Como o apoio familiar, profissionais dedicados e o cuidado com o corpo e com a história permitiram que meus pais envelhecessem com dignidade.
Ana Beatriz Pondé (*)
Durante 13 anos, vivemos o impacto silencioso e profundo do Alzheimer. Meu pai, que sempre foi o pilar da organização da casa e do cuidado da nossa família, começou a dar sinais da doença em 2013. A partir daí, tudo mudou — não só para ele, mas para todos nós, a família.
Minha mãe, que nunca havia assumido sozinha os aspectos administrativos da vida familiar, se viu diante de uma avalanche de responsabilidades. E foi aí que, como filhos, nos reunimos para garantir que nossos pais pudessem continuar vivendo juntos, com dignidade, no conforto do lar onde construíram suas memórias. Uma casa que, para meu pai, se tornou mais do que abrigo — era referência, orientação, segurança emocional.
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Sabemos que o Alzheimer desestrutura. Desorganiza o tempo, a memória e a rotina. Mas o que poucos falam é o quanto essa doença também exige um esforço coletivo para que o idoso possa manter sua autonomia e qualidade de vida pelo maior tempo possível. E foi isso que fizemos.
A cada etapa da doença, revezávamos entre médicos, burocracias, contas, decisões difíceis. Mesmo com recursos financeiros, nada disso teria sido viável se não estivéssemos presentes. O apoio da família — constante e comprometido — fez com que meu pai e minha mãe pudessem seguir juntos, em casa, cercados de tudo aquilo que os fazia sentir que ainda pertenciam à própria história.
O cuidado: entre a técnica e o afeto
Mas há um capítulo especial nesse percurso: o da fisioterapia.
A fisioterapeuta que acompanhou meu pai durante todos esses anos foi mais do que uma profissional de saúde. Ela foi escuta, presença, companhia e, muitas vezes, o elo entre a técnica e o afeto.
Meu pai nunca havia praticado exercícios físicos antes da doença. Sempre priorizou o trabalho, a manutenção da casa, a criação dos filhos. Com o Alzheimer, porém, a fisioterapia entrou em cena — e transformou sua rotina. Ele se animava com as sessões, compartilhava memórias, músicas da infância, histórias da juventude. E ela o escutava, cantava com ele, construía cada exercício respeitando seu histórico e suas limitações.
Mais do que movimentar o corpo, ela cuidava da mente e incluía toda a família nesse processo. Chamava os filhos, envolvia minha mãe, criava um ambiente seguro e participativo. Até o fim, foi a única que ele permitia manipular seu corpo. A única capaz de colocá-lo na cadeira de rodas, levá-lo até a sala para um momento diferente, fazê-lo tomar sol com uma boina que ele amava, um óculos escuro, uma roupa bem escolhida. Momentos simples, mas que fizeram toda a diferença.
Ela cantava para ele. Observava alterações clínicas. Me alertava com sensibilidade sobre mudanças físicas que exigiam atenção médica. Foi ela quem me falou com carinho sobre cuidados paliativos. Quem me preparou para aceitar o fim. Quem esteve lá — até o fim — garantindo não só conforto, mas dignidade.
A presença dela não foi só terapêutica. Foi transformadora.
E é por isso que hoje, olhando para tudo o que vivemos, eu reconheço: mesmo com estrutura financeira, meus pais não teriam tido essa qualidade de vida se estivessem sozinhos.
E muitos idosos estão.
É por isso que nasceu a Gestão Pessoal da Terceira Idade — do desejo de transformar em serviço aquilo que minha família teve como privilégio: apoio real e constante. Organização, presença, cuidado com os detalhes, solução de pendências, intermediação com médicos, com planos de saúde, com cuidadores — tudo o que um idoso precisa para continuar vivendo com tranquilidade mesmo sem uma rede familiar disponível.
A história dos meus pais não precisa ser exceção. Ela pode inspirar uma nova forma de cuidar.
Uma forma que respeita a autonomia, que entende a casa como parte do tratamento, que une técnica e afeto, e que reconhece: envelhecer bem é possível — mas não precisa ser solitário.
Essa é a história que me move. E é ela que quero multiplicar.
Serviço
A Gestão Pessoal da Terceira Idade é um apoio estratégico que atua nos bastidores, organizando a rotina, resolvendo burocracias, protegendo contra golpes, acompanhando a saúde e muito mais. https://www.instagram.com/reel/DKaaVAOShoB/
(*) Ana Beatriz Pondé é criadora da Gestão Pessoal da Terceira Idade, uma solução inovadora que traz mais leveza, segurança e qualidade para o dia a dia das pessoas idosas. Tem ampla experiência em gestão e organização. E-mail: [email protected]
Foto de Mario Wallner/pexels.