Pequeno Manual Anti-idadista convida à autoeducação e à ação coletiva

Pequeno Manual Anti-idadista convida à autoeducação e à ação coletiva

O Pequeno Manual Anti-idadista apresenta reflexões e práticas que convidam à autocrítica e à ação contra todas as formas de discriminação por idade.


O Pequeno Manual Anti-Idadista é resultado de um esforço coletivo que envolveu 43 autores e autoras de diferentes regiões do Brasil, organizados em 14 capítulos. A iniciativa nasce da urgência de nomear e combater o preconceito baseado na idade, o idadismo, que atravessa relações, instituições e discursos, e que ainda segue naturalizado em diversos espaços da sociedade. O projeto foi coordenado pelo Comitê Executivo formado por Alexandre Kalache, Gilberto Natalini, Lina Menezes e Yeda Duarte, e contou com o apoio do Itaú Viver Mais, “na pessoa de Anna Carolina Carolota Mires, por sua delicadeza e persistência em todo o processo dessa profícua parceria”, como registram os agradecimentos.

O manual apresenta textos que reforçam o sentido político e coletivo da publicação. Ao longo da introdução, Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional da Longevidade (ILC Brasil), escreve que “o idadismo é um ataque à humanidade. A consciência disso, de ter conhecimento do idadismo, não é suficiente. Alegar não ser idadista é simplesmente uma negação. Ser anti-idadista é um compromisso de fazer algo.” Para Kalache, reconhecer o preconceito não basta,  é preciso assumir uma postura ativa, informada e ética. Ele complementa: “Parafraseando Angela Davis – a ativista norte-americana contra o racismo, que afirmou “não basta não ser racista, há que ser antirracista” – não basta não ser idadista, é preciso ser anti-idadista.”

Essa perspectiva atravessa toda a obra,  o  manual discute como o preconceito etário se expressa no cotidiano, nas piadas, nos estereótipos e nas estruturas de poder. Logo no início, os autores Ana Zahira Bassit, Maria da Conceição Soares de Sousa, Mauricio Einstoss de Castro Barbosa e Sérgio Márcio Pacheco Paschoal lembram que “essas atitudes podem afetar todos nós seres humanos, uma vez que independe de gênero, raça, condição econômica, nacionalidade, orientação sexual, condição física, mental e intelectual.” O idadismo, como mostram, é uma forma de discriminação que atravessa fronteiras e ameaça o direito universal ao envelhecimento.

Ao longo dos capítulos, o manual convida à autocrítica. No texto de Ceres Ferretti, Kathya Beja Romero e Yeda Duarte, por exemplo, o leitor é levado a reconhecer os chamados “microidadismos” pequenas manifestações de preconceito internalizadas e repetidas socialmente. As autoras escrevem: “Se existisse um espelho com o poder de tornar o idadismo visível na imagem refletida, é bastante provável que você se espantaria ao ver esse preconceito nitidamente revelado em seu próprio reflexo.” A reflexão é direta ao enfrentamento que começa dentro de cada um, na forma como pensamos, falamos e reagimos ao envelhecimento.

Outros capítulos ampliam o olhar, relacionando o idadismo a outras dimensões das desigualdades sociais. Alexandre da Silva e Karla Giacomin, em “Com quantos ‘Is’ se faz o idadismo”, afirmam que “precisamos ser antirracistas, antissexistas, anti-capacitistas, anti-LGBTistas e anti-idadistas. Este enfrentamento interessa a todas as pessoas.” O texto propõe compreender o idadismo como parte de um sistema mais amplo de opressões e chama atenção para o “i” da indiferença, quando o preconceito é mantido pelo silêncio ou pela passividade.

O manual também aborda a dimensão dos direitos humanos. No capítulo “Uma questão de direitos!”, Bibiana Graeff, Gilberto Natalini, Laura Machado, Lina Menezes e Simone Fontenelle da Silva lembram que “exercer o protagonismo, reconhecer o idadismo dentro de nós mesmos e agir para mudar e ajudar a transformar o outro (…) passa pela questão dos direitos humanos.” O texto reforça que discriminar por idade é crime, e que o combate ao idadismo é parte inseparável da luta por igualdade, justiça e cidadania.

Reunindo diferentes vozes, o Pequeno Manual Anti-idadista busca ampliar a consciência pública sobre o tema e oferecer caminhos concretos para a mudança. “Esperamos que este nosso manual possa inspirar a população e servir de referência a profissionais, entidades, empresas e governos em prol do combate ao idadismo e na promoção de uma postura anti-idadista”, registram os organizadores. O tom é de compromisso, mas também de esperança de que o conhecimento pode impulsionar práticas transformadoras, capazes de alterar a forma como a sociedade compreende o envelhecer.

Lançamento

Lançado no dia 30 de setembro, na Câmara Municipal de São Paulo, o Pequeno Manual Anti-Idadista reuniu autoras, autores e participantes do Coletivo Velhices Cidadãs em um evento marcado pelo engajamento e pela defesa de um envelhecer digno. Entre os presentes estavam estudantes de Gerontologia da EACH-USP, profissionais da área do envelhecimento, pessoas idosas ativas em movimentos sociais e representantes de instituições comprometidas com a promoção de direitos. Mais do que apresentar uma nova publicação, o lançamento simbolizou um marco de mobilização e consciência social em torno do enfrentamento ao idadismo.

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O lançamento na Câmara Municipal simbolizou esse movimento. Foi um encontro intergeracional e político, que reafirmou o papel das pessoas idosas como sujeitos de direitos e agentes de transformação social. Mais do que celebrar uma publicação, o momento marcou o reconhecimento de que combater o idadismo é tarefa de todas as gerações.

Como conclui Alexandre Kalache, “ser anti-idadista significa autoeducar-se, estar disposto a denunciar a discriminação onde quer que a vejamos e ser intransigente em nossa demanda por dignidade plena e cidadania para todos em todas as fases da vida.”

O Pequeno Manual Anti-idadista é, assim, uma convocação para que a sociedade reconheça que envelhecer não é um problema a ser resolvido, mas uma conquista a ser protegida. A obra inaugura um tempo de enfrentamento e de construção coletiva, em que o combate ao idadismo se torna parte essencial do compromisso com a vida e com a justiça social.

Acesse o Manual na íntegra:


(*) Texto escrito sob orientação de Beltrina Côrte – Jornalista, CEO do Portal do Envelhecimento. E-mail: beltrina@portaldoenvelhecimento.com.br


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Ana Beatriz Ferraz
Ana Beatriz S. Ferraz

Ana Beatriz S. Ferraz é bacharelanda em Gerontologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente é estagiária no Portal do Envelhecimento e Longeviver. www.linkedin.com/in/ana-beatriz-s-ferraz-a3a7a2132.

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Ana Beatriz S. Ferraz é bacharelanda em Gerontologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente é estagiária no Portal do Envelhecimento e Longeviver. www.linkedin.com/in/ana-beatriz-s-ferraz-a3a7a2132.

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