Eu quero que não me discriminem no trabalho

Eu quero que não me discriminem no trabalho

A visão que cada geração tem em relação à outra no trabalho, independentemente da posição profissional que cada um ocupe é, predominantemente, negativa.


Nem todos sabem que a dificuldade do público 50+ vai muito além de conseguir uma colocação profissional nos tempos atuais. Avança no dia-a-dia laboral a exigência de mais do que “dar conta” de tarefas e entregas. Obriga-nos a desenvolver competências psicológicas que nos habilitem a enfrentar desafios (e até agressões) nunca antes vividos, como por exemplo, ser vítima de preconceito etário. Esta forma de violência é constantemente relatada por membros das comunidades que faço parte. Muitos sofrem calados por não saberem como lidar com essas agressões psicológicas. Isso é lamentável!

Você sabia que atitudes preconceituosas contra colegas de trabalho não só enfraquecem o seu ânimo e produtividade como também prejudica o desenvolvimento da organização? Essa discórdia presente no grupo precisa ser enfrentada pelos gestores de forma rápida e adequada antes que se torne um desequilíbrio ainda maior.

– Seja como vítima, seja como líder, como lidar este mal?

– Por que ele acontece?

– O que fazer para não ser discriminado no trabalho?

Perguntas difíceis para as quais trago aqui algumas explicações e orientações que podem ampliar o nosso conhecimento sobre o problema, e, também ensinar como agir diante de episódios em que sejamos vítimas do preconceito etário.

O que é discriminação? Discriminação vem do latim discriminatio, e possui em sua essência, um sentido de estabelecer diferença, ou seja, distinção e separação. Ato de colocar algo ou alguém de parte. Tratamento desigual ou injusto dado a uma pessoa ou grupo, com base em preconceitos de alguma ordem.

Em outras palavras, discriminar é tratar alguém diferenciando-o de forma negativa em desrespeito aos princípios da igualdade e dignidade da pessoa humana.

Por que há preconceito etário no trabalho?

Reproduzo aqui trechos do artigo acadêmico elaborado por Adriano C. de Souza, Guido Vaz Silva, da Universidade Federal Fluminense “A relevância do conflito de gerações no ambiente de trabalho do serviço público: Um estudo de caso em uma instituição federal brasileira”, os quais nos auxiliarão a entender a problemática do preconceito etário.

“Atualmente, três, das quatro gerações, presentes em muitos locais de trabalho, se apresentam de forma significativa: Baby Boomers, Geração X e Geração Y. Cada uma dessas gerações possui características e comportamentos distintos de seus membros, proporcionando perspectivas únicas sobre valores, traços de personalidade e atitudes no trabalho – “influenciadas por acontecimentos econômicos, políticos e sociais de seu tempo”, que acabam por culminar em “colisões ou conflitos intergeracionais no local de trabalho.

Na maioria das vezes esses conflitos ocorrem devido à falta de compreensão das características de cada geração, bem como de percepções estigmatizadas em rótulos negativos, que cada corte geracional tem em relação à outra[1]. Gursoy, Maier, Chi, no livro “Generational differences: an examination of work values and generational gaps in the hospitality workforce”, exemplificam isso, afirmando que os Baby Boomers, enquanto gestores, tem uma percepção negativa das gerações X e Y.

Assim, acreditam que os membros dessas gerações são preguiçosos, pouco confiáveis e sem ética. A geração X segue a percepção dos Boomers: quando gestores, não têm uma opinião positiva em relação à geração Y. Os gestores da geração X acreditam que eles são pouco apegados ao trabalho, e excessivamente carentes de reconhecimento. No entanto, a geração X, apesar de perceber pontos negativos nos Boomers, os respeitam como funcionários.

Prosseguem observando que, enquanto funcionários, os membros a geração Baby Boomers mantêm percepções negativas sobre os membros da geração X, acreditam que eles não sabem gerenciar, e são muito presunçosos. A geração X tende a estereotipar os gestores dos Boomers como líderes de gabinete, típicos administradores. A geração Y, enquanto funcionários, acreditam que os gestores Boomers e da geração X os veem como jovens demais, e por isso não os respeitam profissionalmente.

Acreditam, também, não receberem o tratamento que merecem. A visão que cada geração tem em relação à outra, independentemente da posição profissional que cada um ocupe é, predominantemente, negativa.

foto: reprodução

Como o preconceito etário no trabalho se manifesta?

