Cuidadania é uma possível construção coletiva à espera de contribuições de diferentes áreas que recodifica nossa realidade diária e política em torno das necessidades de pessoas, colocando no centro o cuidado da vida como responsabilidade social e coletiva. É disso que abordaremos em nosso workshop a ser realizado no Espaço Longeviver no próximo dia 08/07.
Há algum tempo publicamos uma matéria que relatava como um conjunto de sintomas geralmente originados pela conjunção de doenças com alta prevalência em idosos e que frequentemente supõem a origem da incapacidade funcional ou social na população, as chamadas síndromes geriátricas, contavam a origem da especialidade médica chamada geriatria. A partir daí ficamos pensando: o que contaria a história da Gerontologia (do grego gero = envelhecimento + logia = estudo) ao longo do século? Esta ciência que surgiu em 1903, antes da geriatria, investiga as experiências de velhice e envelhecimento em diferentes contextos socioculturais e históricos, abrangendo a complexidade do prolongamento da vida e seu cuidado.
Nesse sentido percebemos que ao longo desse tempo o cuidado poderia contar um pouco da história da Gerontologia e suas vertentes (a Gerontologia Biomédica, a Gerontologia Crítica/Social ou a Gerontologia Comunitária). O cuidado durante muitos anos seguiu (e ainda segue) os modelos biomédicos do envelhecimento, narrativa que reduz o envelhecimento unicamente a um de seus aspectos, o biológico, inserindo-o na categoria de perda e doença. Assim, vimos que durante muito tempo o cuidado esteve (e ainda está) centrado na doença e não na vida.
Uma boa descrição do que estamos falando, é a que faz o escritor Gawande (2015), ao assinalar que a “capacidade científica moderna alterou de forma profunda o curso da vida humana. As pessoas vivem mais e melhor do que em qualquer outra época da história. Porém os avanços científicos transformaram os processos de envelhecimento e da morte em experiências médicas, em questões a serem gerenciadas por profissionais de saúde”.
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Também recentemente publicamos outra matéria na qual apontava que uma das características mais marcantes da atual dinâmica demográfica mundial é o processo de envelhecimento populacional, mundial e brasileiro, ou seja, o aumento do número absoluto e do percentual de idosos no conjunto da população, que ocorre principalmente ao longo do século XXI. O que implica na necessidade de cuidados que se modificam: a) incremento de idosos com afecções crônicas; b) as pessoas sobrevivem mais tempo acometidas por estas doenças; c) acarretando cuidados especiais por anos ou até décadas; d) implicando em mais pessoas que cuidem destes idosos. Mas, afinal, de que cuidado estamos falando? E de qual Gerontologia?
De acordo com Boff (2015), “o cuidado é uma noção polissêmica, socialmente construída, mutante conforme histórico e complexidade social, simultaneamente moral, relacional e cultural, carregado de empatia, responsabilidade e solidariedade. É, ainda, necessidade e atividade ao mesmo tempo”.
Nesse sentido, o ato de cuidar se relaciona e, por sua vez, inter-relaciona experiências de vida, práticas diárias, relações intergeracionais, políticas econômicas e públicas, aspectos interconectados pela globalização. Envolve sempre questões de gênero também, pois são normalmente as mulheres as que cuidam dos idosos da família ou são contradas por ela para exercerem o cuidado. Acrescenta-se à esta discussão o que San José (2016) constatou: um déficit de cuidados, pois o número de cuidadores é insuficiente para atender um número crescente de idosos dependentes.
Estas questões vêm sendo refletidas por uma vertente da Gerontologia, a Social, afinal, a abordagem do direito e da cultura dos direitos à proteção social da velhice como condição de cuidadania tem sido um de seus focos, ao entender que a população tem possibilidades ou capacidades que devem e podem ser desenvolvidas.
É a Gerontologia Social que traz Junco (2004) para dizer que cuidadania não é um conceito que pertence a alguém ou movimento, mas sim uma ideia, um processo aberto, uma possível construção coletiva à espera de contribuições de diferentes áreas que recodifica nossa realidade diária e política em torno das necessidades de pessoas, que coloca no centro o cuidado da vida como responsabilidade social e coletiva. Para este autor, cuidadania “é como uma maneira diferente de reconhecer as pessoas coletivamente, como uma plataforma distinta desde a qual podemos reivindicar direitos antigos e novos”.
Pergunta-se, como pensar a cuidadania ante um longeviver cada vez mais longo (com uma vida saudável ou com uma carga de doença)? Esta questão está no centro do conceito cuidadania que abordaremos em evento no Espaço Longeviver.
Referências
BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
Gawande, A. Mortais – nós, a medicina e o que realmente importa no final. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva, 2015.
JUNCO, C., OROZCO; e RÍO: “Hacia un derecho universal de cuidadanía (sí, de cuidadanía)”, Mimeo, 2004.
SÃO JOSÉ, J. What are we talking about when we talk about care? A conceptual review of the literature. Sociologia: Problemas e Práticas, n. 81, pp. 57-74, 2016.
Serviço
Workshop Cuidadania
Data: Dia 08/07, segunda
Horário: 14h às 16h30
Local: Espaço Longeviver: Avenida Pedro Severino Junior, 366 – Sala 166 – Vila Guarani. Próximo ao metrô Conceição – Saída D – linha azul
Contato: [email protected]
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