O Livro dos Afetos reúne depoimentos dos participantes dos cursos ministrados por Cremilda Medina na USP e no Espaço Longeviver (Portal do Envelhecimento)
Quem tem o privilégio de fazer uma disciplina com a professora Cremilda Medina, seja na graduação, na pós-graduação ou em um curso extracurricular como os nossos, a possibilidade de uma mudança para melhor beira a 100%. Os depoimentos colhidos a seguir dão conta disso. Dão conta, também, do quanto especial tem sido os encontros realizados nos últimos anos sob o guarda-chuva das oficinas interdisciplinares das Narrativas da Contemporaneidade – Memórias Lúdicas.
Defensora do Signo da Relação, da obtenção de saberes por meio dos cinco sentidos, da narrativa dialógica, em tempos de pandemia a professora teve que se reinventar e os últimos encontros se deram por meio das redes sociais (Google Meet). Mas logo dominou o ambiente virtual e sua mensagem afetuosa alcançou e conquistou pessoas em vários pontos do país: Ana Carneiro no Rio de Janeiro; Marisa Magnus no Rio Grande do Sul; Jorge Lobato em Brasília; Rosana Leal na Bahia e Rosineide Santos no Recife são exemplos disso. Antes, só quem era de São Paulo tinha o privilégio, pois o curso era unicamente presencial. Muitos dos colegas depoentes compartilharam momentos inesquecíveis com a professora na sede do Portal do Envelhecimento (Espaço Longeviver) e no prédio histórico da Rua Maria Antônia – CEUMA-USP. Os mais antigos, e mais privilegiados ainda, na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA), com direito a reuniões na residência da professora, seguidas de chá e petiscos, praticando a arte da oratura na companhia dela e do marido, o escritor Sinval Medina. Representantes desse núcleo são as depoentes Ângela Balbão, Cecília Borges, Etty Veríssimo e eu, Mário Lucena.
Na ECA, o ambiente era tenso e intenso. Ali, a professora era professora e nós éramos alunos e alunas. Ninguém estava muito à vontade e, sentindo isso, a professora migrou para a Maria Antônia e aboliu a mesa e a lousa, tornando nossos encontros algo mais informal, uma roda de conversa. Mas em qualquer situação o que prevalece é a acolhida, seu empenho em identificar e promover o melhor em cada um de nós. Cremilda há muito deixou de ser professora para ser orientadora. A convivência com seus alunos e alunas de doutorado nos ajudou a perceber essa marca: ela atua o tempo todo para nos tornar melhores, para desenvolver nossas potencialidades.
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Então, ao tomar a decisão de conviver com Cremilda Medina, você deve se preparar para mudar. Mudar para melhor por meio de uma carga de saberes que nunca é demasiada, pois estará sempre de acordo com sua capacidade de recepção (embora a recepção seja sempre um mistério); prepare-se para receber especialmente uma carga de humanização por meio de uma descarga de afeto que impactará seu amanhã. Por isso chamamos nosso livro de depoimentos de Livro dos Afetos.
Estar afeto a, nos cursos ofertados por Cremilda Medina, não é uma expressão por si só, é um ato de amor explícito que se descortina a cada encontro. É realmente transformador. Melhora o humor, a autoestima, tudo, e melhora aquilo que buscamos: nossa escrita, nossa capacidade de narrar com protagonismo, considerando contextos sociais, buscando raízes histórico-culturais e levando em conta outras opiniões que apontem para diagnósticos e prognósticos que possam tornar nossas narrativas robustas. Enfim, melhora o ser humano que há em cada um de nós.
Com esta iniciativa – o Livro dos Afetos – homenageamos a professora que hoje completa 80 anos, agradecendo imensamente por compartilhar seus conhecimentos conosco e a convidamos para seguir compartilhando nos nossos encontros, nas nossas rodas de conversa.
