Pesquisadores do Pará lançam app Dica60+

Pesquisadores do Pará lançam app Dica60+

O aplicativo Dica60+ visa facilitar o acesso de idosos a informações sobre serviços sociais e de saúde gratuitos em Belém e Ananindeua/Pará.

Camila Simões, Elaide Martins e Emilly Melo (*)


Moradores das cidades de Belém e Ananindeua já podem obter dados de diversas instituições em um só lugar, acessando informações sobre serviços de saúde e sociais disponibilizados gratuitamente ao público com 60 anos ou mais via o aplicativo Dica60+. A ideia é reunir informações qualificadas e facilitar a navegação do público idoso na internet, contribuindo para a sua fluência digital. Dentre os dados do levantamento, nome da instituição, serviços disponíveis para esse público informações para entrar em contato e documentos necessários para poder utilizar os serviços. A iniciativa faz parte do projeto que tem apoio do Itaú Viver Mais e do Portal do Envelhecimento e Longeviver.

De onde partimos?

Em um período de, aproximadamente, 10 anos, o quantitativo de domicílios conectados à internet no país saltou de 24%, em 2009, para 83%, em 2020. Segundo a pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros – TIC Domicílios 2020 (Cetic BR), a Região Norte ultrapassa a média nacional (17,3%), com cerca de 17% de domicílios sem acesso à internet. Destaca-se, ainda, que todos os sete estados da região Norte situam-se na Amazônia Legal, constituída, ainda, pelo estado do Mato Grosso e parte do Maranhão.

Para expandir as redes de telecomunicações na Região Amazônica, o Governo Federal instituiu o Decreto n° 10.800/2021, que consiste na implantação de redes de transporte de fibra óptica de alta capacidade, ao longo dos rios da região amazônica e de redes metropolitanas nos Municípios conectados à referida rede de transporte, para atender estabelecimentos públicos, como pontos de inclusão digital, instituições de ensino, unidades de saúde, hospitais, bibliotecas, instituições de segurança pública e tribunais, no âmbito do Projeto Amazônia Conectada.

Mas, o que chamamos comumente de “inclusão digital” vai além desse tipo de expansão das telecomunicações. Estamos falando, também, de como as pessoas se apropriam e utilizam essas tecnologias nos próprios cotidianos. Considerando o acesso à internet da população acima de 60 anos de idade, há um aumento expressivo registrado nos últimos anos. Em 2018, o percentual de pessoas nesta faixa etária conectadas à internet cresceu de 68% para 97%, em 2021, conforme aponta a pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas.

Os dados mostram que as redes sociais são os aplicativos mais comuns entre os entrevistados (72%). Já as principais buscas dizem respeito à economia, política, esportes e outros assuntos (64%); e informações sobre produtos e serviços (54%). Os principais meios de acesso utilizados são os conhecidos telefones inteligentes (84%), o notebook (37%) e o computador desktop (36%).

É a partir desse protagonismo dos telefones celulares conectados e o crescente uso de aplicativos que gostaríamos de discutir. Justamente por ser esse o contexto de forte investimento de recursos financeiros e humanos na busca de elaboração de produtos e serviços voltados, também, ao público idoso. 

Um cotidiano habitado por aplicativos

Cada vez mais, não estar conectado parece representar prejuízos diversos à autonomia e coloca aqueles mais afastados desta lógica num campo de possíveis vulnerabilidades. Com serviços cada vez mais digitalizados e mesmo a comunicação cotidiana indo pelo mesmo caminho, acompanhar esse processo tem sido visto como fundamental, nas variadas faixas de idade.

Ao pesquisar o termo “aplicativo” na plataforma de verificação de assuntos mais ou menos buscados, o Google Trends, desde 2004 é percebido um crescente no interesse, tendo um pico significativo no mês de abril de 2020. Sim, a pandemia apareceu como esse elemento pressionador em direção à digitalização. Para o bem ou para o mal, tivemos mais contato com esse universo nos últimos anos e vários são os projetos nessa direção.

Aqui mesmo no Portal do Envelhecimento e Longeviver, ao realizar o mesmo tipo de busca – pelo termo “aplicativo” – podemos ver discussões sobre aplicativos que vão desde aspectos gerais relacionados à autonomia até a almejada qualidade de vida, como campo mais amplo de alcance. São aplicações que podem reunir informações médicas (como variados tipos de check ups e informações relacionadas ao controle glicêmico), auxiliam na busca por informações sobre serviços de saúde ou mesmo no campo da assistência social, também podem ser aplicativos que simulem aspectos da velhice e mesmo auxiliem a encontrar vagas adequadas em estacionamentos.

