Viver duas vezes

Uma delicada abordagem sobre o impacto do Alzheimer na vida de uma família.

E tu…
Quien sabe por donde andarás
Quien sabe que aventura tendrás
Que lejos estás de mi…
“. Perfídia, canção de Alberto Dominguez       


Os leitores vão desculpar o spoiler, mas estou certa de que os relatos sobre o filme, vão aumentar a curiosidade em assisti-lo. O filme Viver duas vidas aborda o avanço inexorável da doença de Alzheimer, em um homem nos seus setenta anos. Um professor de matemática, de nível universitário, que se vangloria do seu pensamento racional, toma consciência da doença através da explicação de seu médico. Uma explicação também racional sobre como o Alzheimer vai avançando no cérebro, destruindo a memória, o pensamento lógico e a vida.

A competente roteirista conduz a trama do filme através da memória de um amor de adolescência do personagem principal. O primeiro flashback, com a canção tema Perfídia, é a cena de um encontro entre os dois jovens, Emílio e Margarita. Esta cena define a futura jornada do professor Emílio, em ótima interpretação do ator Oscar Martínez. O jovem Emílio não segue a sua paixão pela menina Margarita, privilegiando a futura carreira na matemática. Nos futuros delírios do Alzheimer, Emílio persegue o sonho de reencontrar a amada.

Com o avanço rápido da doença, já na primeira consulta/entrevista com a terapeuta, acompanhado pela filha, esta propõe uma mudança radical na família. O professor Emílio é viúvo e mora sozinho. A terapeuta pede que ele vá viver com a filha. O professor resiste à mudança e a filha concorda desde que ele use um celular. Entretanto, a degeneração da doença acelera e a filha determina que ele passe a viver na casa dela com o marido e a filha.  

A filha Julia, interpretada por Inma Cuesta, é uma jovem mulher determinada e forte, que é a chefe da família. O genro Felipe, o ator Nacho Lopez, está desempregado. Faz bicos como coaching e posta vídeos na internet. A neta, é talvez, a personagem mais interessante da trama. Deram o papel da menina Blanca, de 12 anos para a atriz Mafalda Carbonell. A atriz nasceu com uma doença grave que a deixou paralítica. Com uma história de superação, Mafalda conseguiu andar. A personagem da neta interage com o avô, de quem se torna confidente e instrutora para o uso do telefone celular. Um rico e tenso relacionamento intergeracional, onde aprendem os dois. O velho e a adolescente.

Com a família em crise total, e depois de muitos conflitos entre pai e filha, esta decide que vai ajudar o pai a perseguir o seu sonho de reencontrar Margarita, o amor de sua juventude, que vive em outra cidade. A neta Blanca, pesquisando no Google, descobre a pista de Margarita.

A trama do filme passa a ser quase um road-movie. Toda a família num pequeno carro, rodando em busca de Margarita. Afinal ela foi encontrada vivendo com o marido e totalmente desmemoriada pelo Alzheimer. Emílio se emociona com o encontro.

Para nós, pesquisadores do processo de envelhecimento, o filme é mais uma obra de arte que, didaticamente demonstra a devastação física e social provocada pelo Alzheimer. A acolhida e a convivência com um doente, desestrutura a rotina do núcleo familiar.  

A relação do personagem Emílio com sua terapeuta vai da negação da doença por parte do paciente, até a indicação da institucionalização pela terapeuta. Como em quase todas as famílias, a filha não aceita, a princípio.

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O ator Oscar Martínez fez um excelente laboratório. Interpreta com a postura do corpo, e com as expressões faciais, a evolução da doença.   

Ficha Técnica
Viver duas vezes (Vivir dos veces)
Filme espanhol, lançado em 2019
Diretora: Maria Ripoll
Roteirista: María Mínguez

Elenco:
Oscar Martinez
Inma Cuesta
Mafalda Carbonell
Nacho Lopez
Disponível na Netflix



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Maria do Carmo Guido

Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós graduada em Gestão de Políticas Públicas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Pesquisadora e consultora nos temas da Economia do Envelhecimento. Embaixadora para as Mulheres Idosas na Me Too Brasil. Colaboradora no Portal do Envelhecimento. Conselheira no Conselho Municipal da Pessoa Idosa de São Paulo. E-mail: [email protected]

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Maria do Carmo Guido

Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós graduada em Gestão de Políticas Públicas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Pesquisadora e consultora nos temas da Economia do Envelhecimento. Embaixadora para as Mulheres Idosas na Me Too Brasil. Colaboradora no Portal do Envelhecimento. Conselheira no Conselho Municipal da Pessoa Idosa de São Paulo. E-mail: [email protected]

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