O paciente centenário de Lisboa

O paciente centenário de Lisboa

Centenário vivendo com HIV mostra a importância da intersecção entre infectologia e longevidade


Havia apenas 4 meses tinha completado 100 anos, e morreu de maneira serena dormindo em sua casa acompanhado de seus familiares. História de um paciente de Lisboa que poderia exemplificar o contexto de muitos centenários de nossa comunidade, mas que nesse caso é um pouco diferente, porém extremamente ilustrativo.

Isso porque ele descreve um dos primeiros relatos (mas não o único) de uma pessoa centenária vivendo com HIV. E aproveito esse episódio para falar da importância dessa intersecção entre infectologia e longevidade no Dia Mundial de Combate à AIDS. 

Muitos de nós vimos essa transformação do vírus, partindo de uma situação extremamente fatal ou quase uma sentença de morte, para uma condição de saúde crônica. Hoje as pessoas vivendo com HIV tem a possibilidade de envelhecer e sua expectativa de vida é similar à da população que não vive com essa condição.

Entretanto, costumo dizer que hoje não é o HIV que mata, e sim o preconceito: a chamada sorofobia, manifestada de inúmeras formas, seja em discriminação em eventos sociais, na família, no trabalho e culminado com restrições em interações e isolamento social.

Tudo isso ocorrendo mesmo com as revoluções científicas dos últimos anos com a evidência de que uma pessoa com carga viral indetectável teria ZERO chances de transmitir o vírus mesmo em relações sexuais desprotegidas. Em outras palavras, é mais seguro ter sexo com uma pessoa vivendo e tratando adequadamente o HIV do que com alguém que desconhece seu estado sorológico.

Por isso, o caso de Lisboa corrobora com o movimento de redução de estigmas e violências. Há de se recusar o silêncio de se viver com HIV, porque enquanto for visto apenas como a “Doença do Outro”, nós continuaremos dividindo as pessoas em vítimas, culpadas, legítimas e desviantes. 

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O grande Betinho dizia que não é a perspectiva de morte que dá sentido à nossa existência. Pelo contrário, é a de VIDA. E nesse caso do paciente de Lisboa resgato que só vivemos se houver futuro, solidariedade e cidadania. 

Batalhamos para que o envelhecimento digno, com qualidade e direitos seja possível para todos e por isso, vamos lembrar que o senhor simpático na capital portuguesa queria viver, assim como sua professora em Recife, seu amigo no Rio de Janeiro, seu médico em São Paulo, sua irmã em Fortaleza e você: todos nós podemos viver com HIV!

Saiba mais em: www.miltoncrenitte.com.br 

Referência
Pintassilgo et al. BMC Infectious Diseases (2020) 20:290 / https://doi.org/10.1186/s12879-020-05020-8

Foto destaque de cottonbro studio/pexels


Milton Crenitte

Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

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Médico Geriatra, Doutor em ciências pela USP. Coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do HCFMUSP. Professor de curso de medicina da Universidade de São Caetano do Sul. Voluntário da ONG Eternamente SOU.

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