A dinâmica do tempo, quando se contrai, aproxima, recria e dilui-se não deixando a morte como última esperança.
A ruptura, a contração, e ou, a dilatação do tempo separa-nos dos amigos, amores, pais e filhos. De quem compartilhamos tornamos inesquecíveis tantas aventuras e nos “deslocou” o coração até a boca, – juramos um “para sempre”. Reafirmamos, inventamos promessas com quem deitamos e levantamos no dia seguinte enxergando borboletas douradas e desconfiando da existência de um dia passado. Alguns ficaram eternamente em universos paralelos. Outros, permanecem ao lado da esperança, fé, desejos carnais ou “caminhos” espirituais.
Os livros, contos, crônicas, poesias, cartas e fotografias têm a sutileza e a sabedoria de efetuar muitos resgates, aparentemente de forma e maneira abstrata ou impalpável, mas fazem e os conjugam tudo no pretérito imperfeito do indicativo: nós amávamos.
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Também consegue nos manter ancorados por meio de palavras, imagens, sonhos comuns e desejos as pessoas que nos escolhem, ou nós escolhemos para um projeto ou plano de felicidades juntas. Quando há uma ruptura irreparável, esse conjunto plástico e literário nos faz renascer em outros contos, órbitas e histórias para, reiniciarem-se novas vidas em outras. Surgem novas imagens, outras palavras, sentimentos e aromas; outra oportunidade, novas juras. Assim vamos nos eternizando.
Mal reaprendemos a cuidar das nossas “novas” vidas, logo a entregamos a companhia de outros sentimentos, instáveis ou equilibrados todos os nossos desejos, problemas e a contemplação de tudo que construímos em sonhos, realidades e delírios para viver a dois. Somos outros cuidadores, outra vez novos parceiros e, assim seguimos renascendo a cada dia, criando ou reinventando novas possibilidades.
Deixamos e sentimos saudades provocados pelo reencontro que nunca aconteceu, mesmo ainda vivendo na mesma cidade. Até a ruptura plena com as nossas crenças sobre tudo que um dia foi o melhor do nosso estado energético. E, bem de acordo ao nosso modo humano de viver seremos outra vez guiados a um novo renascimento, outras vidas e a imortalidade e o “para sempre” prometidos, jurados outra vez.
Alguns dos primeiros amores permaneceram entalhados, por solitários longos anos, nas carteiras de madeira dos colégios, outros, vividos nos finais de semanas, somam-se às areias das praias, aos ventos, as poucas lembranças e insuficientes saudades e razões, mesmo sem precisar, para retornar. Durante a graduação acadêmica, iniciaram-se sentimentos mais complexos, havia promessas de futuro, logo, as exigências e responsabilidades deterioram os sentimentos: irresponsáveis e frágeis foram entregues ao esquecimento. Não há futuro coordenado por tanta bagunça cerebral e uma vida lacônica e irresponsável. É assim por ser jovem, ou não saber ser.
A dinâmica do tempo, quando se contrai, aproxima, recria e dilui-se não deixando a morte como última esperança. Antigos amigos ressurgem e ajudam a quebrar a rigidez matemática do tempo, poderia ser passado, se ele existisse. Por descuido não houve saudades, mágoas, nada. Somente afastaram-se e esqueceram-se uns dos outros. E uma tecnologia, ferramentas de comunicação ajudam a nos encontrarmos.
Não tão tecnológicas assim, as fotografias nos espantam e chocam com a imprecisão da imagem real de hoje. Pretas e brancas amareladas, molduras de slides, cromos desbotados, de um final de semana com familiares e amigos na praia do Tibau, RN. Outras, a passagem de um ano na Praia de Morro Branco-CE.
A fragilidade das idades, a incoerência de se viver tão pouco ainda, não se costuraram acordos viáveis, executáveis. Vivíamos na periferia da felicidade, na parafernália do desejo e um magnetismo que nos atraía ao infinito, a imortalidade. Não havia o dia seguinte, somente o próximo amanhecer e nenhuma programação para ser cumprida no futuro. A fluidez do acaso e a irresponsabilidade destas jovens almas tornam todos os compromissos voláteis, mesmo os planejados para as próximas 24 h.
A formação desse conjunto celular, aos 18 anos, não permite ou aceita a interferência de sentimentos chamados amor ou paixão, por exemplo, a intrometerem-se no que não pudesse ser chamado só desejo, velocidade. Tudo se iniciava com beijo na boca, findava com outro sem deixar uma única marca que resistisse, sobrevivesse ao tempo chamado futuro, nem mágoas.
Fotos: arquivo pessoal