A seguir alguns trechos dos depoimentos:
Ana Carneiro: Pode-se dizer que a marca mais tocante das oficinas da professora Cremilda Medina é o afeto. Não o afeto a que estamos corriqueiramente acostumados nas nossas relações pessoais, mas um que se faz presente pelo reconhecimento do outro e de seu valor. É o que ela nos leva a compreender não só pela forma como estabelece contato com nossas produções textuais e as comenta, mas também quando nos provoca a introduzir nos textos que produzimos a voz coloquial, a voz local.
Aurora Yasuda: A minha eterna gratidão pelo processo transformador que você desencadeou na minha vida, aos poucos tirando o pensamento lógico sedimentado por muitos anos e possibilitando me soltar no mundo mágico da escrita. A busca das memórias guardadas e travadas no coração foram a chave para essa mudança.
Cíntia Liesenberg: Professora querida, como foram importantes suas aulas para nos salvar dos horrores do claustro e do contexto imposto por essa pandemia. Nossas quartas-feiras foram preenchidas pelas trocas, resultado de sua trajetória e de tantas outras que se entremearam ao novelo vivo de nossos encontros, ainda que virtuais. Uma característica dos Grandes é fazer crescer e brilhar também o Outro. Saímos maiores e mais iluminados dos momentos com você!
Marlene P. Rocha: Não tenho palavras suficientes para descrever a imensidão da importância da generosidade e da delicadeza da professora Cremilda Medina para as nossas aulas neste curso. Nas oficinas das quais participei tive a valorosa oportunidade de viver momentos de muito aprendizado nos oportunizado por uma pessoa extremamente humana que, compartilhando suas memórias afetivas, me conduziu carinhosamente às viagens e às memórias pessoais que, por tantas razões, já estavam esquecidas nas profundezas do meu inconsciente.
Neyza Furgler: Convidaram-me a participar do curso Narrativas da Contemporaneidade (Memórias Lúdicas) e lá fui eu, curiosíssima para saber quem e como é Cremilda Medina. E, então, me surpreendi com sua cultura e capacidade de comunicação, com sua experiência de vida, sempre relatada em suas narrativas, com seus conselhos, com sua humanidade e humildade perante todos nós, seus atentos alunos que sorvem cada uma de suas palavras sobre todo e qualquer assunto de interesse no momento.
Rita Amaral: Com você aprendi outro significado da palavra Afetar. Ela não está no dicionário com o sentido que você a usa e nos ensinou a usar durante as oficinas. Afetar compreende o signo da relação entre o Eu e o Outro. As palavras escritas ou ditas nos afetam. Os gestos também. Agradeço por muito o que aprendi. Admiro demais seu gesto de ensinar e valorizar o aprendiz.
Rosana Leal: O curso é uma oportunidade de beber na fonte do conhecimento com quem a escrita é fluída, derruba as estruturas arcaicas, faz com que próclises e mesóclises sejam apagadas da vida daqueles que querem fazer com que a comunicação seja eficiente e eficaz. Muito obrigada pelo acolhimento e ensinamentos.
Rosineide Santos: Obrigada por ter se dedicado ao nosso aprendizado em uma época tão caótica, tão cheio de incertezas e, ao mesmo tempo, tão cheio de esperanças. Você é inspiração, sua forma de passar conhecimento é única e despertou em mim uma vontade de escrever indescritível. Nossos encontros semanais me fizeram ultrapassar esse período pandêmico de uma forma mais leve, enxergando a minha frente um horizonte alcançável. Obrigada.
Suely Tornaque: Cremilda, querida, tive a sorte de conhecê-la, presente da Pandemia e do Portal do Envelhecimento, nossas quartas-feiras ficaram mais belas e divertidas, nossas vidas mudaram ao descobrirmos a escrita presentificada, o deslocamento do narrador e outras tantas maravilhas reveladas nos nossos encontros únicos, inesquecíveis e recheados de afetos.
O ebook pode ser baixado gratuitamente no link a seguir: https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/novo/produto/livro-dos-afetos-homenagem-a-cremilda-medina/
Ilustração: Dhara Côrte