Conhecimento ancestral e práticas colaborativas-dialógicas

Conhecimento ancestral e práticas colaborativas-dialógicas

O conhecimento ancestral influencia as crenças sobre as origens e a natureza das doenças mentais e moldam as atitudes em relação às pessoas que consideramos doentes mentais

Por Taos Associates Rocio Chaveste e ML Papusa Molina, Instituto Kanankil, México


Conhecimento ancestral e práticas dialógicas colaborativas: um encontro generativo, é o título de um capítulo com o qual contribuímos para o livro editado por Harlene Anderson e Diane Gehart, Prática dialógica colaborativa: relacionamentos e conversas que fazem a diferença entre contextos e culturas (Routledge, 2023). Nele exploramos como o conhecimento ancestral – conceitualizado como um conjunto de experiências e práticas de pessoas e comunidades que existem há milhares de anos – são de fato práticas dialógicas colaborativas.

Quando o Kanankil (instituto cujo currículo está ancorado no construcionismo social e nas práticas colaborativas-dialógicas) foi fundado, o nome foi escolhido pela sua multiplicidade de significados: “em conversa”, “estar lado a lado com os outros”, “gerando conhecimento com outras pessoas”.

Trabalhar na região maia de Yucatán, no México, também nos levou a refletir sobre as formas como diferentes culturas ancestrais pensaram sobre a saúde mental. O conceito de doença mental varia entre indivíduos, famílias, etnias e culturas. Na verdade, os ensinamentos culturais e espirituais influenciam frequentemente as crenças sobre as origens e a natureza das doenças mentais e moldam as atitudes em relação às pessoas que consideramos doentes mentais.

Portanto, compreender as crenças culturais sobre a doença mental é essencial para implementar abordagens eficazes de cuidados de saúde mental, embora a experiência de cada indivíduo seja única. Por exemplo, a visão da saúde relacionada com a “harmonia” com o ambiente realça quão vital é para os profissionais de saúde mental compreenderem o contexto dos seus clientes.

Muitas maneiras pelas quais vivemos são informadas por conhecimentos ancestrais transmitidos de uma geração para outra. Neste mundo pós-moderno, os limites e as divisões entre noções dualistas são confusas. Esta forma não dualista de olhar, compreender e construir a realidade também é central para muitos povos indígenas.

Quando o povo maia fala de indivíduos, de seus corpos e de suas identidades, eles os descrevem como uma réplica do cosmos. Os indivíduos são definidos pelos seus relacionamentos. O “eu” não existe sem o “você”, e a relação entre “você” e “eu” constrói o “nós”. No entanto, “nós” não podemos existir senão em relação com “eles”. É um conceito chamado nosotricidad, em que eu/você/nós/eles só existimos em relação, e essas relações são construídas dentro de uma comunidade.

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A dimensão espiritual tem um significado central pois, nesta dimensão, os maias concebem o mundo de forma relacional, com unidade entre alma, corpo, comunidade, plantas, animais, terra e aqueles que caminharam neste planeta antes de nós. A doença é concebida como uma quebra da ordem e do equilíbrio entre o indivíduo, a comunidade e as divindades. A tarefa do curador é reconstruir a ordem e o equilíbrio e atuar como intermediário entre os três.

Se a pessoa se sente doente, significa que violou as normas locais de reciprocidade com a comunidade, os antepassados ​​e os deuses. Essa violação afeta toda a família e outros membros da comunidade. O mundo espiritual está sempre presente mesmo quando não tem nome. Portanto, como terapeutas, professores e trabalhadores comunitários, precisamos reconhecer como usar essas energias para facilitar a reintegração da “alma” do indivíduo.

O convite que fazemos é valorizar outras tradições. Dar-lhes um lugar à mesa, oferecendo diálogo num espaço participativo. A partir daqui, há esperança de que juntos possamos criar novas formas de vida, realidades e possibilidades, que nos permitirão sustentar uma vida enriquecedora para todas as pessoas – uma tarefa onde o diálogo constrói realidades enraizadas em diferentes contextos culturais.

Fonte: The Taos Institute, set/2023.

Foto destaque de Matheus Alves/pexels


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