Oficinas de Narrativas com Cremilda Medina no Espaço Longeviver

A professora sênior da USP60+ compartilha mais uma vez um bocadinho do seu saber com quem quer aprender a escrever… Ortografia, sintaxe, semântica, morfologia, esqueçam, apenas escrevam sem medo e sem censura.


Bom, eu sei escrever. Aprendi há anos. Tenho graduação, extensão, pós… Pois é, a gente só descobre que pode melhorar muito nossa escrita quando nos deparamos com pessoas como Cremilda Medina. Entrar em contato com sua técnica, beber do seu saber é puro encantamento. A professora extrai das pessoas o que elas têm de melhor. Primeiro deixa todo mundo à vontade com um discurso que diz mais ou menos assim:

O que menos importa é a gramática, até porque só existem duas leis na linguística, a eufonia e a comodidade fisiológica. Ortografia, sintaxe, semântica, morfologia, esqueçam, apenas escrevam sem medo e sem censura. Bote no papel tudo o que vier à mente. Esvazie a cabeça. Pode engolir pronomes, artigos, conectivos e sinais de todo tipo: travessão, parênteses, colchetes, aspas e exclamações, são enfeites desnecessários. Despolua o texto e a mente. Escreva. Da cabeça para o papel, sem filtro e sem censura.”

É uma maravilha, verdadeiro canto da sereia ouvir isso da boca de uma professora da USP, uma das melhores da ECA de todos os tempos. Cremilda Medina, 77 anos, forma-se em Jornalismo e Letras pela UFRS e muda-se para São Paulo quando a USP abre seu primeiro mestrado, entra na academia e dela não sai mais. Em 1975 se torna a primeira mestre latino-americana com seu projeto de pesquisa Estrutura da Mensagem Jornalística. Sua contribuição científica ao jornalismo é inestimável e praticamente todos os profissionais que atuam hoje no Brasil receberam influência dela. É com esta mulher que você faz três oficinas no Espaço Longeviver que mudará seu jeito de escrever. Para melhor, obviamente.

Bom, esta Cremilda oficineira que diz não existir o errado para quem domina a arte da narrativa e a mesma que revelará os vícios de linguagem que carregamos às pencas; dirá como nossa mente está formatada para descrever o mundo dentro de um padrão extremamente limitado, lógico-analítico, ou seja, nossa narrativa é uma análise descritiva, parte a parte e conceitual, com muito juízo de valor sobre o que nos propomos escrever.

Você não escreve assim? Tem certeza? Brincando Cremilda demonstra que 90% das pessoas correspondem a este padrão. E qual seria o padrão ideal para uma mente fértil e criativa? Quem gosta de ler e escrever enfrenta este probleminha, tem uma grande ideia, uma boa história para contar, uma sacada incrível, mas sua narrativa é… lógico-analítica. Mas sua narrativa pode evoluir, pode se tornar motor-operacional, com cenas em movimento, fluidas, com mais ação e pode até alcançar um patamar de qualidade indescritível para a maioria, sabe quando você visualiza sonho e quer levá-lo para o papel? Alcançamos o patamar intuitivo-sintético, a terra das metáforas, das figuras de linguagens, das sínteses, da identificação íntima.

Você não escreve assim? Tem certeza? Brincando Cremilda demonstra que 90% das pessoas correspondem a este padrão. E qual seria o padrão ideal para uma mente fértil e criativa? Quem gosta de ler e escrever enfrenta este probleminha, tem uma grande ideia, uma boa história para contar, uma sacada incrível, mas sua narrativa é… lógico-analítica. Mas sua narrativa pode evoluir, pode se tornar motor-operacional, com cenas em movimento, fluidas, com mais ação e pode até alcançar um patamar de qualidade indescritível para a maioria, sabe quando você visualiza sonho e quer levá-lo para o papel? Alcançamos o patamar intuitivo-sintético, a terra das metáforas, das figuras de linguagens, das sínteses, da identificação íntima.

Núria Torrentes é extremamente criativa. Formada em Direito e Psicologia, é escultora e artesã, faz tudo com paixão e criatividade, quer escrever suas memórias e busca um curso alternativo de jornalismo no SESC, faz, mas ainda sente falta de um algo mais. Descobre o curso de narrativas: o curso proporciona tudo aquilo que imagino e espero. Agora minhas memórias vem e vão, num movimento infinito, e cada vez que são avivadas, por um objeto, uma foto ou uma carta, parece que um mar de água se abre e por pouco, muito pouco, não vira um tsunami. 

Repare que mesmo se referindo a uma técnica usada pela professora em uma das oficinas, Núria narra o processo por meio de metáforas, não se limita a descrever o que pede a professora e como executa tal pedido. 

A socióloga Maria do Carmo, sobre a Oficina de Narrativas, diz ser um privilégio participar porque é um evento de rico aprendizado, com a experiência e o talento para transmitir conhecimentos da mestra Cremilda, e a prazerosa convivência com um grupo formado por pessoas muito especiais, que gostam de escrever.

Com a palavra, Maria Ligia: sou jornalista há mais de 30 anos, formada pela PUC-SP. Cremilda Medina é um nome familiar por conta da minha profissão. Tenho vários amigos orientandos dela na USP, algo que, assumo, provoca uma certa inveja. Para compensar a lacuna, talvez, tenho na minha prateleira alguns livros da professora. Um deles, lembro, comprei por conta do título: Entrevista, o diálogo possível. Volta e meia recorro aos seus ensinamentos. Fazer as oficinas, mais do que uma oportunidade de bons encontros, troca de saberes e experimentos de escrita, significa, para mim, uma forma de voltar um pouco aos bancos da faculdade de jornalismo e a reflexões sobre os significados desse ofício.

