O maior problema é a ausência de sensibilidade administrativa para conduzir os serviços sociais para a população idosa
Matéria do Jornal da USP, datada de 16/10/2019, cuja manchete destacava “Em 2030, Brasil terá a quinta população mais idosa do mundo”, complementava na sua retranca que “O maior problema é a ausência de sensibilidade administrativa para conduzir os serviços sociais”. A reportagem entrevistou pesquisadores sobre o tema, que apontaram a necessidade de realizar planejamentos governamentais para políticas públicas que venham a atender adequadamente essa grande parcela populacional do país (em 2030, o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos, como aponta a matéria).
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Trata-se de uma ação governamental complexa, que envolve inúmeros segmentos setoriais. A matéria destaca dois deles: seguridade e desporto e lazer. Eu incluiria outros serviços públicos: saúde, nutrição, trabalho, urbanismo (transporte público, calçadas, iluminação, acessibilidade), cultura, segurança pública, assistência social, ciência e tecnologia (neste mundo cada vez mais conectado, as ferramentas tecnológicas estão efetivamente adaptadas para o uso de pessoas idosas, ou acabam se transformando em dificultadores de acesso, o que cria uma geração de pessoas com dificuldades de uso tecnológico?).
Toda esta amplitude de interatividades, setoriais e temáticas, cria um ambiente complexo e de difícil gestão governamental, que impactam na esfera burocrática (burocracia aqui em termos de procedimento e atuação). Mas quem define o que a burocracia estatal deve fazer? Os agentes públicos eleitos para as funções no Executivo e no Legislativo. Esses, criando ou alterando leis; aqueles, as executando.
Seguimos em ano de eleição, com um cenário de grandes polêmicas, mas até aqui, sigo com dificuldades para encontrar propostas de políticas públicas nos planos de governo dos diversos candidatos e candidatas aos cargos eletivos na esfera federal. O silêncio dessas lideranças públicas, das mais diferentes esferas ideológicas e partidárias, em apresentar propostas para a população idosa brasileira é algo preocupante.
As estatísticas – que deveriam ser uma das ferramentas indispensáveis aos processos de tomada de decisão na esfera governamental – mostram um cenário impactante no crescimento da população idosa no Brasil. O silêncio das principais lideranças políticas, preocupa. Ah, mas há propostas? Se há, o problema é o de acessibilidade à informação de tais propostas. Ou seja, um outro tipo de erro.
O amadurecimento político passa pela atuação responsável de quem se candidata a comandar um país. O cenário que vejo parece o de um roteiro de filme apocalíptico, onde as pessoas parecem deixar de ter existido do dia para a noite. Mas a realidade é completamente diferente: cada vez mais pessoas no Brasil chegam aos 60 anos e cada vez mais a evolução da humanidade está criando mecanismos que favorecem a elevação na média de tempo de vida no Brasil. Lideranças políticas silenciosas poderiam responder: rumando à quinta população mais idosa do mundo, quais as suas propostas de políticas de pessoas idosas?
Fotos: Alcides Freire Melo