Por que pessoas idosas com demência tem preferência por doces e frutas?

Por que pessoas idosas com demência tem preferência por doces e frutas?

Mudanças no cérebro causadas pela demência impactam áreas responsáveis pelo controle do apetite e das preferências alimentares.


Thais Bento Lima da Silva e Maria Antônia Antunes Fernandes (*)

Alterações nas preferências alimentares de pessoas idosas com demência são uma característica comum, especialmente quando observamos uma predileção por doces e frutas, como as bananas. Esse fenômeno pode ser explicado por fatores neurológicos e comportamentais, que afetam diretamente a relação dessas pessoas com a alimentação.

Em primeiro lugar, é importante entender que as mudanças no cérebro causadas pela demência impactam áreas responsáveis pelo controle do apetite e das preferências alimentares. Ikeda e colaboradores (2002) relatam que o lobo frontal e a amígdala, regiões que regulam o comportamento alimentar e a percepção do sabor, sofrem deteriorações ao longo do avanço da demência. Isso leva os indivíduos a perderem parte do controle sobre suas escolhas alimentares, favorecendo uma maior preferência por alimentos doces.

Essa busca por doces também está relacionada ao sistema de recompensa do cérebro. Alimentos ricos em açúcar, como frutas doces, estimulam a liberação de serotonina, um neurotransmissor associado à sensação de prazer. Em pessoas com demência, essa liberação pode oferecer momentos breves de bem-estar, o que faz com que elas busquem mais esses alimentos (Mungas et al., 1990).

Entre as frutas, a banana se destaca por ser naturalmente doce e apresentar uma textura macia e de fácil mastigação, o que a torna uma escolha ideal para pessoas que enfrentam dificuldades na deglutição — problema comum em estágios mais avançados da demência. A combinação do sabor agradável e facilidade de consumo faz com que a banana seja amplamente preferida por esse público (Ikeda et al., 2002).

Vale ressaltar que essa mudança de comportamento alimentar não ocorre apenas em casos de pessoas com doença de Alzheimer, mas também em outros tipos de demência, como a demência vascular. Em uma pesquisa sobre o padrão alimentar pessoas idosas com doença de Alzheimer e demência vascular (Mungas et al., 1990),  mostrou-se que pessoas com essas condições apresentam um padrão alimentar semelhante, com maior inclinação para alimentos ricos em açúcar, o que reforça a ideia de que essas preferências estão ligadas a fatores neurológicos.

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As preferências alimentares dos pacientes são moldadas por fatores neurológicos e práticos, e entender essas mudanças é fundamental para que cuidadores possam oferecer uma alimentação adequada e prazerosa, contribuindo para uma melhor qualidade de vida. Lembre-se de que nutrição e alimentação são diferentes: uma dieta equilibrada deve incluir vitaminas, minerais, proteínas e carboidratos. As pessoas idosas, por exemplo, podem precisar de mais proteínas, e a nutrição deve ser adaptada às necessidades individuais de cada um (Manual para Cuidadores da Doença de Alzheimer, 2021).

Respeitar os hábitos alimentares é importante e enriquecer lanches com vegetais e laticínios saudáveis pode fazer toda a diferença. Fique atento à perda de apetite, que pode indicar problemas de saúde. Por fim, para pessoas idosas em estágios leves, incentivá-los a participar das refeições em um ambiente calmo, com instruções claras, pode ser muito benéfico.

Referências
Mungas, Dan et al. Dietary preference for sweet foods in patients with dementia. Journal of the American Geriatrics Society, v. 38, n. 9, p. 999-1007, 1990.
Ikeda, M. et al. Changes in appetite, food preference, and eating habits in frontotemporal dementia and Alzheimer’s disease. Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, v. 73, n. 4, p. 371-376, 2002.
Brucki, S. et al. Tudo sobre Alzheimer, 18 de fev. de 2021, 19. Link: https://www.tudosobrealzheimer.com/post/manual-para-cuidadores-da-doen%C3%A7a-de-alzheimer

(*) Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected].
Maria Antônia Antunes FernandesBacharel em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Foi bolsista de iniciação científica PUB do projeto: “Intervenções psicoeducativas para a COVID-19 aliada à estimulação cognitiva no programa USP 60 +”.  Atualmente é colaboradora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP (GETCUSP), atuando na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração. E-mail: [email protected].

Foto de Thgusstavo Santana/pexels.


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