A importância dos grupos de convivência em um país envelhescente

A importância dos grupos de convivência em um país envelhescente

O aumento da expectativa de vida faz crescer a demanda por espaços e programas para idosos, como grupos de convivência.


Raquel da Silva Pavin (*)

O Brasil está passando por um rápido processo de envelhecimento populacional. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projetam que, até 2060, as pessoas idosas, com mais de 60 anos, representarão 25,5% da população brasileira. Para o ano de 2100, essa porcentagem poderá superar os 40%, com mais de 60 milhões de idosos no país. Esse aumento da expectativa de vida, resultado dos avanços científicos e tecnológicos, reflete-se na crescente demanda por espaços e programas, como grupos de convivência, que atendam às necessidades de uma população envelhescente.

O envelhecimento humano provoca mudanças profundas em diversos âmbitos — biológicos, psicológicos, culturais e sociais. E os grupos de convivência surgem como espaços que promovem o bem-estar ao oferecer oportunidades de socialização, reflexão sobre os processos de envelhecimento e, principalmente, ao abordar questões como perdas e ganhos que fazem parte dessa fase da vida. Essas iniciativas proporcionam um ambiente em que as pessoas idosas podem encontrar apoio, se sentir pertencentes e exercer seu protagonismo social.

Socialização e sociabilidade

A socialização é um processo contínuo ao longo da vida, no qual as pessoas interagem com a sociedade, tanto influenciando quanto sendo influenciadas por ela. Em uma sociedade em constante transformação, como apontado por Moragas (1997), as pessoas precisam adaptar-se às mudanças sociais, independentemente da fase da vida em que estejam. Nos grupos de convivência, essa socialização é favorecida, permitindo que os participantes criem novos laços, desenvolvam habilidades interpessoais e compartilhem experiências.

Simmel (1983) reforça que o ser humano transforma seu isolamento individual em formas de se conectar e interagir com os outros. Nos grupos de convivência, isso se manifesta no fortalecimento das relações sociais e na construção de um senso de comunidade. A sociabilidade nesses espaços se concretiza por meio de conversas, trocas de ideias e participação em atividades coletivas, como encontros, festas e debates.

Com o tempo, essas interações podem se aprofundar, transformando-se em relações de amizade e camaradagem, conforme observado por Motta (2004). Esses vínculos promovem um ambiente de solidariedade, aumento da autoestima e novas perspectivas de vida.

O que são grupos de convivência para pessoas idosas?

Os grupos de convivência para pessoas idosas têm como principais objetivos melhorar a qualidade de vida e promover a cidadania. Ferrigno, Leite e Abigalil (2006) destacam que esses espaços ajudam a reconstruir relações interrompidas pelo afastamento de antigos papéis sociais e a compreender novos papéis que surgem com o envelhecimento.

Além disso, os grupos atuam como espaços de resistência, combatendo as desigualdades e exclusões sociais. Eles proporcionam a troca de experiências, fomentam a participação ativa dos(as) participantes e contribuem para a autorrealização dos indivíduos, consolidando sua integração social.

Breve histórico dos grupos de convivência para pessoas idosas

Os grupos de convivência surgiram na década de 1940 nos Estados Unidos, como resposta ao aumento da expectativa de vida e ao crescente número de pessoas idosas. O modelo logo se espalhou para outros países, como a França, que também observou um aumento significativo desses espaços nesse período.

No Brasil, os primeiros grupos de convivência começaram a ser implementados na década de 1960, como alternativa para integrar idosos saudáveis que viviam isolados. Essa situação era frequentemente causada pela diminuição do núcleo familiar, os baixos rendimentos das aposentadorias e a ausência de políticas públicas de proteção. Naquele período, o envelhecimento populacional ainda não fazia parte da agenda pública, e as iniciativas voltadas para os idosos tinham caráter assistencialista, focando-se apenas em atender necessidades básicas.

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A partir da década de 1970, o Brasil começou a reformular suas políticas de Previdência e Assistência Social, ampliando o atendimento às pessoas idosas. Um marco importante foi a criação do Estatuto do Idoso, em 2003, que expandiu os direitos sociais dos idosos, garantindo-lhes acesso à saúde, lazer, educação, cultura e participação comunitária.

Benefícios dos grupos de convivência

Os grupos de convivência oferecem múltiplos benefícios para as pessoas idosas. Além de combater o isolamento social e a solidão, eles promovem a interação social, estimulam o desenvolvimento intelectual e incentivam o autocuidado. Esses grupos também desempenham um papel importante na reintegração dos idosos à vida comunitária, fortalecendo redes de apoio e promovendo trocas intergeracionais.

Outro ponto essencial é o apoio emocional que os grupos oferecem. Poder compartilhar preocupações e alegrias com pessoas que enfrentam desafios semelhantes é altamente terapêutico e pode prevenir problemas como depressão e ansiedade. As atividades físicas e culturais realizadas nesses grupos também ajudam a manter a saúde física e mental dos participantes, proporcionando um envelhecimento mais ativo e saudável.

Esses espaços são essenciais para promover o bem-estar, a socialização e a cidadania. Eles não apenas ajudam a combater o isolamento e a solidão, mas também criam um ambiente de aprendizado, troca de experiências e apoio mútuo. Investir nesses grupos é uma maneira valiosa de garantir dignidade e qualidade de vida para as pessoas idosas, assegurando-lhes um papel ativo na sociedade.

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Referências
DAL RIO, Maria Cristina; MIRANDA, Danilo Santos de. Perspectiva social do envelhecimento. São Paulo: Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social; Fundação Padre Anchieta, 2009.Disponível em: PDF.
FERRIGNO, José Carlos; LEITE, MLCB; ABIGALIL, Albamaria. Centros e grupos de convivência de idosos: da conquista do direito ao lazer ao exercício da cidadania. In: FREITAS, E. V. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
MORAGAS, M. R. Gerontologia social: envelhecimento e qualidade de vida. São Paulo: Paulinas, 1997.
MOTTA, A. B. Sociabilidades possíveis: idosos e tempo geracional. In: PEIXOTO, C. E. Família e envelhecimento. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
PAVIN, Raquel da Silva. Os grupos de convivência para pessoas idosas e o trabalho dos(as) assistentes sociais. In: Envelhecimentos no Brasil: Verdades, Equívocos e Necessidades. Santa Maria, RS: Arco Editores, 2023. Disponível em: PDF.

(*) Raquel da Silva Pavin – Assistente Social e Gerontóloga, Doutora em Memória Social e Bens Culturais, Mestra em Políticas Sociais e Serviço Social, Especialista em Saúde Coletiva, Especialista em Envelhecimento e Qualidade de Vida. Pesquisadora das velhices femininas, apoio social e avosidades, articuladora do grupo de convivência Tecendo Vivências e EnvelheCine, mediadora do Grupo de Estudos sobre Velhices Plurais (GEVP). É autora do livro “Mulheres idosas e o apoio social”. Instagram profissional: @geronidade.


Serviço
Curso online “Grupos de Convivência para pessoas idosas – estratégias coletivas para criar e manter”
Carga horária: 7,5 horas
Início: 16 de outubro, quartas-feiras
Horário: das 19 às 21h30

Foto: shutterstock


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