Diagnosticado com câncer, Lansky sabe que tem pouco tempo de vida e resolve contar sua história para um escritor. De cara ele nos lembra que não existe a regra da velhice tornar as pessoas melhores e mais sábias.
Al Capone, gangster de origem italiana que apavorou o meio-oeste americano, todos conhecem; Meyer Lansky, o cérebro por trás do Sindicato Nacional do Crime, o mais notório mafioso das américas, poucos sabem quem é. E não é por falta de obras literárias e cinematográficas, são muitas retratando sua vida. Lansky morreu em 1983, aos 81 anos, mas quem é este homem? O idealizador de Las Vegas, a cidade dos casinos? As respostas no filme não são pequenas. Por exemplo: quem venceu o nazismo? Lansky. Quem fundou Israel? Lansky. Quem permitiu que o comunismo se instalasse em Cuba? Lansky.
O ator que faz o papel de Lansky, filme sobre a máfia, Harvey Keitel, tem, no momento da filmagem, a mesma idade do mafioso retratado no filme, 80 para 81 anos e, como Lansky, é de origem judia. No filme, Lansky é apresentado como um verdadeiro estadista, a quem presidentes pedem apoio e conselhos. É isto o que colhe um escritor medíocre, David Stone, representado pelo ator australiano Sam Worthington. Como todo escritor medíocre, David sonha em produzir um best seller e resolver seus problemas financeiros para sempre, só que nos seus calcanhares está a ex-mulher e os homens da Lei, uma dupla mais interessada nos 300 milhões de dólares do que na biografia do mafioso.
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O Lansky de 2021 espera ser o filme definitivo sobre o gangster mais poderoso de todos os tempos. E o que esse filme pode nos ensinar para além do entretenimento? Ele nos lembra que não existe a regra da velhice tornar as pessoas melhores e mais sábias. Lansky faz questão de lembrar que, para algumas pessoas, “velhos hábitos nunca morrem”. No caso dele, fica claro que cultiva hábitos como roubar, subornar, mentir e matar. Na política temos exemplos terríveis e muito presentes. O poder potencializa os piores hábitos. E Lansky circula nesse meio, no qual uma casta vive às margens da lei. Não à toa exige das autoridades o mesmo tratamento dado, por exemplo, aos donos da Ford, Coca-Cola etc. Tão ou mais bandidos quanto ele. Os grandes empresários do mundo atuam assim, pagando para ver, e são respeitadíssimos. A indústria do jogo gera 250 bilhões de dólares anualmente e emprega um milhão de pessoas, por isso Lansky não é incomodado pela Lei. Lansky manda eliminar um inimigo ou outro, ou seja, mata a granel, a polícia consegue contar os mortos, já a indústria de cigarro e bebida mata no atacado, suas mortes são incontáveis.
Resumo da ópera: diagnosticado com câncer, o mafioso sabe que tem pouco tempo de vida e resolve contar sua história para um escritor, mas policiais corruptos o que querem é descobrir, antes que ele morra, onde enterrou 300 milhões de dólares. Essa é uma lenda que o acompanha e que o filme se propõe a desvendar.
Vamos retomar a pergunta: quem é Lansky? Judeu russo, quando menino presencia uma cena terrível: um cossaco humilha seu tio, um camponês pobre, manda que ele atire uma batata para o alto para o soldado cortá-la com a espada. Em vez de acertar o tubérculo, decepa, propositadamente, a mão do tio. Lansky aprende sua primeira lição de vida: é melhor ter uma espada na mão do que uma batata. Nos Estados Unidos, aos dez anos, aprende sua segunda lição: na vida, quem vence não é o jogador, mas quem controla o jogo. Cresce disposto a controlar o jogo com uma arma, no caso, sua mente afiada para números.
Para controlar o jogo na prática, Lansky une os criminosos em torno do Sindicato Nacional do Crime. São basicamente judeus, italianos e irlandeses. Organizados, dominam a América e faz de Cuba um playground. Mas a vida, mesmo com muito dinheiro, não é colorida, descobre Lansky. A vida é cheia de tons de cinza. E uma pincelada gris vem com o nascimento do filho deficiente. Cai a ficha: a vida é um jogo que ninguém controla. Mas, para sua mulher, Deus está no controle e o filho é claramente um castigo por conta dos pecados do pai.
O orgulhoso Lansky vive as mudanças e teme por seu destino. Acreditando-se ainda no controle, muda-se para Israel, a casa de todos os judeus, especialmente dele que fornece armas e muito dinheiro para o Estado se tornar realidade. Não consegue a cidadania e ainda é banido. Aprende que a medida do homem é dada por quem o ama. E quem ama Lansky? E a quem Lansky dedica seu amor?
O filme retrata Lansky aos 80 anos, um ano antes de sua morte, em 1983, provavelmente no local em que ele enterrou todo o seu dinheiro e que acolhe sua velhice e a do filho.
Serviço
Lansky, filme sobre o gangster Meyer Lansky
Estrelado por Harvey Keitel e Sam Worthington
Escrito e dirigido por Eytan Rockaway
Elenco: Harvey Keitel, Sam Worthington, Annasophia Robb, Minka Kelly, John Magaro, Jackie Cruz
Estreou nos EUA em 2021
Foto destaque de: Divulgação/Vertical Entertainment