A realidade do trabalho sexual e das profissionais do sexo, principalmente quando elas envelhecem.
Quem acompanha essa coluna já é lembrado que todo mês sempre um novo texto refletindo sobre alguma perspectiva da nossa sexualidade surge, e para maio fiquei refletindo sobre como unir a mensagem do dia do trabalho com a sexualidade de pessoas idosas.
E nesse contexto, surgiu a ideia de trazer a realidade das pessoas profissionais do sexo. Existem tantas camadas a serem debatidas, principalmente quando elas (visto serem majoritariamente mulheres) envelhecem.
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Digo que são inúmeras condições a serem analisadas por que por um lado sou homem e redijo esse texto do lugar de pesquisador, por outro, minha função não é nem romantizar ou demonizar uma ocupação potente, mas também muito possivelmente relacionada a diversas vulnerabilidades.
E agrupando essa discussão a da longevidade, há um documentário interessantíssimo disponível em plataformas de vídeo chamado “Praça da Luz”, das diretoras Carolina Markowicz e Joana Galvão, que utilizo em algumas de minhas aulas. Retrata a vida e experiência de mulheres profissionais do sexo idosas, com suas dores, suas histórias, suas potências e reflexões sobre gênero, racismo e outras exclusões sociais de nossa sociedade desigual.
Nesse sentido, resgato mais duas questões importantes.
Primeiro, como será o acesso à Previdência Social dessas trabalhadoras, pensando que mesmo para diversas categorias de celetistas as suas aposentadorias apresentam valor insuficiente para prover os seus próprios sustentos.
Em segundo lugar, quais potencialidades de empregabilidade tais mulheres poderiam apresentar caso o Estado também as ajudasse em sua velhice? Há a afirmação de Paulo Freire: “enquanto há vida, há inacabamento!”. E pensando nisso, o Centro Internacional da Longevidade acrescentou à proposta de Envelhecimento Ativo a possibilidade de Aprendizado ao Longo da Vida.
Assim, caso queiram uma nova ocupação, assim como outras pessoas idosas, por que não oferecer essa possibilidade de aprendizado? Ou se tenham desejo de manter tal atividade, o que estamos realizando para ajudá-las, embasados no respeito à sua autonomia?
Por fim, recorro a mais um tema polêmico envolvendo o trabalho sexual. Houve há uns anos uma legisladora alemã que estava defendendo uma lei de regulamentação desse tipo de serviço para pessoas idosas em quadros demenciais e com hiper sexualização. Esse texto não tem a pretensão de eliminar todas as arestas ou de gerar respostas, mas sim dúvidas.
Se o Dia do Trabalho representa uma data em que deveríamos ponderar sobre justiça social, por que não estender também esse diálogo àqueles e àquelas que vendem sua força sexual como forma de trabalho, mesmo durante o seu envelhecimento?
Poderíamos até reescrever a pergunta anterior discorrendo não sobre os que vendem sua força sexual, mas a respeito das pessoas que utilizam seus corpos como fonte geradora de renda, mas aí estaríamos falando de 99% dos brasileiros.
Foto: extraída do documentário 69 Praça da Luz