Programa “Abuelas Cuentacuentos”: um exemplo intergeracional

Contar histórias é uma arte para poucos? Entendo que não, basta ter uma boa história, vontade, e sonhos no coração. Parece uma ideia romântica, mas assim é, com simplicidade e nada de sofisticação.

 

 

programa-abuelas-cuentacuentos-um-exemplo-intergeracionalBons olhos para um contador é fundamental, expressam emoção, vibração a cada palavra contada e sonhada que toma forma e pulula na alma de quem as ouve. Ouvidos afiados também são imprescindíveis, ouvir a própria história e sabê-la ouvida dá ritmo ao contador, oscilações na voz, altos, baixos, graves e agudos, como a letra e música cantada. Tocar um livro que acolhe uma história, e não importa qual seja, aquece as mãos fazendo os dedos brincarem naquele vai e vem de palavras que formam frases “falantes”. Melhor ainda se for um livro usado e tiver múltiplos rabiscos e anotações, saberemos que muitas pessoas passaram por ali, por aquelas páginas e deixaram suas marcas, suas assinaturas. Não esqueçam que um bom paladar é bom para todo bom contador de histórias: as palavras depois de tateadas, lidas e ouvidas precisam ser degustadas, vagarosamente, pois os gostos e aromas invadem o local do contador e seu ouvinte, levando-os para bem longe, tão longe que só a fantasia poderá revelar o esconderijo exato dessa dupla.

Bem, esta introdução foi para apresentar o projeto de escritor argentino Mempo Giardinelli, “Abuelas Cuentacuentos”, traduzindo “Avós Contadores de Histórias. É dele a frase “as pessoas jamais deixarão de se interessar pelo que lhes contam bem contado”.

A inspiração para o projeto veio de uma visita que Giardinelli fez à Alemanha em meados dos anos 90. Lá ele conheceu, casualmente, um grupo de idosos que visitavam hospitais e outras instituições para ler histórias e poemas para pacientes terminais, aliviando-os assim da dor do fim de suas vidas. Do impacto de ver a forma como estas pessoas ajudavam no entendimento de uma “boa morte”, nasceu a ideia de que a leitura de contos poderia ajudar, também, para o desenvolvimento de um “bem viver”. Com isso, o escritor argentino convenceu-se que organizar a população idosa do país para contar histórias resgataria um velho hábito e incentivaria as novas gerações, das classes mais pobres, a se interessarem pela leitura.

A reportagem explica o processo de desenvolvimento do programa: “No projeto, avós e avôs visitam escolas periféricas e contam histórias para alunos de Educação Infantil e de Educação Fundamental. As histórias não podem ser narradas. Os contadores de histórias recebem material de orientação, capacitações periódicas com profissionais de teatro, com contadores de história profissionais, técnicos de pedagogia da leitura, psicólogos especializados na relação do afeto intergeracional, entre outros.”

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“Os avós dividem responsabilidades na gestão do projeto. Eles selecionam, entre as escolas interessadas, quais atendem ao perfil definido pelo projeto e combinam dias, horários e turmas que serão atendidas. Cada “contação” de história dura 50 minutos e vários recursos são utilizados, como bonecos, lousa, objetos. Há também uma discussão do grupo sobre o tema, procurando associações com conteúdos e outras histórias e enfatizando a importância da leitura. O trabalho dos contadores é voluntário.”

Assim, em 1999, formou-se o embrião da ideia de criar o “Programa de Abuelas Cuentacuentos”. A premissa era levar leituras aqueles que começavam a vida, os pequeninos, dando-lhes uma oportunidade de acesso ao livro e seu respectivo direito a leitura.

Beby Giardinelli (1936-2005) foi uma das primeiras voluntárias do programa. Os primeiros testes foram realizados de forma isolada em 2000. Em 2001, o programa foi lançado oficialmente e em 2002 foi sistematizado, alcançando outras cidades.

Desde então o programa cresceu e se tornou o que é hoje, um dos esforços prioritários da Fundação Mempo Giardinelli e um dos seus programas mais emblemáticos e reconhecidos.

O incentivo a leitura acertou uma questão fundamental: a valorização do idoso. A população envelhece a passos largos, numa velocidade impressionante. O aumento da expectativa de vida e a diminuição do número de filhos por família faz com que aumente a proporção da população mais velha em todos os países, o efeito é mundial.

Muitos idosos encontram no programa de Mempo Giardinelli, uma forma de se sentirem produtivos, pertencentes a algo importante para eles e para o desenvolvimento educacional do outro. Além disso, a presença dos idosos nas escolas e sua relação direta com estudantes leva também a outros debates. O convívio intergeracional ajuda a desenvolver o autoconhecimento das várias gerações, a lidar com as diferenças de cada fase da vida, pensar e praticar a tolerância e ajudar crianças e adolescentes a entenderem melhor a importância dos idosos na sociedade.

Referências
DIÁRIO DO GRANDE ABC (2011). Contadoras de histórias. Disponível Aqui. Acesso em 16/10/2011.
FUNDAÇÃO MEMPO GIARDINELLI. Abuelas Cuentacontos. Disponível Aqui. Acesso em 17/10/2011.

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