As referências históricas ao diálogo são muito relevantes hoje – elas chamam a atenção para a fala, a escuta e a intenção. As palavras combinam com minhas experiências de processo dialógico.
Harlene Anderson (*)
Certo verão, visitei a antiga corte da chancelaria do século 12 na pequena cidade italiana de Lucignano, Itália. A Chancelaria era onde os juízes tomavam decisões sobre a cidade e a vida das pessoas. Ao entrar por uma porta em arco, percebi que era um lugar especial, com um teto abobadado deslumbrante e afrescos nas paredes. Atravessei a sala até onde os juízes deveriam estar sentados e me virei para olhar para a entrada em arco. Meus olhos foram imediatamente para cima do arco onde em cada lado havia uma escultura de parede de dois anjos brancos soprando uma trombeta, com palavras em latim fluindo deles.
As palavras tinham o objetivo de lembrar os juízes de seu papel: de um lado, “Fale pouco, ouça muito e mantenha seus objetivos em mente” e, de outro, “Ouça o outro lado”. Eu pensei ‘uau’, essas referências históricas ao diálogo são muito relevantes hoje – elas chamam a atenção para a fala, a escuta e a intenção. As palavras combinam com minhas experiências de processo dialógico.
CONFIRA TAMBÉM:
Aqui, concentro-me no aspecto gerador do processo dialógico: as ações intra-relacionadas de falar, ouvir, responder, escutar e compreender (Anderson, 2016).
Falo para convidar a outra pessoa a falar, para que eu possa ouvir sua história e responder ao que acho que ouvi, e para entender o que eles querem que eu entenda da melhor maneira possível, visto que nunca poderei entender completamente outra pessoa.
Estas-Ações intra de processo dialógico, em parte, proporcionam às pessoas a oportunidade de falar e ouvir-se-ininterruptamente, sem julgamento, talvez como eles não foram capazes de fazer antes. Em nenhum lugar o diálogo e a aceitação do outro são mais importantes do que hoje, neste templo
incrivelmente sensível e incerto – com a intensa visibilidade das histórias trágicas de racismo e violência desumanos.
Diálogo refere-se a qualquer meio pelo qual comunicamos, expressamos, articulamos nossos significados – em palavras ou ações – para compreender nossos parceiros de conversa e a nós mesmos (Anderson, 2007). Eu quero me envolver com outras pessoas em uma investigação mútua – perguntando cuidadosa e ponderadamente com elas sobre sua história, um assunto que é importante para elas.
No inquérito mútuo, eu quero ser espontaneamente sensível a eles, como eles contam a sua história, e não fazer perguntas pré-estruturadas, nem deliberadamente procurar uma solução ou resolução, mas juntos desenvolver algo, levando em consideração que eles tenham participado na criação, por exemplo, de um novo significado, satisfatório, ou um possível. A participação na criação de novidades, seja dramática ou quase imperceptível, leva a um sentimento de pertencimento.
Nossos modos de ser e de nos tornarmos são essenciais para convidar ao diálogo que é mais, em vez de menos, gerador. Isso requer atenção à presença, atitude, tom, tempo, paciência, cuidado, espontaneidade, flexibilidade, não saber, incerteza, mutualidade, abertura, relacionamento e apreciação e valorização da diferença.
As cinco intra-ações (falar, ouvir, responder, escutar e compreender) intra-trama apoiam uma posição ética de participação com a outra pessoa. Como sugeriu John Shotter, intra enfatiza que nada existe em separação de qualquer outra coisa, mas existe em relação a. Tudo está conectado.
Como disse antes: Falo para convidar a outra pessoa a falar, para que eu possa ouvir sua história e responder ao que acho que escutei e entender da melhor maneira possível. É assim que participo na sua narrativa e recontagem, e é o processo de onde surge a “novidade”. Em outras palavras, devo ser um parceiro de conversa ou diálogo atencioso e receptivo.
Combinadas, essas intra-ações convidam à presença do outro, a um sentimento de que se sente respeitado e digno de contar sua história e de ser ouvido e escutado. Isso começa a criar um senso de nós com.
Referências
Anderson, H. (2016). Listening, hearing and speaking: Brief thoughts on the relationship to dialogue. Psychological Opinions. Spring 2016. www.psychological-opinions.gr, 7:10-14.
Anderson, H. (2007). Dialogue: People creating meaning with each other and finding ways to go on. In H. Anderson & D. Gehart (Eds.). Collaborative therapy: Relationships and conversations that make a difference, (pp. 33-41). New York: Routledge.
Shotter, J. (2009). Listening in a way that recognizes/realizes the world of ‘the other.’ International Journal of Listening. 23, 21-43.
Para ler o artigo completo clique aqui.
(*) Harlene Anderson – Cofundador e membro do conselho do Taos Institute. Tradução livre de Sofia Lucena. Para quem queira se aprofundar um pouco mais a respeito, tem um texto da mesma autora publicado em português, no Pepsic, chamado Algumas considerações sobre o convite ao diálogo.