As mulheres pretas enfrentam múltiplas camadas de opressão e violências ao longo da vida.
Por Thiago Medeiros da Costa Daniele, Mirna Albuquerque Frota, Larissa Oliveira Nascimento e Letticia de Araújo Mota (*)
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A sociedade tem um comportamento contraditório em relação aos corpos pretos femininos. Na juventude, esses corpos são sexualizados e objetificados; na velhice, são indesejados e desprezados. Esse ciclo de rejeição e desvalorização ao longo da vida deixa marcas “in”visíveis que afetam profundamente a autoestima, o bem-estar, a autonomia e as relações sociais dessas mulheres. Com isso, elas se tornam mais suscetíveis a vários tipos de violência, assédio e vulnerabilidades, especialmente em ambientes de trabalho insalubres.
Apesar das muitas formas de envelhecer, ainda sabemos pouco sobre como esse processo se desenrola para as mulheres pretas, especialmente aquelas que vivem no Nordeste do Brasil, apesar de a ONU, em 1992, ter reconhecido o dia 25 de julho como Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Em 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) introduziu o conceito de Envelhecimento Ativo, definindo-o como o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas à medida que envelhecem. Contudo, a implementação dessas medidas enfrenta barreiras significativas, especialmente para as mulheres pretas em situação de vulnerabilidade social.
A história das mulheres pretas idosas, marcada por desafios e superação, destaca a importância de uma abordagem interseccional para entender e enfrentar as desigualdades. Para que o envelhecimento ativo seja uma realidade para todas, é necessário um compromisso coletivo que envolva mudanças nas políticas públicas, na educação e na própria estrutura social. Ao valorizar e apoiar essas mulheres, não apenas melhoramos suas vidas, mas também construímos uma sociedade mais justa e humana.
Os determinantes sociais, culturais e ambientais que dificultam o envelhecimento ativo dessas mulheres precisam ser abordados com urgência. A falta de acesso a cuidados de saúde adequados, a discriminação racial e de gênero, e a ausência de políticas públicas eficazes são alguns dos obstáculos que impedem uma velhice digna. É essencial que as políticas públicas sejam revisadas e ajustadas para garantir que essas mulheres recebam o apoio necessário para envelhecer com saúde e dignidade.
Além disso, a sociedade deve reconhecer e valorizar as contribuições dessas mulheres ao longo de suas vidas. Programas de educação e conscientização podem ajudar a combater o estigma associado ao envelhecimento e promover uma imagem positiva e respeitosa dos corpos pretos femininos em todas as fases da vida. Iniciativas comunitárias que envolvem as próprias mulheres em processos de decisão e implementação de projetos são cruciais para o sucesso dessas políticas.
A violência contra as mulheres pretas idosas, seja ela física, psicológica ou financeira, deve ser combatida com rigor. A criação de redes de apoio que ofereçam assistência jurídica, psicológica e social pode fazer uma grande diferença na vida dessas mulheres. Espaços seguros onde elas possam compartilhar suas histórias e encontrar solidariedade e suporte são fundamentais para a construção de um ambiente mais justo e inclusivo.
Finalmente, é imperativo que a luta contra o sexismo e o racismo seja integrada em todas as esferas da sociedade. A interseccionalidade deve ser o ponto de partida para qualquer análise ou intervenção, reconhecendo que as mulheres pretas enfrentam múltiplas camadas de opressão. Somente assim poderemos avançar em direção a um futuro mais equitativo e sustentável, onde todas as mulheres possam envelhecer com dignidade e respeito.
Nota
Artigo fruto da pesquisa intitulada “O corpo da mulher preta, idosa, nordestina e periférica: as marcas invisíveis de um mercado de trabalho excludente”, vinculado ao Edital Acadêmico de Pesquisa 2023: Envelhecer com futuro, do Itaú Viver Mais em conjunto com o Portal do Envelhecimento. Resultados maiores desta pesquisa serão apresentados durante o I Congresso Internacional Envelhecer com Futuro. Saiba mais abaixo.
(*) Thiago Medeiros da Costa Daniele – Profissional de Educação Física e Professor doPrograma de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). É coordenador do Grupo de Estudo e Pesquisa em Envelhecimento, Saúde e Subjetividades (GEPESS). E-mail: [email protected]
Mirna Albuquerque Frota – Enfermeira e Professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). E-mail: [email protected]
Larissa Oliveira Nascimento – Graduanda do curso de Educação Física da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). E-mail: [email protected]
Letticia de Araújo Mota – Graduanda do curso de Educação Física da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). E-mail: [email protected]
Foto de Mariana Montrazi/pexels.
Serviço
I CONGRESSO INTERNACIONAL ENVELHECER COM FUTURO (I Cief)
Dias: 30 de setembro e 01 de outubro de 2024
Horário: das 9 às 16 horas
Valores: O evento é gratuito.
Público: Estudantes (graduação e pós-graduação), pesquisadores, professores, profissionais do setor público e privado, de diversas áreas e setores, que atuam com o envelhecimento, organizações da sociedade civil, empresas privadas, órgãos públicos, pessoas de diversas gerações que se interessem pelo futuro do nosso envelhecer.
Certificado: Será emitido certificado de participação para todos que estiverem presentes e devidamente inscritos.
Local: O Congresso Internacional será realizado dentro da VI Longevidade Expo+Fórum, no Distrito Anhembi, em São Paulo: Av. Olavo Fontoura, 1209 – Santana, São Paulo, SP.