Parar de tingir o cabelo… e deixá-lo branco? Quem se atreve?

Na minha rede de amizade tenho quatro pessoas queridíssimas que resolveram encarar seus brancos e ficaram belíssimas. Fiquei curiosa e comecei a cutucar, perguntando como isso aconteceu… Conceição, Isabella, Ruth e Celina contam em primeira mão para nossos leitores como foi esse processo. Quem sabe a gente não se anima a assumir de vez nosso cabelo natural.

Beltrina Côrte

 

parar-de-tingir-o-cabelo-e-deixa-lo-branco-quem-se-atreveVocê já reparou que muitas mulheres, e cada vez mais novas, estão assumindo seus cabelos brancos? Olhe à sua volta, no trabalho, na rua, metrô, ônibus, salas de teatro… Observe as fotos do Facebook, da sua rede social, de Maria Bethânia quando do lançamento do seu novo CD “Meus Quintais”, depois de um ano de luto pela morte de Dona Canô? Viram como ela está lindamente grisalha? Ultimamente, tenho lido várias matérias sobre mulheres que se libertaram da “ditadura das tinturas” que tem chegado ao Portal. Por que será que só tenho reparado nesse tipo de matéria agora?

 

parar-de-tingir-o-cabelo-e-deixa-lo-branco-quem-se-atreveTalvez porque esteja ensaiando seguir o mesmo caminho. Por quê? Simples, porque deve ser libertador mesmo, ter coerência com a minha idade cronológica e porque o branco é uma cor linda, não acham? Que o digam todos aqueles que lutam pela paz que tem como símbolo uma pomba/bandeira branca, ou mesmo os profissionais da saúde que adoram um avental branco.

Na minha rede de amizade tenho quatro pessoas queridíssimas que resolveram encarar seus brancos e ficaram belíssimas. Fiquei curiosa e comecei a cutucar, não virtualmente, mas fisicamente mesmo, perguntando como isso aconteceu… Conceição, Isabella, Ruth e Celina contam em primeira mão para os leitores do Portal do Envelhecimento como foi esse processo. Quem sabe a gente não se anima a assumir de vez nosso cabelo natural?

Às quatro amigas, todas leitoras do Portal, fiz as mesmas perguntas: Como foi o processo? O que a levou a assumir os brancos? Qual foi o primeiro impacto ante o espelho? E o impacto na família e amigos? O que aconselha a quem quer assumir os seus brancos? Há alguma espécie de iniciação para não se levar um choque?

Vejam o que elas responderam.

 

 

parar-de-tingir-o-cabelo-e-deixa-lo-branco-quem-se-atreveConceição Souza, formada em Administração de Empresas, com MBA, e membro da Equipe Portal do Envelhecimento – Desejo que acalentei durante um tempo. A decisão foi a partir do meu aniversário, quando completei 60 anos. Saí de férias convicta de que não queria pintar mais o cabelo. Cortei o cabelo. Durante o período “de desbote”, tirava fotos e olhava no espelho constantemente. Lidar com a vaidade foi difícil. Dava medo de não gostar e ter que de novo começar a pintar o cabelo. Olhava no espelho e me achava parecida com a minha mãe! Teria sido péssimo se eu voltasse atrás. Hoje, não me imagino pintando de novo.

Mas meu primeiro impacto ante o espelho foi de curiosidade, estava louca para terminar o desbote e ver o resultado. Aos poucos fui gostando e a tranquilidade de não depender de ir a salão de beleza compensa muito. Bem, eu poderia ter levado um choque com o resultado, mas “paguei pra ver” e aguentei, mas sempre fui muito elogiada pela decisão e coragem.

O que me levou a assumir os brancos foi assumir a idade principalmente, custo de pintar o cabelo a cada 15 dias e/ou viver com o branquinho na raiz aparecendo. Também falta de paciência para frequentar salão de cabeleireira. Foi um alívio porque desde os 30 anos pintava o cabelo. Olhando no tempo, vi que foi uma bobagem tingir o cabelo ao invés de deixar aparecer os brancos naturalmente.

