A principal característica demográfica do século XXI será o aumento da expectativa de vida, cuja proporção de idosos será maior no Brasil do que na média mundial.
A pandemia da covid-19 aumentou as taxas de mortalidade no mundo e diminuiu a expectativa de vida da maioria dos países da comunidade internacional. Mas a retomada do aumento do tempo médio de vida já começou como mostrado nas novas projeções populacionais da Divisão de População da ONU, divulgadas na segunda-feira 11 de julho, data comemorativa do Dia Mundial de População.
Em 1900, o mundo tinha uma expectativa de vida ao nascer de 32 anos, enquanto o Brasil registrava 29 anos. Quatro décadas depois, o mundo atingiu expectativa de vida de 42 anos e o Brasil 37 anos. Mas na década de 1940 o Brasil deu um salto e atingiu uma expectativa de vida ao nascer de 50,1 anos em 1950, contra 45,7 anos da média global. Pela primeira vez o Brasil teve anos médios de vida acima do padrão internacional. No ano 2000, a expectativa de vida ao nascer do Brasil atingiu 70,1 anos, enquanto a média mundial chegou a 66,3 anos. Os ganhos foram espetaculares no século XX e continuaram no século XXI, conforme mostra o gráfico abaixo.
Em 2019, a expectativa de vida ao nascer no Brasil alcançou 75,3 anos e no mundo 72,8 anos. Contudo, a covid-19 provocou um retrocesso e o tempo médio de vida diminuiu nos primeiros dois anos da pandemia, ficando em 72,8 anos no Brasil e 71 anos no mundo. Mas as projeções da ONU indicam que a retomada do aumento da expectativa de vida já começou em 2022 e os números de 2023 já serão maiores do que os de 2019. As perspectivas são promissoras para as próximas décadas. Para 2100 – se não houver novas pandemias, novas guerras e eventos climáticos catastróficos – as estimativas são de expectativa de vida ao nascer de 82,1 anos no mundo e 88,2 anos no Brasil.
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A redução das taxas de mortalidade e o aumento do tempo médio de vida foram fatores essenciais não somente para as conquistas individuais dos brasileiros, mas também foi fundamental para o avanço do desenvolvimento socioeconômico do pais, uma vez que os investimentos em saúde e educação apresentam maiores retornos quanto mais longa é a sobrevida das pessoas.
O mundo está passando pela transição demográfica (queda das taxas de mortalidade e natalidade). Assim, a população mundial, de 01 de julho de 2022, é de 7,975 bilhões de habitantes, vai chegar a 8 bilhões em 15 de novembro próximo e, na projeção média, deve alcançar um pico máximo de 10,43 bilhões de habitantes em 2086, para em seguida apresentar um declínio para 10,35 bilhões em 2100. É a primeira vez que a ONU apresenta um cenário médio com tendência de decrescimento absoluto da população mundial ainda no século XXI. A população brasileira estimada para 01 de julho de 2022 é de 215,3 milhões e, na projeção média, deve alcançar um pico máximo de 231,2 milhões de habitantes em 2047 e apresentar um decrescimento para 184,5 milhões em 2100.
A transição demográfica gera, deterministicamente, uma mudança na estrutura etária, com redução da base da pirâmide populacional e um alargamento, no longo prazo, do topo da pirâmide. Assim a característica demográfica mais impactante de século XXI será o envelhecimento populacional (inversão da pirâmide etária).
O gráfico abaixo mostra que havia 199 milhões de idosos, com 60 anos e mais, no mundo em 1950, representando 8% da população global. Este número passou para 1,03 bilhão de idosos em 2019 (representando 13,3% da população total). A pandemia aumentou a mortalidade de idosos, mas não impediu que o número absoluto continuasse crescendo e o número de pessoas com 60 anos e mais chegou a 1,1 bilhão em 2022 (representando 13,9% do total populacional). Para 2100, a Divisão de População da ONU projeta 3,1 bilhões de idosos, representando 29,8% da população global de 10,4 bilhões de habitantes.
No Brasil, o gráfico abaixo mostra que havia 2,2 milhões de idosos (com 60 anos e mais) em 1950, representando somente 4% da população brasileira. Este número passou para 28,4 milhões de idosos em 2019 (representando 13,4% da população brasileira). A pandemia aumentou a mortalidade de idosos também no Brasil, mas não impediu que o número absoluto continuasse crescendo, chegando a 31,5 milhões em 2022 (representando 14,6% do total populacional). Para 2100, a Divisão de População da ONU projeta 73,3 milhões de idosos no Brasil, representando 39,7% da população nacional de 184,5 milhões de habitantes.
Indubitavelmente, a principal característica demográfica do século XXI será o envelhecimento populacional e a proporção de idosos será maior no Brasil do que na média mundial. O número de idosos brasileiros (60 anos e +) será maior do que o número de jovens de 0-14 anos em 2030. E na segunda metade do atual século haverá mais idosos do que pessoas de 0-39 anos, uma vez que o país terá mais de 70 milhões de idosos, o que é um número maior do que a população total de grande parte dos países do mundo.
O envelhecimento populacional trará desafios, mas também oportunidades. Poderá ser uma salvação ou uma danação, dependendo como as pessoas, as famílias, a sociedade e as políticas públicas lidem com esta nova realidade. Idosos sem direitos, sem acesso ao sistema produtivo e sem poder para manifestar suas habilidades poderá ser um peso que as gerações mais jovens não consigam lidar. Mas um envelhecimento saudável e ativo pode se transformar em um 3º bônus demográfico, o chamado bônus da longevidade, capaz de garantir, com sinergia entre as gerações, a prosperidade e o bem-estar ao longo do século XXI.
Referências
ALVES, JED. O terceiro bônus demográfico e o mercado de trabalho para idosos. Portal do Envelhecimento, SP, 17/06/2021.
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022. Disponível em: https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf
Foto de Mart Production/Pexels