Fran Winandy, psicóloga e consultora na área de Diversidade Etária, autora do livro “Etarismo, um novo nome para um velho preconceito”, diz que a primeira manifestação de etarismo é a que temos contra nós mesmos. A especialista afirma que “o preconceito pode se manifestar de diversas formas e, quase sempre, de maneira sutil. A promoção do autojulgamento e, consequentemente, o julgamento de outras pessoas como velhos demais para alguma coisa.

A relação discriminatória de empresas ao não selecionar pessoas com mais de 45 anos para novos cargos. A falta de políticas públicas de incentivo à diversidade etária, o que pode ser chamado de etarismo institucional.”

O que fazer quando colegas de trabalho ou chefes nos discriminam por preconceito etário?

Separei algumas sugestões de profissionais especializados no comportamento humano, atitudes que poderão nos habilitar na adequada, e construtiva, forma de agir quando formos vítimas de discriminação em razão de nossa idade.

Mais do que aprendermos a nos defender, devemos adquirir condições de colaborar na construção de um harmonioso e produtivo ambiente de trabalho. Seguem sugestões de Stephanie Sarkis no artigo “Combate à discriminação por idade no trabalho: para empregados e empregadores”, publicado na plataforma Forbes:

–  Primeiro, examine se você está enfrentando discriminação por idade ou se quem te agride é rude com todos no escritório.

– Em seguida, resolva quaisquer problemas diretamente com o colega de trabalho ou superior que o agride. Elabore as suas respostas na primeira pessoa mencionando como se sente e como isso o afeta. Quando você declara uma preocupação do ponto de vista da primeira pessoa, surge um comportamento menos defensivo. Isso favorece a criação de uma forma mais eficiente de solução do problema.

– Se você tentou resolver o problema diretamente com a pessoa envolvida e ainda não chegou a uma solução satisfatória, considere reportar a questão a seus superiores. Conheça os procedimentos adequados do seu local de trabalho para abordar a questão de forma profissional. Lembre-se que você também tem a opção de consultar um advogado trabalhista.

– Se você é um chefe ou proprietário de uma empresa, avalie se a linguagem que você e a sua equipe usam, ou as abordagens em entrevistas de seleção, são tendenciosas em relação à idade de seus entrevistados.

– Considere trabalhar com um psicólogo organizacional para determinar o grau de preconceito de idade existente em sua empresa. Este profissional usará instrumentos adequados para avaliar as atitudes dos funcionários em relação aos colegas de trabalho de diferentes idades. (grifos meus)

Dicas de especialista da plataforma Aspectum:

Acompanhe as orientações para uma pessoa em situação específica (preconceito de gênero), propostas que podem se encaixar em casos de preconceito no trabalho.

–  Construa relacionamentos com pessoas de fora do seu time de trabalho.

– Se recebeu críticas, evite a defensiva. É difícil não se defender, especialmente quando as críticas parecem excessivas, injustas ou imprecisas. Mas faça o seu melhor para se mostrar “curioso” em vez de se defender. Respondam por exemplo, com ‘hmmm’… ‘Isso é interessante’’. ‘Você pode me dar um exemplo para que eu possa entender melhor o que disse?’

– Saiba lidar com o preconceito inconsciente

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Os preconceitos sutis, como os que você descreve, são fortes e destruidores. Felizmente, existem habilidades que você pode usar para enfrentar um preconceito inconsciente. Eu sugiro três dicas:

1) Não silencie
Não apenas sorria e se mantenha totalmente passiva. Quando você experimentar uma interação preconceituosa diga: “Posso falar sobre o que disse? Às vezes, você me dá feedback que parece mais pessoal do que um feedback que você daria a uma outra pessoa. Por exemplo… Você já fez, ou recebeu comentários assim?” O objetivo é começar um diálogo aberto, honesto e respeitoso que crie compreensão e respeito.

2) Mantenha o ambiente seguro
Evite rotular ou acusar os outros. Em vez disso, suponha que as pessoas têm intenções positivas, a menos que seja comprovado o contrário. Conseguir um melhor resultado para o futuro exige que ajudemos aos outros e a nós mesmos a nos sentimos seguros enquanto abordamos problemas difíceis.