Tive apoio total da família e de amigas, muitas diziam que gostariam de ter a mesma coragem. Houve uma amiga que achou a ideia péssima (a única) e depois gostou do resultado. Os amigos homens não opinaram, mesmo porque muitos já estão com cabelos brancos ou grisalhos.

Para quem quer assumir os seus brancos recomendo fazer um corte médio ou bem curto se for o desejo, pintar numa cor bem clarinha que irá desbotar e não fará um contraste exagerado com a raiz que está crescendo na cor branca. Aceitar e assumir a idade. Cuidar do cabelo com shampoos especiais para cabelo branco. Eu peço ao cabeleireiro para fazer umas mechas bem delicadas na cor preto para não deixar tanto branco e faço este procedimento a cada 3-4 meses. Minha sobrancelha por sorte ainda está na cor preto e assim fica legal. Quando fica grisalho é muito charmoso. Acho que a moda é deixar natural.

parar-de-tingir-o-cabelo-e-deixa-lo-branco-quem-se-atreveIsabella Quadros, psicóloga e mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP. Exerce a psicologia clínica em consultório particular desde 1998 e é sócia da empresa Angatu IDH – A minha decisão em deixar os cabelos brancos veio do cansaço de ter que ir ao salão de 10 em 10 dias para pintar o cabelo. Era uma escravidão! Gastava tempo e dinheiro e comecei a me sentir uma farsa! Além disso, a cor do cabelo ia ficando cada vez mais escura com as sucessivas pinturas e ficava cada dia mais insatisfeita além da certeza de estar me intoxicando com tanta química. Foi difícil deixar o cabelo ficar branco, especialmente quando tinha eventos e reuniões de trabalho, mas estava decidida e abusei da criatividade com lenços e chapéus!

Fui cortando o cabelo (que já possuía um tamanho curto) e o branco foi surgindo a cada dia! Fui me acostumando aos poucos e gostei muito do resultado final! Quando contei para os amigos e familiares, ninguém me apoiou. Fizeram brincadeiras, amigas disseram que não iriam mais sair comigo porque denunciaria a idade de todas e meus pais ficaram preocupados… Risos!

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Atualmente, muitas pessoas elogiam (o incrível é que os amigos apoiaram mais que as amigas!) mas muitas que não me veem a tempos perguntam: “Nossa, como você mudou! Ficou loira?!”, o que demonstra o quanto os cabelos brancos ainda são um tabu, não é mesmo? Dia desses na academia uma colega me pediu para tirar uma foto de mim porque ela queria mostrar para o marido dela e me falou: “Sonho em me libertar da tintura também! Tomei coragem depois que te conheci”. Acho bacana que a minha decisão possa inspirar outras pessoas com os mesmos sentimentos, mas acho mais bacana, independentemente da cor dos fios, poder inspirar as pessoas a serem quem elas quiserem ser sem rótulos ou estigmas!

parar-de-tingir-o-cabelo-e-deixa-lo-branco-quem-se-atreveRuth Gelehrter da Costa Lopes, psicóloga, doutora em Saúde Pública. É professora da PUC-SP – Minha mãe nunca pintou o cabelo. Lembro-me de acompanhá-la passando pelo cinza, depois um branco aloirado e quando ela verbalizava que tinha vontade de pintar, isso não era mais possível porque apareceu a psoríase. Até hoje fico na dúvida se ela desejava realmente pintar, mas a impossibilidade é que suscitava o desejo de fazê-lo.

Quanto a mim, não gostava de me ver ao espelho. Enquanto a henna reproduzia a variação de cores de um cabelo, ainda apreciei, mas já me aborrecendo com a obrigação de a cada 15 dias esconder o sinal que os brancos despontavam. Depois, me olhava no espelho e tinha a impressão de usar um “capacete” de um só tom, junto com a luta para deixá-los menos opacos.

Antes do Natal já parei de pintar o cabelo e passei a usar um gel. Era já uma mudança de estilo, mas mais para escamotear a transição, para ela não ficar muito evidente. Viajei de férias para local com muitas cachoeiras naturais que trataram de retirar a tintura. Voltei para São Paulo e cortei o cabelo curto. As atividades acadêmicas voltaram e me senti muito bem com o novo visual, mesmo recebendo indiretas que deveria voltar a pintar o cabelo.

