Novos estudos destacam o potencial nos compostos da planta Cannabis no tratamento do Alzheimer.
Gregorio Ventura (*)
Ainda não conhecemos uma cura para o Alzheimer, e os tratamentos disponíveis atualmente têm como objetivo aliviar os sintomas, mas com eficácia limitada. Na busca por formas de diminuir a progressão da condição e reverter algumas manifestações da doença, pesquisadores têm encontrado nos compostos da planta Cannabis uma possibilidade e uma esperança para pacientes e seus familiares.
Recentemente, um estudo investigou dois compostos da Cannabis: o canabidiol (CBD), um dos canabinoides mais conhecidos e estudados, e o canabigerol (CBG), um canabinoide menos famoso menor, mas com efeitos terapêuticos promissores. Os cientistas avaliaram como eles poderiam combater alguns dos principais mecanismos relacionados ao Alzheimer.
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De acordo com os resultados, o CBD e o CBG parecem agir diretamente contra a inflamação e o acúmulo de placas no cérebro, que são fatores diretamente ligados ao Alzheimer.
O Alzheimer e seus efeitos no cérebro
Os sintomas cognitivos mais comuns do Alzheimer incluem:
– Esquecimentos frequentes;
– Mudanças no humor e comportamento;
– Dificuldades para se expressar ou compreender a linguagem;
– Desorientação no tempo ou espaço;
– Problemas para realizar tarefas simples do dia a dia.
Esses sintomas estão associados ao acúmulo da proteína beta-amiloide no cérebro, especialmente em áreas como o hipocampo e o córtex cerebral, que são responsáveis pela memória e pelo aprendizado. Essa proteína se acumula formando placas que estão ligadas à morte dos neurônios e à progressão da doença. Além disso, o Alzheimer envolve inflamação cerebral e estresse oxidativo, que também danificam as células nervosas.

Pesquisas para combater o Alzheimer têm se concentrado em encontrar maneiras de inibir a formação das placas de beta-amiloide, remover as placas existentes e proteger os neurônios. Nesse sentido, o estudo Cannabidiol and cannabigerol effect on cognitive deficit induced by intracerebroventricular administration of amyloid beta 42 in experimental Alzheimer’s disease model investigou como o CBD e o CBG poderiam contribuir para o tratamento de pacientes com essa condição.
Os pesquisadores realizaram um experimento no qual injetaram a proteína beta-amiloide no cérebro de alguns animais para simular o Alzheimer. Eles dividiram os animais em quatro grupos:
– Animais com Alzheimer tratados com CBD
– Animais com Alzheimer tratados com CBG
– Animais com Alzheimer sem tratamento
– Grupo controle com animais saudáveis
Os tratamentos com canabinoides foram administrados por duas semanas. Em seguida, os pesquisadores avaliaram a memória e aprendizado com testes. Além disso, analisaram os níveis de inflamação no cérebro e as quantidades de placas beta-amiloide.
Os resultados foram encorajadores e mostraram o potencial do CBD e do CBG no tratamento do Alzheimer:
– Melhora na memória e aprendizado: tanto o CBD quanto o CBG ajudaram a recuperar funções cognitivas prejudicadas pelo Alzheimer.
– Redução da inflamação: o CBD e o CBG diminuíram os níveis de citocinas inflamatórias (TNF-α e IL-1β) no cérebro.
– Menos placas beta-amiloide: ambos os canabinoides reduziram a formação de beta-amiloide no cérebro, com o CBG mostrando resultados mais expressivos que o CBD.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores enfatizam que ainda são necessários mais estudos para entender melhor os efeitos desses compostos no cérebro humano. Mesmo assim, o estudo abre caminho para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais para a condição.
Além do CBD, o estudo destaca o CBG como um composto promissor no tratamento do Alzheimer. Esse canabinoide possui propriedades terapêuticas únicas e interage com receptores específicos no cérebro (alfa-2AR e 5-HT1A ) que os canabinoides mais famosos, o THC e o CBD, não atingem. Essas interações oferecem efeitos neuroprotetores que podem transformar as abordagens convencionais para o Alzheimer.
Estudos anteriores já apontaram os benefícios de incluir medicamentos à base de canabinoides no tratamento para essa condição.
– Com CBD: redução nos sintomas neuropsiquiátricos, como agressividade, ansiedade e depressão, além de facilitar o trabalho dos cuidadores.
– Com THC sintético: diminuição na agitação em até 30% dos casos.
Observação – Pela regulamentação atual, medicamentos à base de Cannabis podem ser utilizados para o tratamento de diversas condições de saúde desde que tenham uma prescrição médica. Essa é uma exigência da Anvisa tanto para adquirir os produtos nas farmácias quanto para importar de outros países.
(*) Gregorio Ventura escreve para Cannabis& Saúde – um portal de jornalismo que fornece conteúdos sobre Cannabis para uso medicinal, e, preza pelo cumprimento legal de todas as suas obrigações, em especial a previsão Constitucional Federal de 1988.
Fotos de Kindel Media/pexels.
