Pessoas idosas frágeis são afetadas pelas manifestações

Idosos que moram nas imediações de quartéis vêm sofrendo com as violências das manifestações da extrema direita, além do isolamento a que se veem submetidos.


Triste república essa nossa em que em uma data comemorativa nacional se permite que grupos de extrema direita desdenhem de sua população, de seus idosos e do sistema democrático de seu país. Foi assim nesse 15 de novembro, quando aniversaria a Proclamação da República. Como outros feriados, esse é, para muitos, um dia de descanso, de se reunir com parentes e amigos. Para os idosos e seus familiares é uma oportunidade de estarem juntos, usufruindo da alegria do encontro, nem sempre possível no cotidiano dos dias normais.

Para aqueles que moram nas imediações de instituições militares, no entanto, o descanso e os momentos de tranquilidade têm passado longe. Há duas semanas seguidas temos recebido vários telefonemas de pessoas pedindo ajuda, pois dia após dia, de manhã à noite, alto-falantes bradam os mais variados hinos e pessoas aos berros proclamam ameaças, solicitando intervenção militar contra o resultado das eleições e clamando, paradoxalmente, por liberdade. Defendem a ideia de que estão em manifestação pacífica, mas, ao contrário, se postam de forma extremamente agressiva, que mais parece um tipo de tortura para aquelas pessoas idosas, especialmente as mais frágeis, que são obrigadas a conviver com tamanho barulho, sem seu consentimento e muitas vezes sem saber o que está acontecendo, mas as deixando muito irritadas e adoecendo a família inteira.

Além do ruído constante, o clima de violência latente agrava a situação. As falas aos berros ecoam dentro das salas onde as pessoas idosas tentam assistir a seus programas favoritos. Nos arredores de uma dessas instituições no interior do Estado de São Paulo, um morador idoso foi obrigado a ir para a casa de parentes, pois não aguentou ficar em sua residência, tamanha a violência sonora a que se viu submetido e a angústia que lhe foi causando dia após dia sem nenhuma interferência de alguma autoridade, sem falar de como começou a ficar isolado pois seus parentes, por medo, não o visitavam mais; a padaria próxima reduziu o horário de atendimento, o ônibus mudou seu itinerário.Uma outra pessoa idosa, em outra localidade também do interior de São Paulo, deixou de ser atendida pelos profissionais de saúde que a acompanhavam diariamente porque, para chegar até sua casa, tinham que passar na frente de um quartel com um amontoado de manifestantes de extrema direita gritando e amedrontando aqueles que por ali tinham que passar.

Acompanhando a rotina de uma senhora idosa, vemos seu sentimento de desconsolo e incredulidade ao ligar para autoridades e ouvir que é uma manifestação legítima e que não há o que fazer, ou que só pode reclamar no período da noite, embora para o Ministério Público Federal, os protestos têm um “caráter antidemocrático”, ao defender que, embora o direito à livre manifestação seja uma das bases da democracia, pedir pela “intervenção das Forças Armadas contra os poderes constitucionais configura crime”. Enfim, como ela, outros muitos são atingidos num momento de vida em que seu sossego deveria ser assegurado pelo Estado e pelas autoridades que o representam e que têm essa como uma de suas funções.

O barulho constante afeta a saúde mental, os transtornos do meio mudam a rotina tanto dos idosos residentes como dos profissionais que atuam nas imediações em seu apoio e cuidados. A sensação de insegurança e desamparo comprometem a qualidade de vida da faixa da população que mais cresce no mundo, inclusive no Brasil, que é contributiva e que pede mais cuidados para uma velhice ativa e plena.

É o momento das autoridades revisitarem seus conceitos e seu papel nessa arena da longevidade saudável, em que a democracia se vê atingida, levando com ela a qualidade de vida de nossos velhos, pois, ao julgar pelas falas propaladas e por sua conformação, tais manifestações e todo o seu contexto de nada são pacíficos e configuram graves formas de violência contra as pessoas idosas, como a violência psicológica, diante das ameaças bradadas de forma genérica, do clima hostil que se propaga aos berros e do sentimento de impotência que toda a situação promove; a violência estrutural, pela sua conformação relacionada ao entorno político social do país e também vemos a negligência por parte das autoridades, que se postam omissas diante desses fatos, que não têm data prevista para acabar.

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Será que as autoridades não tem pais idosos ou outros familiares mais velhos, fragilizados, e que estão sendo severamente afetados por essas manifestações antidemocráticas prolongadas?

Foto destaque de Evelyn Carvajal/pexels.

Obs.: Texto elaborado a partir de diversos relatos de leitores.

Atualizado às 20h32


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