3) Indique o seu caminho
As pessoas bem preparadas têm o cuidado de descrever as suas preocupações, ausentes de julgamentos e acusações. Por exemplo, substitua: ‘O que você disse era sexista e abusivo’’, por ‘‘sexta-feira passada, você disse: essa é a última vez que mandei uma mulher para fazer o trabalho de um homem.’
Descreva o que realmente aconteceu sem desculpas, sem auto-repressão e sem acusações. Comece com os fatos detalhados, apontando o que eles significaram para você, então convide outros para um diálogo onde todos possam aprender.

foto: reprodução

Cartilha de diversidade e inclusão da Usiminas

Nesta Cartilha de Diversidade e Inclusão da USIMINAS vemos um instrumento exemplar criado para que todos trabalhem com liberdade e respeito uns pelos outros. Segundo informam, desde 2019, quando implantado, o Programa de Diversidade e Inclusão Usiminas “vem ajudando a transformar a realidade da empresa com diversas ações e com a atuação dos grupos de afinidade dos cinco pilares: equidade de gênero, LGBTI+, gerações, pessoas com deficiência e raça e etnia.”

Aprendamos com as dicas que esta valiosa cartilha oferece no quesito “Gerações” e que tem a ver com o preconceito etário no trabalho:

“Diversidade é convidar para a festa e inclusão é tirar para dançar”. (Verná Mayers – Consultora americana de D&I).

O que não dizer?
Tão novo e já quer ser promovido?
Está há tão pouco tempo na empresa e já quer crescer?

O que dizer?
Seu crescimento e desenvolvimento serão proporcionais às suas entregas.

O desenvolvimento e o crescimento de uma pessoa em uma empresa devem estar baseados em sua performance e entregas, não na sua idade.

O que não dizer?
Você não está muito novo ou muito velho para esse trabalho? Ou para usar essa roupa? Ou para ir para esse lugar?

O que dizer?
Vá em frente, faça o que te faz feliz.
A idade não é um limitador para a pessoa ser quem ela quiser. A idade é apenas uma de suas muitas características.

O que dizer?
• Estou aprendendo sobre uma nova tecnologia: Gostaria de estudá-la comigo?
• Independentemente de sua idade, é possível desenvolver habilidades.
• Vamos aprender juntos!

O que não fazer
• Agir baseado em estereótipos relacionados à geração de alguém.
• Pensar que alguém não é capaz de fazer algo apenas por causa da sua idade.
• Ridicularizar ou diminuir alguém por causa da sua idade.

O que fazer
• Oriente o colega novo da equipe, independentemente da sua idade e o ajude, caso precise.
• Ajude e ensine seus colegas a fazer atividades que você domina e eles não.
• No caso de jovens profissionais, como aprendizes, estagiários e trainees, acolha-os na equipe de braços abertos, dê sugestões e os ajude em seu desenvolvimento profissional.
• Coloque-se no lugar do outro e pense que você já teve a idade de alguém mais novo ou ainda chegará na idade de alguém mais experiente.
• Estimule a interação entre colaboradores de diferentes idades.

Conclusão

Como vimos, o enfrentamento positivo do preconceito etário no trabalho além de possível é um processo que cabe a todos nós. Uma situação nova e delicada que surge em nossas vidas e que nos demanda atenção e trabalho.

Mas sei também que a vida nos deu estrutura e sabedoria suficientes para sermos bem sucedidos na construção/reconstrução de um bom relacionamento com os nossos colegas e chefes.

Nota
[1] A. Simons; Kapoor e Solomon, em Understanding and managing generational differences in the workplace.

Foto destaque de Ron Lach/Pexels


Silvia Triboni

Repórter, Advogada com MBA em Gestão Pública pela FGV, residente em Lisboa, Portugal, 64 anos. Criou o projeto Across the Seven Seas, cujo objetivo é o desenvolvimento do protagonismo sênior. É palestrante e membro da rede internacional Aging2.0. Faz parte da Consultoria Longevida, especializada na área do envelhecimento. Empreendedora, levou para a nação lusitana o curso brasileiro Repórter 60+ Portugal.

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Repórter, Advogada com MBA em Gestão Pública pela FGV, residente em Lisboa, Portugal, 64 anos. Criou o projeto Across the Seven Seas, cujo objetivo é o desenvolvimento do protagonismo sênior. É palestrante e membro da rede internacional Aging2.0. Faz parte da Consultoria Longevida, especializada na área do envelhecimento. Empreendedora, levou para a nação lusitana o curso brasileiro Repórter 60+ Portugal.

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