Quando falamos de aumento da capacidade adaptativa, falamos de mudança de hábitos de movimentação, de amortecer a queda de forma mais eficiente, evitando contusões e fraturas.
Por Claudio Cotter (*)
Comecei minha carreira de fisioterapeuta trabalhando com reabilitação de atletas e com técnicas de reeducação postural, mas o que realmente sempre me fascinou foi mudar a percepção que as pessoas têm da realidade, mudar seus padrões de comportamento e conduzi-los à cura, que vai além da sessão, ocorre em cada mudança de hábito de movimentação, acontece quando o (a) paciente percebe que ao lidar com as situações difíceis da vida de forma mais leve, a tensão muscular diminui e a dor não aparece.
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Aumentar a capacidade adaptativa é uma virtude que se pode desenvolver em qualquer fase de vida. É um processo de mudança de percepção, hábitos e até de compreensão sobre a realidade. As pessoas usam frases como: “Já estou muito velho (a) para isto!” ou “Depois de uma certa idade não adianta que não vou mais aprender!” e não percebem o quanto estão criando limitações para sua própria evolução.
Pode haver muita história por trás de uma queda que provoca uma fratura. Há alguns anos, comecei a atender junto com minha equipe um paciente já beirando os 80 anos e, ao perceber que ele havia caído duas vezes para o mesmo lado, e em uma delas fraturou o ombro e na segunda o punho, ficou claro que teríamos que ir mais fundo para entender os reais fatores que estavam gerando as quedas.
A constatação veio a partir da avaliação do médico neurologista, de que realmente havia um processo degenerativo da inervação que comanda as pernas. Com o paciente já consciente do quadro e com a medicação ajustada, nossa conduta foi focar na melhora do padrão de caminhada, equilíbrio e mobilidade geral do corpo.
Um corpo rígido também tem mais dificuldade de se equilibrar, pois qualquer instabilidade ou irregularidade do solo vai exigir adaptações do corpo que a rigidez não vai permitir. É só pensar que nos países com risco de terremoto os prédios e pontes são mais flexíveis; na sua fundação são usadas molas para que a maleabilidade do material absorva a movimentação do solo, para minimizar as rachaduras ou até possíveis quedas.
Nosso corpo é igual, ao nos desequilibrarmos dependemos de um certo “molejo” para nos reequilibrarmos. Caso o corpo esteja muito rígido, essa adaptação não acontece e caímos facilmente. Assim, o trabalho de ganho de mobilidade global ajudou muito esse paciente para que ele não caísse mais, assim como a outros pacientes, que relatam que mesmo quando caem são capazes de amortecer a queda de forma mais eficiente, evitando uma série de contusões e fraturas.
Quando falamos de aumento da capacidade adaptativa, falamos de mudança de hábitos de movimentação, falamos de integrar essa mudança na rotina. Um treinamento físico qualquer pode ter seu valor, mas aprender novos movimentos e usá-los no dia a dia vai provocar mudança real no corpo, na percepção do mundo a sua volta, além de tornar a pessoa idosa capaz de fazer atividades que nunca imaginou antes.
(*) Claudio Cotter é graduado em Fisioterapia, Pós-graduado em Medicina Psicossomática. Coautor dos livros Cura pelo hábito – Uma reflexão da vida e Cura pelo hábito – Guia prático. É sócio-fundador da CM.2 Clínica multidisciplinar. Formação em tratamentos posturais (Método Busquet e RPG); Ex-fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Futebol de campo Feminino (CBF); ex-consultor da Mizuno e ultramaratonista. Instagram: @fisiocorredor / @curapelohabito / @cm2clinica. Sites: www.clinicamultidisciplinar.com.br e www.curapelohabito.com.br. Youtube: https://www.youtube.com/@fisiocorredor, https://www.youtube.com/@curapelohabito6393. E-mail: [email protected].
Foto destaque de David Vives/pexels.