Um campo de atuação que tem recebido cada vez mais atenção, de um lado a pessoa com mais idade como ser atuante na sociedade da comunicação midiatizada e, do outro, desenvolvedores dedicados à elaboração de tecnologias que possam atender demandas nas diversas frentes.

Projeto de pesquisadores paraenses contribui nessa direção

É o caso do projeto Fluência Digital de Idosos Na Amazônia Urbana: aplicativo para acesso a informações sobre serviços de saúde e sociais gratuitos em Belém e Ananindeua/Pará. A proposta foi premiada por meio do Edital Acadêmico 2021: envelhecer com futuro do Itaú Viver Mais em conjunto com o Portal do Envelhecimento e Longeviver. A equipe responsável tem base em Belém, capital paraense, e envolve pesquisadores doutores, doutorandos, mestrandos, graduados e graduandos vinculados à Universidade Federal do Pará (UFPA) e à Universidade do Estado do Pará (UEPA).

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A aplicação tem como proposta reunir informações verificadas sobre serviços de saúde e serviços sociais gratuitos disponíveis para pessoas com 60 anos ou mais. Como recorte, considerando levantamento de dados e período de execução limitados, foram escolhidas as duas maiores cidades do estado, a capital Belém e o município vizinho Ananindeua, com população estimada em 1,5 milhão e 540 mil pessoas, respectivamente (IBGE, consulta em março de 2022).

O projeto deve enriquecer seus resultados a partir de discussão e reflexões sobre o idoso na ambiência digital por meio de publicações de divulgação científica e outras que possam comunicar junto ao público de interesse.

O primeiro passo foi envolver esse mesmo público na concepção do aplicativo, criando espaços de troca para indicar quais os seus interesses principais, opiniões e expectativas. Para isso, foi elaborado um questionário para circular entre idosos das cidades escolhidas, a fim de identificar preferências e necessidades.

No total, 41 pessoas responderam, a maioria de Belém (90%) e mulheres (68,3%), de 60 a 82 anos, em maioria casados (48,7%) seguidos de pessoas divorciadas (26,8%), aposentados ou não (bem equilibrado) e que ganham cerca de 3 salários mínimos.

A maioria dos que responderam disse ter gostado da ideia do aplicativo, mas ainda demonstra insegurança e falta de confiabilidade nos meios digitais, dificuldades técnicas em relação aos telefones celulares – como a administração do armazenamento interno e mesmo as constantes atualizações -, além da recorrente frustração de quem não consegue atingir os objetivos a partir do aparelho. Outros participantes da pesquisa disseram que aplicações, por vezes, apresentam muitas variáveis e possuem partes pagas, alguns dos fatores relacionados à frustração e mesmo que geram impedimentos nesse campo da acessibilidade.

Esses são alguns dos desafios colocados e, acreditamos, podem ser superados à medida que a comunicação plena ocorra e investimentos geradores de espaços (digitais) de informação democrática possam emergir. O foco é na experiência das pessoas com 60 anos ou mais a partir dessa relação com as tecnologias que estão aí habitando nossos cotidianos. É nesse campo de discussão e construção que o projeto se inscreve e se realiza.

Conheça a equipe
Elaide Martins da Cunha (Coordenadora geral), Camila de Andrade Simões, Wanderson Alexandre da Silva Quinto, Heloá Pontes Maués, Flaviane Marcia Lima dos Anjos, Renato Daniel da Cruz Santos e Emilly Vitória Pinto Melo. Os resultados da pesquisa serão apresentados no próximo dia 20 de outubro, às 18 horas, no canal do Youtube do Portal do Envelhecimento (veja abaixo).

Referências
BR, Cetic. TIC Domicílios 2020. 2021. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201233/tic_domicilios_2020_livro_eletronico.pdf. Acesso em: 28 mar. 2022.

BRASIL, Poder Executivo do. Decreto nº 10.800, de 17 de setembro de 2021. 2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.800-de-17-de-setembro-de-2021-345759921. Acesso em: 28 mar. 2022.

CNDL. Número de idosos que acessam a internet cresce de 68% para 97%, aponta pesquisa CNDL/SPC Brasil. 2021. Disponível em: https://site.cndl.org.br/numero-de-idosos-que-acessam-a-internet-cresce-de-68-para-97-aponta-pesquisa-cndlspc-brasil/. Acesso em: 29 mar. 2022.

IBGE. Dados Cidades e Estados. 2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pa.html. Acesso em: 30 mar. 2022.

(*)Camila Simões, Elaide Martins e Emilly Melo fazem parte da equipe do projeto.


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