A importância do relacionamento intergeracional

Lala Deheinzelin diz que falta relacionamento intergeracional: jovens, os nativos digitais, sem muitos dos vícios, mas também de gente com experiência como a nossa


Lala Deheinzelin é considerada uma das 100 mulheres do mundo que estão cocriando a nova sociedade e a economia. Palestrante com experiência em todos os setores da economia, já transmitiu os seus conhecimentos em quatro continentes do mundo a organismos públicos e privados, com e sem fins lucrativos, que lideram processos sustentáveis e inovadores. Lala dedicou-se aos estudos da transdisciplinaridade e linguagem simbólica, e depois interessou-se por estudos do futuro, tornando-se uma brasileira associada à World Future Society, que deu a ela o título de Futurista.

No Brasil, Lala é também conhecida por seu trabalho como atriz, apresentadora e produtora cultural, possuindo conhecimento em artes cênicas, cinema e televisão. É cofundadora do Núcleo de Estudos do futuro da PUC/SP, parte do United Nations Millenium Project e é autora do livro Desejável Mundo Novo. Lala Deheinzelin lidera e coordena o Movimento Crie Futuros, criado em 2008, projeto de inovação voltado para inspirar futuros desejáveis.

Tendo a oportunidade de estar na Web Summit 2022, em Portugal, ao lado de Lala Deheinzelin, convidei-a a conceder-me algumas palavras que pudessem contribuir para a ampliação de nossas mentes e melhor preparação para os desafios à nossa frente. Veja só o teor de nossa conversa:

Lala, onde estamos e quais as oportunidades à nossa frente? Como agir diante destas oportunidades?

Lala Deheinzelin – A primeira coisa importante a compreender é que a história tem ciclos. Dá para compreender onde estamos. Não estamos totalmente perdidos. O ciclo maior de todos é o da própria vida que quer evoluir. Evoluir é se organizar de formas mais colaborativas. Nós como sociedade estamos como se fossemos a célula que ainda não sabe que faz parte de um organismo. Em ciclos menores temos alternância entre momentos de concentração mais centralizados e momentos mais horizontais, mais em rede, mais com foco no coletivo. Estes são ciclos de 500 anos, mais ou menos. O último deles foi o que resultou na ponte Portugal e Brasil, graças às estruturas horizontais dos jesuítas que a coisa pode avançar. O ciclo mais curto é o de 90 anos que corresponde às estações do ano. Temos o inverno que é o período de crise. A última crise foram as guerras e a depressão de 29. Depois, com a crise o coletivo precisa se organizar e criar novas maneiras de se organizar e criar coisas para a coletividade etc. Depois vem a primavera. Agora estamos de novo no inverno. A questão agora, respondendo a sua pergunta sobre o que dá para fazer, é que seja em qual dos ciclos for, a chave está em colaboração. Fazer junto. Criar novas instituições, ferramentas, plataformas pra isso. A boa notícia é que a gente nunca teve tanta condição para chegar realmente em um estágio de evolução de bem comum, e chegar em um estágio de evolução e de bem comum como agora. Podemos perceber o que está acontecendo globalmente graças à tecnologia. Antes não era assim. Hoje dá para criar maneiras de se organizar para além do Estado. Antes era ou o coletivo ou o Estado. Agora dá pra ter uma terceira coisa, que é a sociedade organizada, graças à tecnologia e em uma escala global para além de nações ou fronteiras. A gente está vivendo neste momento impressionante onde as escolhas que fazemos hoje impactam o nosso futuro. A gente tem as condições para impactar positivamente este futuro, para criar novos negócios, novas estruturas, desde que sejam colaborativas. Desde que tenham um objetivo comum de futuro e de uso das tecnologias.

Falando desta positividade em relação ao futuro, o que você diria sobre o relacionamento intergeracional para contribuir com este futuro que pode ser fantástico para toda a humanidade?

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Lala Deheinzelin – A primeira coisa que é chave na existência deste planeta é entender que tudo tem dois lados. Vivemos em um mundo dual. Dia e noite, masculino e feminino. Isto significa que qualquer processo que a gente faça ele precisa ser sempre híbrido. A gente acha lindo as culturas tradicionais, mas acha horrível ficar velho. Todas as culturas tradicionais tem os conselhos de anciãos porque eles já passaram por várias etapas diferentes. Neste momento é super importante. Todo projeto deveria ter jovens, os nativos digitais sem muitos dos vícios e das dores que a gente teve, mas precisa de gente que já teve experiência como a nossa. Eu conheço a última crise através de meus pais que saíram da Europa por causa da guerra. Vivi o momento de estruturação desta nova fase, cresci com a ditadura, coisa que muitos de nós conhecemos inclusive aqui em Portugal. A questão é a gente fazer tudo de forma híbrida. Vemos que startups morrem pra caramba. Será que morreriam se cada startup tivesse um partner senior? Em todas as coisas precisamos promover isso. Estamos envelhecendo de uma forma que nunca aconteceu. Somos a primeira geração que não é velha com 50 ou 60 anos. Temos um patrimônio imenso de conhecimento, de experiências, de relações, de tempo e eventualmente algum patrimônio monetário que pode ser investido de forma extraordinária. A única coisa que não pode acontecer é ficar com todo este patrimônio de tempo, dinheiro, experiência, deprimido dentro de casa vendo TV. Não! De jeito nenhum! O que a gente faz para que isto aconteça? Fazemos coisas como o seu trabalho, Silvia. Sair pelo mundo, se conectar, juntar-se a projetos que precisam de sua inteligência, de suas redes de relação. O que tem é que isso é muito novo.

Ouça a entrevista completa de Lala Deheinzelin no episódio do across podcast: www.acrosssevenseas.com

Foto destaque de Pratik Gupta/pexels.

Atualizado às 11h13


Silvia Triboni

Repórter, Advogada com MBA em Gestão Pública pela FGV, residente em Lisboa, Portugal, 64 anos. Criou o projeto Across the Seven Seas, cujo objetivo é o desenvolvimento do protagonismo sênior. É palestrante e membro da rede internacional Aging2.0. Faz parte da Consultoria Longevida, especializada na área do envelhecimento. Empreendedora, levou para a nação lusitana o curso brasileiro Repórter 60+ Portugal.

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Repórter, Advogada com MBA em Gestão Pública pela FGV, residente em Lisboa, Portugal, 64 anos. Criou o projeto Across the Seven Seas, cujo objetivo é o desenvolvimento do protagonismo sênior. É palestrante e membro da rede internacional Aging2.0. Faz parte da Consultoria Longevida, especializada na área do envelhecimento. Empreendedora, levou para a nação lusitana o curso brasileiro Repórter 60+ Portugal.

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