Aí fui me encantando com as múltiplas possibilidades que se abriam. Passei a brincar com os cortes de cabelo e experimentar estilos. Fui me sentindo mais e mais livre para seguir usando meu corpo como desejava. Vieram as mechas coloridas que ao olhar no espelho me traziam uma boa sensação. As cores de cabelo chamavam para outras composições das roupas.

De repente, percebi que era muitíssimo bem aceita por pessoas que me eram queridas: filhos e amigas. Na rua comecei a receber sorrisos: mulheres, crianças, caixas de supermercados. Os comentários também eram elogiosos e os pedidos de orientação para poderem reproduzir, aumentaram muito.

Curiosamente, não vejo ninguém reproduzir o meu visual!

Não tenho nenhum desejo de voltar a esconder os cabelos brancos. Eles estão menos rebeldes e combinam bem com meu estado de espírito atual: me sinto muito mais livre dos julgamentos estéticos.

parar-de-tingir-o-cabelo-e-deixa-lo-branco-quem-se-atreveCelina Dias Azevedo, formada em Biblioteconomia, mestre em Gerontologia e doutranda em Ciências Sociais pela PUC-SP – Eles estão onde devem estar… Com a mesma naturalidade que passei a tingir meus cabelos – lá se vão pelo menos 25 anos – resolvi deixá-los em paz. Nesses anos experimentei torná-los avermelhados, “blonde”, castanhos claros, fiz luzes e mechas californianas. Diverti-me a ponto de esquecer que a ideia era “cobrir” os brancos.

Do mesmo jeito que os cobri, quis descobri-los … simples assim!!

Nenhum impacto? Claro que sim! Depois de 60 dias sem tintura nos cabelos, quando as raízes ficam muito aparentes, ouvi de minha mãe – que, diga-se de passagem, em seus 83 anos nunca entrou em um salão – que estava com aparência desleixada. Respirei fundo, porque realmente parecia que havia esquecido uma parte importante de minha “toalete”, mas já sabia que queria os “meus” cabelos de volta. No cabelereiro, os profissionais tinham sempre uma nova ideia para interromper a irrupção dos brancos e “disfarçá-los” inconformados que estavam com minha decisão.

Comparo aqueles momentos com um clássico: Fla x Flu; Corinthians x Palmeiras; Cruzeiro x Atlético.

Depois de 18 meses sem tintura e com, pelo menos, 80% dos cabelos brancos, habituei-me no cotidiano, e não considero isso de todo mal por serem ações positivas, com ofertas frequentes de assentos no transporte público ou lugar na fila preferencial do aeroporto. Nesses momentos, e não posso deixar de refletir sobre isso, percebo claramente como o envelhecer é associado à fragilidade, como – no senso comum – o que é considerado sinal de envelhecimento está, ainda, intimamente/ automaticamente ligado à fragilidade, mesmo diante de uma imagem que contraria essa ideia.

Meu companheiro, há muito, tem lindos cabelos grisalhos nas têmporas e, até onde sei, charmoso é um adjetivo constante quando se referem a ele. Foi dele que recebi os primeiros elogios e reforço positivo que, atualmente, surgem de conhecidos e, também, de desconhecidos, que qualificam meus cabelos brancos de charmosos; recebo dicas de shampoos especiais; mulheres me abordam – já me aconteceu até no supermercado – e confessam que desejariam “ter a minha coragem”!

Descobri que roupas coloridas, tão na moda, caem muito bem com cabelos grisalhos.

Quando me olho no espelho, gosto do que vejo e vou…. saboreando!!

Rumo a uma Convenção?

Após esses depoimentos tão sinceros e super empolgantes, estou até pensando em organizar via o Portal do Envelhecimento uma convenção, tal qual já existe lá fora, só para mulheres de cabelos brancos, grisalhos, prata… seria bárbaro, não? A ideia está lançada!

Nas próximas edições traremos outras matérias sobre este tema. E se você quiser contar como foi para você, encaminhe email para [email protected] relatando o seu processo. Acredito que os testemunhos, tais quais os de minhas amigas, são fontes inspiradoras para mobilizar gente indecisa como eu em relação a assumir os fios prateados que teimam em crescer e aparecer!

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