do que representar um valor econômico, demonstra o valor do bem-estar oferecido nesses encontros. As trocas emocionais certamente são marcantes e inesquecíveis, tanto para os bebês quanto para as pessoas idosas.
Ao se considerar que essa ideia poderia ser adotada por muitas casas, em especial as filantrópicas e públicas, a prática da intergeracionalidade se tornaria algo natural e poderia tornar-se uma política pública. Incentivada pelas esferas governamentais que considerem a longevidade um assunto a ser constantemente debatido, cadastrar famílias com crianças pequenas que visitariam moradias institucionais próximas de suas casas poderia até garantir o recebimento de produtos necessários: todos sairiam ganhando, principalmente na quebra de mitos sobre a velhice.
Foto de destaque de cottonbro studio/pexels.