Pesquisadora conclui que alimento pode contribuir na prevenção e no controle de desordens metabólicas. A conclusão é de uma tese de doutorado desenvolvida na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp pela pesquisadora Rafaela da Silva Marineli Campos, com orientação do professor Mário Maróstica Junior.
Patrícia Lauretti * Fotos: Antonio Scarpinetti
O consumo da semente ou do óleo de chia pode não favorecer o emagrecimento como muitos acreditam, mas, ainda assim, faz muito bem à saúde. A conclusão é de uma tese de doutorado desenvolvida na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp pela pesquisadora Rafaela Marineli Campos, com orientação do professor Mário Maróstica Junior. Os estudos foram desenvolvidos em animais que tiverem a chia acrescida na dieta. Além de verificar os efeitos benéficos no organismo dos animais, a tese também fez a caracterização química da semente e do óleo de chia e identificou a capacidade antioxidante das matérias-primas.
Embora a semente já tenha se tornado popular entre aqueles que buscam uma dieta mais saudável, ainda não havia nenhum estudo sobre o óleo de chia, conforme Rafaela apurou, e inclusive as investigações sobre a semente ainda precisavam ser aprofundadas em aspectos que o trabalho focou.
Os animais usados na pesquisa foram divididos em 6 grupos: controle magro, controle obeso, animais alimentados com dieta adicionada de semente de chia em período longo de 12 semanas e curto de 6 semanas; e animais alimentados com dieta adicionada de óleo de chia em período longo e curto. “Trabalhamos dois grupos em duas frentes, com o óleo e a semente, além dos grupos de controle”, resume Rafaela.
Com o objetivo de aferir se apenas o consumo do alimento ajudaria a emagrecer, as dietas continuaram oferecendo gorduras e açúcares. “Deixamos todas as dietas com o mesmo teor de energia e substituímos a quantidade de óleo comum de soja, pelo óleo de chia ou semente de chia. A quantidade de fibra ficou igual para todos os animais e, da mesma forma, o teor lipídico e energético ficou semelhante”.
As diferenças no tempo de introdução da semente e do óleo durante seis ou doze semanas teve como objetivo simular a prevenção e o tratamento das comorbidades, ou implicações da obesidade, a partir da ingestão do alimento na dieta. “Dois grupos receberam a chia o tempo todo concomitantemente à dieta obesogênica para ver se a semente ou o óleo preveniam complicações relacionadas à obesidade, e outros foram ‘engordados’ primeiramente com uma dieta obesogênica sem chia para depois receber a semente ou óleo com o objetivo de tratamento”.
Foram avaliados vários parâmetros nos animais, como ingestão alimentar, ganho de peso, peso de tecidos adiposos e órgãos, perfil lipídico e hormonal séricos, perfil de ácidos graxos plasmático, marcadores inflamatórios séricos, conteúdo de lipídeo hepático e fecal, resistência à insulina, tolerância à glicose, estresse oxidativo, peroxidação lipídica, capacidade antioxidante plasmática e hepática.
A obesidade gera uma inflamação. Trata-se de uma doença crônica não transmissível e alguns alimentos têm o poder de diminuir essa inflamação. A pesquisa comprovou que a chia é um deles. A inflamação decorrente da obesidade foi reduzida bem como os marcadores anti-inflamatórios foram aumentados. Em relação ao estresse oxidativo, responsável pelo envelhecimento, o efeito é semelhante: houve redução da peroxidação lipídica, que é a acumulação de lipídios em alguns órgãos, e aumento da capacidade do sistema de defesa antioxidante.
Outros resultados positivos referem-se à resistência à insulina, tolerância à glicose e aos níveis de colesterol, problemas que também podem estar relacionados com a obesidade. “A dieta ‘obesogênica’ fez com que os animais desenvolvessem dislipidemia, que é o aumento do colesterol ‘ruim’, redução do colesterol ‘bom’ e aumento do colesterol total. Esse desequilíbrio está relacionado às doenças cardiovasculares e a chia reverteu isso”, comemora a pesquisadora. As análises apontaram aumento da concentração de ácidos graxos ômega-3 no sangue dos animais, sobretudo aqueles relacionados à redução do risco de doenças cardiovasculares”.
Os resultados entre os grupos que receberam a semente ou o óleo entre seis ou doze semanas foram os mesmos, ou seja, o estudo mostrou que seis semanas já são suficientes para que as alterações nos marcadores aconteçam.
A pesquisadora
Graduada em Nutrição pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas-PUC (2009). Mestre em Alimentos e Nutrição pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (2012). Doutora em Alimentos e Nutrição na área de nutrição experimental aplicada à tecnologia de alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (2016). Atua na área de compostos bioativos e lipídios. Desenvolve pesquisa na área de nutrição experimental, doenças relacionadas a obesidade induzidas por dieta, análise/composição de alimentos, caracterização de compostos bioativos e alimentos funcionais.
Saiba mais sobre esta pesquisa: Disponível Aqui
* Patrícia Lauretti escreve para o Jornal Unicamp.