A importância de propósitos de vida após a aposentadoria

A importância de propósitos de vida após a aposentadoria

Ter um propósito claro e ativo está diretamente associado ao envelhecimento saudável.


Thais Bento Lima da Silva e Maria Antônia Antunes Fernandes (*)

A aposentadoria é um marco significativo na vida de muitas pessoas, trazendo liberdade, novas possibilidades e, ao mesmo tempo, alguns desafios. Um dos aspectos mais importantes para que essa fase seja plena é o propósito de vida – aquele “norte” que nos faz acordar com vontade de agir, se envolver e crescer. Em uma pesquisa, Hill e colaboradores (2017) relataram que ter um propósito claro e ativo está diretamente associado ao envelhecimento saudável, contribuindo para a saúde mental e física, para a independência e até para a longevidade. Mas o que isso significa na prática?

O propósito na vida é mais do que apenas definir metas, é sobre encontrar atividades e objetivos que tragam um sentido profundo. No entanto, muitas pessoas tendem a perder parte desse senso de propósito com o avanço da idade, especialmente após se aposentarem (Ryff & Keyes, 1995). Esse é um ponto de atenção, uma vez que, a rotina do trabalho fornecia essa estrutura de objetivos e desafios que dava ritmo e sentido ao cotidiano.

Felizmente, a perda de propósito não é algo que acontece com todos, e é possível manter ou até aumentar o propósito de vida! Em estudos de intervenção, como o Baltimore Experience Corps Trial, pessoas idosas que se engajaram em atividades significativas, como ações de voluntariado, relataram uma elevação no senso de propósito após alguns meses (Gruenewald et al., 2015). Isso mostra que o envolvimento em atividades significativas, mesmo fora do contexto de trabalho, pode continuar a alimentar esse propósito.

Manter um propósito de vida depois da aposentadoria também está ligado a uma melhor autopercepção de saúde (Scheier et al., 2006), menor risco de declínio cognitivo e físico (Mota et al., 2016). A boa notícia é que encontrar esse propósito não depende da idade ou de uma fórmula única. Pessoas com personalidades e estilos de vida diversos podem se beneficiar ao explorar novas paixões, hobbies, laços familiares ou atividades comunitárias, cada uma delas com o potencial de nutrir um propósito renovado para a aposentadoria.

Para aqueles que estão se aposentando, algumas sugestões para alimentar o propósito de vida incluem engajar-se em atividades generativas, como voluntariado, que contribuem para o bem-estar coletivo e trazem o sentimento de fazer parte de algo maior. Além disso, continuar a aprender e desenvolver habilidades também pode reforçar o propósito pessoal, mantendo a mente ativa e o interesse pela vida. Em suma, manter um propósito é vital para um envelhecimento saudável e uma aposentadoria com mais sentido e qualidade.

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Assim, é importante não deixar o propósito de vida sair de cena após a aposentadoria – explorar novas experiências e manter sempre algo que nos inspire e motive a cada dia. Afinal, essa é uma fase para reinventar e viver com mais significado!

Referências
Hill, Patrick L.; Weston, Sara J. Evaluating eight-year trajectories for sense of purpose in the health and retirement study. Aging & Mental Health, v. 23, n. 2, p. 233-237, 2019.
Ryff, Carol D.; Keyes, Corey Lee M. The structure of psychological well-being revisited. Journal of personality and social psychology, v. 69, n. 4, p. 719, 1995.
Gruenewald, T. L. et al. Enhancing sense of purpose in life through generative engagement: The Baltimore experience corps trial. In: Gerontologist. Journals Dept, 2001 Evans Rd, Cary, Nc 27513 Usa: Oxford Univ Press Inc, 2015. P. 303-303.
Scheier, Michael F. et al. The life engagement test: Assessing purpose in life. Journal of behavioral medicine, v. 29, p. 291-298, 2006.
Mota, Natalie P. et al. Purpose in life is associated with a reduced risk of incident physical disability in aging US military veterans. The American Journal of Geriatric Psychiatry, v. 24, n. 9, p. 706-714, 2016.

(*) Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
Maria Antônia Antunes FernandesBacharel em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Foi bolsista de iniciação científica PUB do projeto: “Intervenções psicoeducativas para a COVID-19 aliada à estimulação cognitiva no programa USP 60 +”.  Atualmente é colaboradora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP (GETCUSP), atuando na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração. E-mail: [email protected]

Foto de dumitru B/pexels.


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