O Que Está Por Vir: a aceitação, o conformismo, a velhice, a morte, o abandono… o quê?

O velho morre de três causas principais, doenças cardiovasculares, câncer e queda, o que será que o futuro nos reserva? Abandono? Não há nada de filosófico nisso…


Nathalie (Isabelle Huppert) é uma professora de filosofia bem resolvida e que surge nas primeiras cenas do filme franco-alemão O Que Está Por Vir feliz com sua família, o marido também docente e um casal de filhos, de férias na Bretanha. Imagens lindas não faltam. Algumas lembram cenas de A Noviça Rebelde. A história é um pequeno drama dirigido por Mia Hansen-Love tratado com sabedoria e leveza, um ótimo programa com pinceladas de cenas cotidianas que levam a filosofia para longe.  

– Reconquistei minha liberdade de maneira extraordinária: meus filhos foram embora; meu marido me deixou; minha mãe morreu…

O que Nathalie fará com essa liberdade são outros quinhentos. Vamos deixar a crítica convencional tratar desse filme e destacar duas histórias paralelas que vale a pena acompanhar.

A mãe de Nathalie (Edith Scob) gosta de chantageá-la, indiferente ao drama vivido pela filha, sempre que pode interrompe sua rotina manipulando seus sentimentos. O marido (André Marcon) toda vez alerta Mathalie para o jogo materno como se ela não soubesse: tudo bem, me diga o que faço, deixo-a morrer?

Por fim Nathalie se convence que o melhor a fazer é colocar a mãe em uma ILPI (Instituição de Longa Permanência) e é lá que a mãe vai morrer, adivinhem como? Caindo. Mas isso é completamente secundário e só quem está de olho no envelhecimento vai perceber o jogo de palavras, as ironias.

– Mamãe, o pessoal me contou que a senhora não tem saído do quarto, não tem convivido com os demais hóspedes.

– Minha filha, não dá, só tem velhos…

A velhice está em discussão o tempo todo. Nathalie herda a gata da mãe, mas não pode cuidar, precisa doar, mas quem se interessa por uma gata preta, velha e gorda?

Nathalie se surpreende com a saída de casa do marido e seu único amigo é um ex-aluno (Roman Kolinka) para quem confessa que não vai querer outro velho na sua vida, que está melhor sozinha.

O filme é uma delícia, inteligente, altos papos filosóficos, uma tensão constante devido aos contatos dela com um grupo de anarquistas alemães, é um jogo de atrito entre teoria e prática, fantasia e realidade.

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Destaque para o foco no mercado editorial. Nathalie é ensaísta, tem seus tratados, seus livros de filosofia que vendem cada vez menos enquanto os livros do seu ex-aluno, anarquista, vão bem obrigado. Ela visita o editor e sai com dez livros embaixo do braço. A mocinha do caixa a alcança na rua e a trata como uma ladra: a senhora não pagou. Mas é meu livro. O escritor tem 50% de desconto, não existe mais uma cota gratuita. Novos tempos.

Nathalie prega a revolução, mas fura a greve da educação, porque o que está por vir ninguém sabe. 

Ah, antes que eu esqueça, apesar de ter reconquistado a liberdade de um jeito extraordinário, Nathalie convive com um vazio imenso que só é preenchido quando se torna avó.

Atualizado em 02/11/2020 às 18h41

Serviço
Filme O que está por vir
2016 / 1h 38min / Drama
Direção: Mia Hansen-Love
Elenco: Isabelle Huppert, André Marcon, Roman Kolinka
Nacionalidades França, Alemanha


Mário Lucena

Jornalista, bacharel em Psicologia e editor da Portal Edições, editora do Portal do Envelhecimento. Conheça os livros editados por Mário Lucena.

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