Nilcéia Nigro é Pedagoga e Dramaturga: Os encontros com a professora Cremilda Medina despertaram-me para novas criações e me sinto mais livre e solta para escrever. Fui picada pelo bichinho do quero mais e quero mais escrever.

Selma de Freitas, Assistente Social: Chego ao curso de narrativas mobilizada pelo desejo de explorar novas áreas de conhecimento, desejo este realizado através do curso ministrado pela professora Cremilda Medina.

Rita Amaral, Pedagoga: Trabalho com memória autobiográfica, com grupos de idosos. Tenho interesse em melhorar a escrita pois utilizo histórias de vida e crônicas nas minhas intervenções. Esta preocupação me leva ao curso de narrativas da professora Cremilda Medina e a ajuda é inestimável.

Ana Elisa fez Cinema na ECA e é professora de línguas: No curso de narrativas da  professora Cremilda Medina aprendo a narrar e a interagir com outras narrativas, aprendendo que narrar é viver.

Sueli Zola: Sou jornalista formada pela PUC há 40 anos. Fiz muitas reportagens e textos sem nunca ter escrito uma linha sequer fora dos parâmetros da profissão. Amante da literatura, desejo me libertar desse modelo e dar asas à imaginação. Aposentada, decido arriscar e faço o curso de narrativas da professora Cremilda Medina com a expectativa de alçar voo… Viajo na memória. Escrevo menos do que pretendo, todavia cruzo espaços longínquos, vejo belas paisagens nas narrativas dos amigos, compartilho emoções e lembranças, degusto sabores; e aprendo, com todos os sentidos, o que é o signo da relação. E começo a preparação para decolar.

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Teria mais mil depoimentos de alunos de todas as idades e profissões encantados com as oficinas de narrativas da professora. Uma delas é extremamente difícil porque estamos de tal maneira apegados ao passado que escrever no presente chega a nos parecer errado. A professora nos convida a presentificar o texto, torná-lo vivo e atual. Presente só existe um, mas pretérito são quatro e usá-los como ferramentas de escrita é um vício terrível.

O pretérito imperfeito é o preferido dos narradores, pois dá a ideia de movimento, um evento passado que ainda não acabou, parece muito legal, mas é passado do mesmo jeito. O pretérito simples mata o texto, enterra em um tempo passado e tira toda sua graça. Tem ainda o pretérito perfeito composto, um horror, e o mais-que-perfeito, bonitinho, mas pouco usado.

Vivemos presos ao passado porque simplesmente não sabemos presentificar. Temos medo do presente e arrastamos o leitor para o passado quando 90% de um texto pode ser presentificado e se tornar vivo e atraente. Não importa quando ocorre a cena, o evento, presentifique e verá como a narrativa ganha vida. Nesta frase, o vício me manda escrever: Não importa quando ocorreu a cena… mas escrevo ocorre em vez de ocorreu, é treino, oficina de narrativas.

Qual é o lugar do narrador? Esta discussão proposta por Cremilda Medina é uma das mais ricas. Como democratiza este lugar para não cair na tentação de se colocar como um Deus onipotente. O autor e o narrador são o mesmo sujeito? Um narrador desatento trata o leitor como estúpido e é rejeitado prontamente. Não tem nada pior do que diálogos explicativos:
– Filho venha já aqui – chama a mãe bravamente.
– Já vou – diz o filho que continua a ignorá-la.

Exagerei, mas encontramos coisas assim o tempo todo, principalmente quando se trata de descrever emoções, como se o leitor não fosse capaz de perceber sozinho.

São poucas oficinas, mas se vê tanta coisa que em uma matéria é difícil enumerar. Redundâncias, os famosos pleonasmos, usamos o tempo todo e sem necessidade. Muitas vezes pensamos que fica bem na frase, enfatiza. O leitor sente náuseas. Já, que, tal, muito, como etc. são ervas daninhas numa narrativa. Sem contar os verbos conjugados e o gerúndio indiscriminado. Como evitar essas armadilhas? Palavras repetidas no mesmo parágrafo ou no seguinte, advérbio de intensidade a exaustão, pronomes em demasia, ufa.  

Para quem gosta, é divertido descobrir como narramos e como podemos narrar. Dá para melhorar? Muito. Da água para o vinho, diria. Acontece comigo. Hoje escrevo mil vezes melhor do que escrevia antes das oficinas com Cremilda Medina. E sinto um prazer imenso ao ver o quanto evoluí. As oficinas hoje estão ao alcance de todos no Espaço Longeviver. Veja informações do curso na parte final deste texto.  

Em tempo
Cremilda Medina acaba de ser indicada pela ECAUSP para o Troféu Mulher Imprensa na categoria Contribuição Acadêmica ao Jornalismo. Para votar clique: http://www.portalimprensa.com.br/trofeumulherimprensa/14edicao/votacao_contribuicao_academica_jornalismo.asp

Saiba mais


Esta Oficina terá momentos pedagógicos nas três unidades:
1. Proposição da temática;
2. Laboratório;
3. Discussão e sistematização da unidade.

Inscrições abertas e vagas limitadas: https://edicoes.portaldoenvelhecimento.com.br/produto/oficina-de-narrativas/

Mário Lucena

Jornalista, bacharel em Psicologia e editor da Portal Edições, editora do Portal do Envelhecimento. Conheça os livros editados por Mário Lucena.

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